Intolerância, baixaria de todos os lados, muito fígado e nenhum cérebro. Assim tem sido o cotidiano da crise. Um clima de litígio aguçado cotidianamente na sede do Poder Executivo da República. Ali, a presidente Dilma Rousseff promove comícios travestidos de cerimônias oficiais em que a plateia – e ela própria – aplaude a incitação ao ódio, embora finja pregar o diálogo.
Na semana passada foram três. Um para lançar mais uma etapa do programa Minha Casa Minha Vida, que, embora reduzido na oferta e muitíssimo menor do que o prometido em campanha, forneceu combustível suficiente para os brados repetitivos de “não vai ter golpe”.
Depois vieram artistas e seus manifestos recheados de lugares comuns e falsidade intelectual, chegando ao cúmulo de equiparar a hipótese de um impeachment constitucional ao golpe de 1964 e ao regime de exceção implantado pelos militares, há 52 anos.
Para fechar a semana, Dilma reativou a adormecida reforma agrária, para a qual pouco ou nada fez em seus cinco anos de mandato, e distribuiu áreas desapropriadas a movimentos sem terra e quilombolas.
Ouviu, sem esconder a excitação, discursos exaltados com promessas de luta incansável para frear o seu impedimento.
Nos dizeres dos líderes dos autointitulados movimentos sociais, pipocaram desaforos à Justiça, personificados no juiz Sérgio Moro, condutor da Lava-Jato, que tantos incômodos tem trazido ao governo, ao PT e aliados e, em especial, ao ex Lula.
Dilma, a primeira mandatária, que deveria zelar pela instituição da Presidência, não fez nem cara feia.
Pior. Em vez de buscar baixar o tom, acusou os seus opositores: “eles exercem a violência, nós não”. Isso, poucos minutos depois de ouvir a incitação à violência feita pelo representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides Santos, ao se referir a deputados da oposição. “Vamos ocupar as propriedades deles, as casas deles no campo. Vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles.”
Assim como a maior parte dos interlocutores do governo e do PT, Dilma fala como mocinho e age como bandido.
Não que isso seja novidade. Ao contrário, é prática reincidente do petismo que se agudiza quando diminui o estoque de balas no coldre.
O mesmo PT que se vangloria de ter tirado o Brasil da miséria tergiversa sobre a crise econômica que sua fome de poder criou. Que desemprega e empobrece o país aos níveis de 25 anos atrás.
Fala como mocinho quando diz que conferiu independência ao Ministério Público – algo feito pela Constituição de 1988 que o PT não endossou – e à Polícia Federal. E, como bandido, busca obstruir investigações.
Diz-se inimigo das elites. As mesmas que custearam o projeto de poder do PT, hoje enroladas, denunciadas ou encarceradas. As tais elites, as mesmas que Lula sempre xingou em público e adulou no particular. As mesmas com as quais se locupletou.
Chamam de golpe o que sabem que não é. Culpam – como fez Lula – a Lava-Jato pelo caos na economia. Falam de diálogo, pregam a intolerância. O eterno “nós x eles”.
Sem saída, preferem não crer que o mundo de mocinhos x bandidos se esgota na infância. E que opostos absolutos, esquerda x direita, vermelho x amarelo, há muito se perderam em milhares de tons.
É nessa imensidão de cores que vive a democracia. E ela não tem cor.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 3/4/2016.
Seriam ‘ELES’ os petistas?
O inconsciente coletivo move campanhas de opinião que apelam para medidas extremas. São manifestações de insanidade gregária, travestidas de ações da sociedade civil, em cujos becos e desvãos escuros se acumula a energia que alimenta a onda de violência que atinge a todos.