Vergonha do STF, vergonha do PSDB

Foi – está sendo, porque ainda não terminou – um dia pesadíssimo, esta quarta-feira, 23 de setembro. O dólar bateu em R$ 4,15, o maior valor de toda a História. Houve, como a Mary registrou, “nova rodada de mentiras da presidente Dilma – que transformou em ação anti-impeachment a reforma ministerial que seria para cortar gastos”.

Pior do que tudo: o Supremo Tribunal Federal esquartejou a Lava Jato. Com os votos dos petistas históricos Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, mais os simpatizantes Edson Fachin, Teori Zavascki e  Rosa Weber, e ainda os independentíssimos Cármen Lúcia e Marco Aurélio, ficou determinado que o grupo que vem magnificamente investigando o assalto ao Estado e às estatais cometido pelo lulo-petismo – o juiz Sérgio Moro à frente – não será mais o responsável pelo prosseguimento dos trabalhos.

É aquela velha máxima maquiavélica posta em prática. Era “dividir para governar”. Agora é: dividir para pior investigar. Dividir para fazer pizza, muita pizza,

***

É coisa ruim demais num dia só, mas o desgoverno Dilma Rousseff tem tido bastante disso: são muitas notícias ruins demais no mesmo dia. A cada dia, um monte de notícias ruins. Vamos de mal a pior, a vaca está afundada no brejo, e o gigante adormecido levantou-se num ataque de sonambulismo e está diante do precipício.

Mas, para mim, em especial, uma notícia deste dia de tantas notícias escabrosas é o fato de que 50 dos 51 deputados do PSDB votaram contra a razão, contra o que é certo.

50 dos 51 deputados do partido em que eu voto desde que ele existe (e ao qual outro dia me filiei, pensando que talvez pudesse ajudar Andrea Matarazzo nas prévias para a escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo) votaram a favor da destruição das bases do chamado fator previdenciário.

O fator previdenciário foi uma das maiores conquistas dos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Houve muitas grandes conquistas nos oito anos do governo FHC, mas o fator previdenciário foi uma dos maiores.

Pode aparentemente ser um tanto complexo, difícil de compreender, mas na verdade é bem simples. Na verdade, é a coisa mais simples do mundo. É mais simples do que entender que 1 + 1 dá 2.

No mundo todo, nos países ricos, nos países emergentes, até nos países mais pobres, tem havido, ao longo das últimas décadas, reformas para diminuir as benesses do sistema de Previdência. Por um fato muito simples de se entender: há mais pessoas ficando velhas, e menos pessoas entrando no mercado de trabalho para financiar a Previdência.

A população está envelhecendo. Então, é preciso que as pessoas trabalhem mais anos, botando dinheiro no cofrinho, para que o cofrinho pague as aposentadorias.

O certo, o óbvio, é aumentar a idade mínima de aposentadoria. Se estamos vivendo cada vez mais, então temos que trabalhar um pouco mais antes de parar e ficar vivendo da Previdência.

Fazer a população entender essa obviedade é difícil. Claro. Dizer pra neguinho que, agora que a expectativa de vida dele não é mais em torno de 60 anos, e sim de 70, e que portanto ele precisa trabalhar mais, não é uma coisa para ser bem recebida – e os sindicatos todos, todos eles ligados ao PT, é claro, farão e fariam o maior escarcéu: estão roubando os direitos dos trabalhadores!

O governo Fernando Henrique conseguiu uma vitória maravilhosa ao, diante da impossibilidade de aumentar a idade mínima para aposentadoria, propor o tal do fator previdenciário.

É assim um acordo de cavalheiros, bem simples. Se você concordar em só aposentar aos, digamos, 65 anos, você receberá 100% do valor que vamos fixar como sua aposentadoria.

(Não vou entrar aqui em discussão sobre as imensas, absurdas, a rigor inaceitáveis diferenças entre a forma de aposentadoria dos funcionários públicos e dos trabalhadores das empresas privadas. Deveria, mas não vou.)

***

Tenho para mim que meu exemplo pessoal é perfeito.

As leis da Previdência diziam que, após 35 anos de contribuição para o INSS, o sujeito poderia se aposentar.

O fator previdenciário relativizou um pouquinho as coisas. Tipo assim: aos 65 anos, se você tiver pago 35 anos de contribuição, pode se aposentar recebendo o total do valor fixado pelo governo. (Muito menor do que o que eu tinha pago ao longo da maior parte da vida, mas não quero discutir isso.)

O fator previdenciário estabeleceu assim: se você quiser se aposentar antes dos 65 anos, antes da hora, você pode – mas receberá apenas uma parte do valor máximo da aposentadoria.

Você leva uma vantagem, e então por isso você ganha menos.

Meu Deus do céu e também da terra, isso é absolutamente justo! Você aposenta mais cedo, e ganha menos. Se você se aposentar mais tarde, ganha mais. É absolutamente justo! Acho que nem é preciso desenhar.

Euzinho, por exemplo, aposentei aos 56 anos de idade. Foi uma escolha minha. Acho corretíssimo, absolutamente correto, não ganhar tudo o que uma pessoa que se aposentou aos 65 anos ganhe.

***

Este ano, o Congresso, numa atitude absolutamente irresponsável, doidivana, louca, aprovou uma fórmula que, a rigor, acabava com o fator previdenciário, bela bandeira do PSDB, o partido que luta por um Estado responsável – nem forte demais, nem fraco demais.

Dilma Rousseff vetou a coisa irresponsável, idiota, suicida.

E o que fizeram os deputados do PSDB, o partido que criou o fator previdenciário?

Para ser contra Dilma, votaram pela derrubada do veto.

50 dos 51 deputados do partido no qual sempre votei, desde que ele foi  criado, e ao qual me filiei outro dia mesmo, votaram contra o que é certo para o país. Por politicagem pura e simples, para espicaçar a presidente idiota.

50 dos 51 deputados do PSDB votaram contra o que é certo.

***

Botei no Facebook o nome dos ministros do STF que esquartejaram a Lava Jato: Dias Toffoli, Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski.

Não me animo a ir atrás do nome dos 50 deputados do meu partido que votaram de forma vergonhosa, indesculpável, nojenta.

Faço um brinde ao único deputado tucano que, nesta votação, entendeu que uma coisa é a adversária moribunda, Dilma Rousseff, e outra coisa, muito diferente dela, é o Brasil.

Chama-se Samuel Moreira.

Não consigo entender por que 50 deputados do PSDB votaram contra o fator previdenciário.

Não consigo entender por que alguém que permanece no PSDB ataca uma das maiores conquistas do partido.

Poderiam eles, deveriam eles, todos eles, já que são contra a maneira adulta de tratar a questão da Previdência, se filiar ao PT. Ou talvez ao PSTU.

23/9/2015

6 Comentários para “Vergonha do STF, vergonha do PSDB”

  1. “A população está envelhecendo. Então, é preciso que as pessoas trabalhem mais anos, botando dinheiro no cofrinho, para que o cofrinho pague as pensões dos aposentados”.

    A frase é mais uma pérola do meu amigo tucano. Ele acredita no déficit da previdência coitado. Déficit da previdência é como cabeça de bacalhau, existe mas não se vê.

    O veto da Dilma foi um conselho do FHC.

    Conselho meu, vá ao Rock in Rio lá tem muito coxinha aposentado.

  2. Realmente 1+1=2, mas se considerarmos a contribuição previdenciária de 11% sobre o teto de R$4.663,75 teremos uma contribuição mensal individual de R$513,01. Se fizermos uma poupança mensal, capitalizando os juros de 0,5% ao mês, chegaremos como 1+1 a R$889.884,78 Se começar as 25 anos
    APÓS 35 ANOS DE CONTRIBUIÇÃO ESTA PEQUENA FORTUNA RENDERIA UMA PENSÃO DE R$ 4.449,42 POR MÊS com 60 anos de idade.
    O ESTADO seja de DILMA ou FHC não é tão bonzinho quanto tenta parecer.
    Sejamos de direita mas não ingênuos e resignados.

  3. Não vou entrar aqui em discussão sobre as imensas, absurdas, a rigor inaceitáveis diferenças entre a forma de aposentadoria dos funcionários públicos e dos trabalhadores das empresas privadas. Deveria, mas não vou.
    Porque não????? Deve sim. Os fundos de pensão das empresas privadas não são deficitários?
    Só o INSS?

  4. As carreiras de estado do funcionalismo não pagam somente 11% sobre o teto de R$ 4.663,75, mas sim sobre o total dos seus salários. Não são essas carreiras as responsáveis pelo déficit. Paga-se uma nota preta. Eu contribuí durante 38 anos e os mais novos vão contribuir bem mais de 40. Multiplicando essa contribuição de 11% sobre 100% dos salários totais dessas carreiras, que são mais altos, por um periodo de 38 ou 42 anos, daria uma pensão muito superior à que é realmente paga, caso fosse aplicada na previdência privada. A conclusão é que as chamadas “carreiras de elite” do funcionalismo na verdade ajudam a financiar a aposentadoria das carreiras menor remuneradas, essas sim, deficitárias. As chamadas carreiras típicas de estado teriam um ganho muito maior se pagassem apenas 11% sobre o teto e aplicassem o restante na previdênca privada, como parece que vai ser com os novos funcionários. Ou seja:o estado garante até o valor do teto e quem quiser mais que aplique num fundo privado. Minha aposentadiria seria hoje maior se eu tivesse essa opção na época, em vez de ter minha contribuição “socializada” com as carreiras menor remuneradas. Mas não me importo, sempre fui da elite branca solidária. Como continuo pagando mesmo após a aposentadoria, acho muito altos os descontos mensais de previdência e de Imposto de Renda, 11% mais 27,5%. Mas concordo com o Sérgio Vaz. O fator previdenciário era fundamental para o equilíbrio do caixa da previdência. A falta dele vai resultar num buracão no chamado cálculo atuarial muito em breve. Miltinho, veja que além de elite branca, um coxinha também pode pertencer à elite funcional, no único país em que classe média é chamada de elite.

  5. Uma coisa parece que ficou clara, tanto a previdência pública quanto a privada arrecadam uma fortuna. Esta fortuna é chamada de fundo, este fundo serve para gerar mais recursos se aplicado de forma competente pelo Estado capitalista e seus gestores de plantão. O buracão atuarial no caixa da previdência pública é histórico e tem raízes. O fator previdenciário de FHC e amplamente compactuado pelo veto presidencial da idiota é um remédio neoliberal de equilíbrio de contas, ou seja, um remédio meio amargo que não cura e nem mata.
    Uma lava jato nas contas dos fundos de previdência iria mostrar quantos desvios de
    finalidades se perpetuaram ao longo de 60 anos, a partir do estado novo, com passagens por, JK, a ditadura, nova república, planos Collor Verão, Collor, FHC, Lulinha, e agora a mais xingada.
    Não devemos ensinar nossos netos a acreditar nas promessas do Estado e seus gerentes de plantão. Se quiserem capitalizar, que capitalizem dignamente nossos fundos de previdência. Este papo de custeio e repartição só é aceito pelos enganados da presente classe média, zóio azul, proprietária de celulares e Ipods.
    Nossa geração de aposentados tem uma dívida com nossos netos. A vergonha é receber aposentadoria com o dinheiro dos netos e não com os frutos de 35 anos. Governar bem o Estado é tarefa difícil, como sabiamente escreveu uma amiga dos ’50anos’, assim a entrega da governança em 2018 passa por uma reforma política que permita outras reformas inclusive a da previdência.
    Temos que repensar a sociedade, como um todo, criar novas formas de participação popular que inclua as classes baixas, média a alta, na rua ou na fazenda.
    As siglas partidárias não devem separar nossos sonhos.
    Uma coisa é mais que certa aposentado deveria ter idade legalmente prevista tal como a maioridade penal.

  6. A ministra do STF Cármen Lúcia, declarou que o povo brasileiro sabe o que NÃO quer, porém “as pessoas boas” precisam expressar o que querem — com “a ousadia dos canalhas”.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *