Pollyanna, aquela garota pobre imortalizada por Eleonor Porter num dos maiores clássicos da literatura infanto-juvenil, vivia em universo próprio. Desejava receber uma boneca de presente, mas ganhou um par de muletas. Para não vê-la triste, seu pai lhe aconselhou a ficar satisfeita pelo fato de não precisar de muletas.
Desde então a menina passou a praticar e ensinar às pessoas o jogo do contente, que consiste em sempre imaginar um lado bom nas coisas.
Habitam esse universo muitos membros dos últimos três governos petistas. Não estamos aqui nos referindo apenas ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que foi apelidado de “ministro Pollyanna” por seus companheiros de governo. Aí se incluem nomes como o do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e sua mania compulsiva de desempenhar o papel de Alice no País das Maravilhas inventando PIBs inexistentes e negando todas as crises.
O jogo do contente também tem sido um esporte praticado à exaustão por governistas de calibre mais grosso, a começar pelo ex-presidente Lula, autor de uma frase que nem mesmo Pollyanna seria capaz de criar: “Lá (nos EUA), ela (a crise econômica) é um tsunami; aqui, se chegar, vai ser uma marolinha que não dá nem para esquiar”. Soma-se ao time a presidente Dilma Rousseff, que vendeu ilusões na campanha eleitoral e agora entrega uma mercadoria trágica, e o próprio “realista” Joaquim Levy, cuja previsão sobre a superação da atual crise, já em 2016, é um ato de fé.
A crise econômica é muito mais grave do que eles falam e nada justifica o otimismo que vendem. Está mais próxima da verdade a avaliação do economista João Manoel Cardoso de Mello, segundo a qual a queda do PIB deve ficar entre 1,5% e 3% e o desemprego entre 10% e 12%.
Não há jogo do contente capaz de esconder a tragédia que está se formando. A face mais visível para os brasileiros é a inflação, que faz cair ainda mais a renda familiar, e o patamar do desemprego. Entre jovens de 18 a 24 anos, ele já bateu a casa de 17% no primeiro trimestre do ano. Esse é o lado mais perverso: jovens abandonam a escola para tentar entrar no mercado de trabalho e não conseguem.
Governante nenhum deveria imitar Pollyanna. Todos sabem que a vida das pessoas não muda por meio da venda de otimismo e alegria que não têm relação alguma com o cotidiano. Se ingressam no universo da heroína de Porter é por pura incompetência ou por desfaçatez, com o propósito nítido de esconder do povo a dura e crua realidade.
Só assim pode ser entendida a manobra arquitetada por Lula e Dilma ao tentar criar uma agenda positiva em junho, com o anúncio de programas que certamente não sairão do papel.
Vem aí, portanto, versões recauchutadas do Minha Casa Minha Vida, PAC, Pronatec, Luz para Todos e assim sucessivamente. O governo vai bater o bumbo, fazer oba-oba e tentar criar um clima favorável por meio de bilionárias campanhas publicitárias.
Enquanto isso a incompetência petista está por todo lado, como na falta, em 17 Estados do Brasil, da vacina BCG que protege as crianças recém-nascidas contra a tuberculose. Imunização fundamental que tem que ser aplicada nas primeiras horas de vida.
O alto preço da prática ilusionista já começou a chegar para os petistas. E a um custo trágico para a sociedade brasileira.
A obra Pollyanna, ficção que atravessa o tempo, é recomendada mesmo para os jovens de hoje, mas sua imitação grotesca por parte de Lula e Dilma é uma interminável história de horror.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 27/5/2015.
Mudar a interpretação dos acontecimentos cotidianos, aprender a enfatizar o lado positivo dos fatos, tal como a protagonista Poliana faz com o seu “jogo do contente”.
Quanto menos representação política houver maior é a proximidade de uma vontade geral. Quanto mais representação, mais fácil é que os representantes vendam a pratica e comprem a percepçao do cidadão.
A representação política é inevitável, e isso constitui o mundo político como vontade e representação.
A “coluna Aécio”, que os jornais – PIG – mantiveram oculta sob o som dos panelaços gourmets, têm uma pauta mais elaborada, possui assessoria de imprensa profissional e consultores especializados.
Verdadeiro núcleo ideológico por trás das manifestações. Levam em uma das mãos a ameaça da ação judicial, na outra o único propósito de sua mobilização:Eles querem evitar que o Executivo aprove a proposta de taxação de grandes fortunas e a criação do imposto sobre heranças.
Objetivo, uma barganha. A crise da governabilidade lhes convém.
Seus fundadores, como informa o Estado, são “grandes empresários e executivos do mercado financeiro”. Como sempre, movem-se em defesa de seus interesses específicos, mas não costumam se expor nas ruas. Como sempre, é a classe média despolitizada que lhes serve de anteparo, como massa de manobra ruidosa e insana. Essa é a autêntica “coluna Aécio”, que os jornais mantiveram oculta sob a balbúrdia dos panelaços e dos carros de som.