“O Partido dos Trabalhadores expressa sua solidariedade a João Vaccari Neto e sua família, confiando que a verdade prevalecerá no final.”
O PT perde o pelo mas não perde o vício. Quando o condenado, o indiciado, o acusado, o suspeito não são ainda “heróis do povo brasileiro” e não exibem suas capas de superman e não erguem os seus punhos guerreiros, têm a solidariedade incondicional do partido, o que é bom para cimentar pactos de “omertá”, mas tem pouco a ver com práticas republicanas e democráticas.
A acusação a Vaccari não é jogar papel de bala na calçada nem furar a fila do cinema, é uma acusação séria. Segundo os procuradores do MP, ele desvia recursos para o PT há dez anos.
É pacífico que uma acusação não é uma condenação, e que a presunção de inocência é um princípio pétreo, mas o PT, que se perdeu em debates internos se deveria ou não afastar o secretário do seu posto antes da prisão, coloca em risco a sua reputação (mas que reputação? – você pode perguntar maliciosamente) ao solidarizar-se tão incondicionalmente com um réu.
Se já não fosse uma posição exótica e recorrente do partido sempre solidarizar-se com seus suspeitos, acusados, réus e até mesmo condenados, eis que o líder do partido na Câmara, o espetacular deputado Sibá Machado, aquele para quem a CIA está por trás de tudo, a prisão de Vaccari foi uma “prisão política”.
Há já algum tempo que o PT perdeu o medo do ridículo, e talvez fosse conveniente ao partido pensar em contratar uma empresa de administração de crises, do tipo daquela do seriado televisivo Scandal, pra dar conta do sobrecarregado expediente do partido no item “questões nebulosas”. Não há’ Ruy Falcão nem Sibá Machado que dê conta de carregar esse fardo sozinho.
Estoicamente, Vaccari desta vez se deixou prender sem obrigar os policiais a pular o muro, e disse, serenamente, que já esperava pelas algemas. Sua cunhada, acusada de estar envolvida em alguma de suas “enrascadas” (para usar o vocabulário logístico), até o momento em que escrevo era considerada foragida, e a mulher e a filha tinham algumas coisas a explicar.
O titular deste blog, Ricardo Noblat, citando o repórter Paulo Celso Pereira, já teve oportunidade de mostrar a extraordinária eficácia de Vaccari como arrecadador. Um verdadeiro mão de ouro. E cita:
“Em 2007 e 2009, últimos anos não eleitorais antes de Vaccari virar tesoureiro, o PT arrecadou, respectivamente, R$ 8,9 milhões e R$ 11,2 milhões.”
“Boa parte das doações se originaram justamente de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, como OAS, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC e Galvão Engenharia.”
“Nos dois anos não eleitorais seguintes quando Vaccari já cuidava da grana, a arrecadação disparou: foram R$ 50,7 milhões em 2011 e R$ 79,8 milhões em 2013.”
Na mesma época, apurou o repórter, o PSDB arrecadou R$ 2,3 milhões (2011) e R$ 22 milhões (2013).
Portanto, além do tradicional título de “herói do povo brasileiro”, como os presidiários anteriores, Vaccari carrega mais do que o simbolismo, porque na verdade vale quanto pesa e quanto carrega em segredos.
Toda solidariedade é pouca a um companheiro tão valioso.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 17/4/2015.