Atitude não nos falta!

Criativos, lá isso somos. Ou alguém duvida da criatividade de João Batista Viana, Barão de Drummond?

Seu jogo do bicho, lançado em 1892, e que era ilegal desde o primeiro sorteio (o que não impediu que logo se espalhasse por este imenso Brasil), apesar da concorrência com todas as modalidades de jogo bancadas pelo governo federal, continua a ser o favorito em nossas ruas e há até cidades onde podemos “fazer nossa fezinha” debitando no cartão de crédito e levar o ticket impresso no bolso. Guarde o ticket: vale o escrito!

Já no século XXI criamos algo que, se bem explicado em fóruns internacionais, poderá se alastrar pelo mundo. Digo isso porque sei que a corrupção não é brasileira, ela é global desde tempos imemoriais. Em Roma havia corruptos. Em Atenas havia corruptos.

Só que criativos como o Brasil são pouquíssimos países. Ou vocês conhecem outro lugar com propinas tidas como oficiais? Declaradas, contabilizadas, carimbadas, tudo dentro dos conformes? O petrolão possibilitou essa espantosa modalidade de propinas.

Ambiciosos e cheios de atitude, apesar de a Petrobrás estar no olho do furacão, a saga da corrupção continuou. As doações ao PT prescindiram do petróleo e passaram para a área das palavras: o novo caminho era o empresário contribuir com pagamentos para a ‘Editora Gráfica Atitude’, visando publicidade para suas empresas.

João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, se encarregava do papo com os empresários desejosos de colaborar com o partido. Segundo um dos empresários, Vaccari lhe pediu que “ao invés da realização de doações ao Partido dos Trabalhadores, contribuísse com pagamentos a Editora Gráfica Atitude”.  A editora já fora multada pelo TSE, o que não foi impedimento algum.

O tesoureiro do PT compareceu à CPI da Petrobrás munido de um habeas corpus para não ser obrigado a responder a perguntas desagradáveis.  Desafiou a sorte e, com as bênçãos do presidente do PT, continuou no mesmo cargo.

Quero crer que o senhor Vaccari, dessa vez, esticou muito a corda e que agora, ex-tesoureiro do partido, não terá escapatória, mas digo isso com cuidado, pois aqui, neste gigante recém-despertado, tudo parece possível.

Outras criações verde-amarelas começam a pipocar. Por exemplo, a presidente da República indicar, para o Supremo Tribunal Federal, o nome de um juiz que, na campanha eleitoral de 2010, gravou propaganda pedindo que se votasse nela. Ele justificou o pedido declarando toda sua admiração pela candidata e seu partido.  Como votará se for parar no STF é a pergunta que se impõe.

Mas não paramos aí. Outra criação brasileira parece estar fazendo sucesso. É a guerra dos cabides. O vencedor não é quem tem mais força ou mais cabides. Ganha quem tem a caneta. Estranho, não é? Mas aqui é assim. Tudo muito estranho.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 17/4/2014. 

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