Eu detesto todos os tipos de preconceito, de racismo.
Fiz agora há pouco um texto tão virulento contra a linguagem politicamente correta que me deu vontade de usá-lo aqui como um post.
Foi uma resposta a um comentário absolutamente simpático, nada agressivo, a meu texto sobre um filme maravilhoso, gostosérrimo, Corazón de León, de Marcos Carnevale. É uma comedinha romântica em tudo por tudo brilhante, que conta a história do encontro de uma mulher belíssima com um arquiteto rico, bem sucedido, feliz, resolvido – porém anão.
E então recebi uma mensagem que dizia simplesmente assim: “Boa resenha, mas você critica os estereótipos e depois usa o termo ‘anãozinho’?”
Um comentário simpático. Nada agressivo.
Já recebi comentários tremendamente agressivos de gente que adorou um filme de que não gostei e me chama de imbecil, idiota, ignorante só porque não gostei do filme que ele ou ela adorou. Tudo bem, eu também chamo muita gente de imbecil, idiota, ignorante. Mas…
“Boa resenha, mas você critica os estereótipos e depois usa o termo ‘anãozinho’?”
Me pegou como um soco no fígado. Ou no rim. Onde doer mais.
***
Não acho que a resposta que dei deva ficar apenas lá, escondidinha, entre os comentários a respeito do delicioso Corazón de León. A resposta mostra o que penso sobre essa história toda de linguagem politicamente correta.
Aí vai minha resposta. Omito o nome de quem me mandou o comentário – que, repito sempre, é simpatico, numa boa, tranquiilo – exatamente porque não tem nada a ver com minha reação.
É mais ou menos assim (não consigo deixar de tentar melhorar um pouquinho, aqui e ali; ninguém revê seu texto e deixa de tentar melhorá-lo):
Ahnnn… Como é mesmo? Acho que não entendi direito o que você disse.
Eu critico o fato de as pessoas não enxergarem com naturalidade aquelas que não são como o padrão. Critico o fato de as pessoas terem preconceito contra quem é baixinho, altão, magrinho, gordão, gago, feio, Critico quem fala mal de quem é diferente da maioria, ou do padrão.
E aí vale para tudo: critico quem é contra homossexual, quem é contra heterossexual, quem é contra preto, amarelo, vermelho, branco, o que for for. Whatever.
Critico qualquer um que acha que uns são melhores do que os outros.
Não tem nada a ver com o uso da palavra anãozinho.
Não tem nada a ver com o uso de qualquer palavra.
Não tenho preconceito contra qualquer palavra. As palavras signficam coisas. A gente pode (e até deve) odiar o que elas palavras significam: preconceito, racismo, miséria, fome, dor, desespero, exclusão – mas não tem qualquer sentido odiar palavras.
Tenho profundo desprezo, nojo mesmo, por essa história do politicamente correto. Essa mania de achar que algumas palavras são ofensivas – e aí usar outras expressões que teoricamente seriam menos ofensivas.
Ofensivo à dignidade da pessoa humana é chamar o anão de “portador de nanismo”, ou “portador de deficiência de crescimento”, ou qualquer outra expressão idiota assim.
As pessoas de pele negra são negras, ou pretas, da mesma maneira como as pessoas de pele mais clara são brancas – não vai aí nenhum ataque, nenhum preconceito, nenhum racismo.
As palavras não são racistas, não são preconceituosas.
Aquela garotinha de pele negra que botei no alto do post, linda, linda, é absolutamente tão linda quanto minha neta, que tem aí essa pele clara, e até esse cabelo claro. As duas são tão absolutamente lindas quanto. Afrodescendentes? Isso é palavrão. Mas, sim, minha neta descende de africanos – meu avô paterno era filho de negros. Minha neta ainda não pensa nisso, mas eu tenho orgulho disso.
Mas e daí? E daí?
E daí nada. E daí que se formos chamar todas as pessoas que têm algum pé na África, teremos que todos somos afro.
Chamar um negro de afrodescendente me parece tão idiota quanto evitar a palavra câncer e dizer algo como “aquela terrível doença”
Um intelectual negro dos anos 60, não tenho certeza se era James Baldwin, tinha horror à expressão “coloured”, “de cor”. De cor?, ele perguntava? Qual cor? Vermelha? Verde? Ah, preta… Então por que não dizer preto?”
Por que, raios, ficou politicamente incorreto chamar as coisas pelo que as coisas são, com as palavras que estão aí, sempre estiveram aí, para definir as coisas?
Quem é preconceituoso é quem usa de sofismas para dizer que as palavras são preconceituosas.
***
Ahn… Devo confessar que mexi bastante no texto que enviei para a pessoa simpática que mandou um comentário legal, normal, numa boa, ao meu site de filmes.
Aí vai o final da mensagem que mandei para ele (este pedaço vai sem edição, sem reescrever):
Desculpe se me alonguei um pouco. Mas o seu comentário pegou no meu fígado como um soco do Mike Tyson. Sabe o Mike Tyson? Aquele afrodescendente de tamanho avantajado?
Ou, na língua normal, na língua das pessoas, aquele negão?
27 de fevereiro de 2015
Excelente sou seu fã amigo!
Se não me engano, esse tal de politicamente correto foi inventado pelos liberais americanos. A esquerda de lá. E foi copiado pela esquerda de cá. Acho uma chatice essa mania de ficar chamando favela de comunidade, contrabandista de sacoleiro, prostituta de garota de programa. Desconfio também que foi desse mesmo ninho que nasceu o horrível presidenta. Já o afrodescendente cheira um pouco a racismo enrustido.
Concordo com Servaz e com Luiz Carlos Toledo: palavreado politicamente correto é outra forma de preconceito.
Gostei muito da parte final da mensagem, a porção que não editada. Está o máximo.
Servaz, é ridícula essa história de afrodescendente. Fica bem como dado em ficha de estudo antropológico. Não quero saber onde o cara nasceu, sua origem. Se seguirmos assim, teremos que chamar japonês de nipodescendente. Sem falar que o Gilberto Gil tem que mudar imediatamente o nome da filha para Afrodescendente Gil.
Já tentaram proibir mulata, logo mulata, alegando que se origina de mula. Não sei de onde tiraram essa fantasia. Nada a ver.
Abraço do sulamericadescendente Valdir.
PS
Onde, afinal, está o Miltinho?
Aqui Valdir. Deixa dar o meu pitaco neste negocio de politicamente correto? Vejam só Sérgio,Valdir e Luiz, os narradores da rede PIG/GLOBO ao descreverem os lutadores de boxe ou MMA chamam atençao do espectador para o fato de tal lutador estar calçando luvas vermelhas e vestindo calçao branco, o oponente veste luvas azui e calçao preto, procurando serem politicamente corretos, quando mais fácil seria descrever os lutadores pela cor da pele, Mike Tyson é o negro o branco é o Eder Jofre. Creio que nem tudo é culpa do PT.
As fotos da negrinha e da branquinha sào realmente belas.Queria ver o texto ilustrado com uma negra desdentada e feia da comunidade. Diz uma cançào; `feio nào é bonito, o povo existe…`
PRO LUIZ CARLOS.
Fale mais sobre sua utopia, a Coreia do Sul, importante que os descrentes em utopias saibam que o pais tem milhares e milhares de anos de existencia, uma cultura própria e que sua história até chegar a tempos utópicos foi marcada por guerras, regimes ditatorias, dinastias sangrentas, golpes de estado, revoluçòes, mortes, mártires e heróis. O Brasil tem somente 514 anos de existencia, seria POLITICAMENTE CORRETO acreditar em utopias por aqui?
Miltinho, bem-vindo! O MMA da Globo é zeloso. Devia ser assim com o futebol, desde as primeiras copas.
A bola está com o camisa dez da seleção, ele dá uma finta no primeiro, passa pelo segundo, dispara uma bomba e… goooolll. Gol do camisa dez!
Um camisa dez da seleçao encantou o mundo, virou rei, e era chamado por estas bandas bandas sem zelo, correta e carinhosamente de CRIOULO, NEGÀO, PELÉ!
Vejam só. Quando o SÉRGIO faz a pauta, o site recebe várias visitas e intervençòes que valem a pena. Mesmo que sejam só 17 os seguidores de ’50anosdetextos’, na verdade 18 com minha modesta e forçada inclusào, o site é exemplo de liberdade de expressào e opiniào.Pena a presença dos merdais, que certamente nào se incluem entre os 18 do forte.
Puta que pariu digo eu, Sérgio. Quando voce quer, voce é fod….!
Lavou a alma (a minha, pelo menos). Essa coisa do politicamente correto é um saco!
Só fiquei curiosa pra saber se o cara respondeu, e o que escreveu, caso tenha respondido. Me conta? =D
Até agora, não respondeu, não, Jussara…
Sérgio
Sérgio, Sérgio!
Tô atrasada, mas talvez ainda haja tempo de dizer que não há nada mais incorreto do que esse abominável politicamente correto. Invenção das piores, que tá custando a desaparecer.
Adorei os textos, o seu e os dos seus simpáticos amigos.
Beijo
Vivina
Sérgio Vaz, não recebi sua resposta a meu comentário (infelizmente)! De qualquer forma, adorei o que li aqui. Gosto de discussões abertas e inteligentes. Ah, só para constar: relendo o que escrevi, sinto que o que me soou pejorativo foi o diminutivo, mas concordo com você de forma geral.
Quero enviar-lhe de presente um livro que acabo de lançar (www.facebook.com/desertosadrielamaral). Aceita o presente? Mande-me um e-mail, por favor.
Abraço!