Para onde vai o Parlamento?

Qual caminho seguirá o parlamento brasileiro, após a vitória de Eduardo Cunha, na Câmara Federal?

A resposta ainda não está dada, mas seria simplismo afirmar que tudo continuará como dantes, no quartel de Abrantes.

Não podemos, claro, subestimar a possibilidade de a nova legislatura ser mais do mesmo. De o Poder Legislativo se aviltar mais ainda, aprofundando assim o fosso que o aparta da sociedade.

Essa hipótese é real. Será por essa via que o governo tentará recompor sua base parlamentar, apostando na atração irresistível da repartição dos cargos de segundo escalão.

E os “profissionais da política” podem ainda utilizar sua força, expressa na derrota acachapante do PT e da presidente Dilma, para ampliar, a cada votação, o balcão de negócios.

O “modelo de governabilidade”, vigente desde a era Lula, favorece enormemente a essa política pequena, quando não desagua em corrupção.

Resta ainda outra ressalva. O novo presidente da Câmara é um expoente desse modo tradicional de se fazer política, tão enraizado no Congresso Nacional.

Mas o “homem é o homem e suas circunstâncias”, como nos ensinou o filósofo espanhol José Ortega y Gasset.

Sem dúvidas, as circunstâncias de hoje são bem diferentes das últimas legislaturas.

Mudou a sociedade, mudou a própria correlação de forças no Parlamento. Nele, o governo não é mais senhor de baraço e cutelo.

Renan que o diga. O Senado também hoje é outro. A oposição mudou de patamar ao contar em suas fileiras com senadores do porte de José Serra ou de Antonio Anastasia.

As manifestações de 2013, a disputa presidencial apertadíssima, o impacto da operação Lava Jato, a crise econômica, os fantasmas da inflação e do desemprego, o desgaste dos partidos e da forma tradicional de se fazer política são a base objetiva de uma realidade que impõe ao Parlamento a necessidade de mudança.

O primeiro instinto de um político é a sobrevivência. Haraquiri não é com ele.

A regra vale para Eduardo Cunha, um pragmático que provavelmente sentiu a direção dos ventos.

A prudência recomenda, portanto, não considerar como mero jogo de cena suas promessas de pautar na Câmara Federal temas incômodos ao governo, de ter uma postura mais independente.

A conferir o quanto a intenção do novo presidente da Câmara redundará em gestos concretos. Em grande medida, isto não dependerá apenas dele.

Dependerá também da pressão da sociedade, da capacidade da oposição de agregar forças em um quadro onde a base governista está longe de ser monolítica.

Mas quem falará mais alto será mesmo sua excelência: as circunstâncias.

Serão elas que ditarão para onde vai o parlamento e se Eduardo Cunha responderá às suas exigências.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 4/2/2015. 

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