Os riscos do poder dilatado

Você, leitor, já pensou em quem vai votar a tão decantada reforma política, aquela que nos é prometida há tanto tempo e que, agora, por obra e graça de algum espírito travesso, parece que vai sair?
Pelo menos o novo presidente da Câmara, menos de 48 horas depois de ter abocanhado – pelo voto secreto – o cargo que disputou com o Governo Federal, criou uma comissão especial para examinar o anteprojeto da reforma política.

Leia e releia os nomes dos deputados que compõem o plenário da Câmara e examine, com muita atenção, as fotos do domingo 1º de fevereiro logo após a vitória de Eduardo Cunha.

Não sei o que você vai sentir, mas eu sinto um arrepio na alma ao pensar que esses senhores e senhoras serão os que vão assinar a reforma política que o Brasil já aguarda há algum tempo. O Destino, ou seja lá o nome que você dá a quem abre ou fecha nossos caminhos, parece andar meio enfezado com o Brasil. Já reparou, leitor?

Eu não esperava outro filósofo/ensaísta como Montesquieu que em seu ‘O Espírito das Leis’ (1748) foi um dos primeiros a pensar na separação do Poder em três domínios. Não sou tão ambiciosa ou tão ingênua, mas esperava ao menos alguém um pouco menos Eduardo Cunha…
Vamos ter que nos valer dos filósofos que temos, não é? Só espero que levem em conta outro brilhante pensamento do infatigável e fantástico Montesquieu:  “Em qualquer magistratura, é indispensável compensar a grandeza do poder pela brevidade da duração”.

Essa lição é da maior importância: nenhum cargo político, advindo de eleição ou de nomeação, deveria durar mais dos que quatro anos. O tempo dilatado acaba gerando uma intimidade que não dá bom ponto. Como disse um dia Janio Quadros: “Intimidade ou gera aborrecimentos ou filhos”…

Não me neguem o prazer de abusar de citações. Churchill dizia que é bom ter livros de citações. Gravadas na memória, elas inspiram-nos bons pensamentos.  Pensem bem se não foi o tempo excessivo em que a atual direção da Petrobras deteve as rédeas da companhia nas mãos o que propiciou a intimidade que levou ao descalabro em que a empresa se encontra, arrastando consigo seu nome e o nome do Brasil.

E já que falei no inglês, de quem sou admiradora incondicional, cito outro de seus pensamentos: “A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes”

Outra vez Churchill acerta em cheio. Veja você o que pretende fazer o presidente do PT, o inacreditável Rui Falcão: expulsar do partido quem votar a favor da reforma política pautada pelo presidente da Casa Legislativa. Alguns expulsos podem até sobreviver, mas a maioria, morre.

Não sei não, mas quero crer que o senhor Rui Falcão anda meio distraído e ainda não avaliou bem o momento em que estamos…

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 6/2/2015. 

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