Todo o ditador fascista de primeira classe adora cinema. Americano. O ditador comunista, ou social-fascista, também. Há mais de um traço comum a ir de Hitler a Estaline, mas há um, desenhado a fantomáticas luzes e sombras, feito em salas escuras, que é o cinema.
Lenine, ou o obscuro teórico que havia nele, disse que “o cinema é para nós, de todas as artes, a mais importante” e, no intervalo de uma mortandade, veio Trotsky jurar que quando houvesse um cinema em cada aldeia, a URSS estaria pronta a fechar a cúpula da catedral do socialismo. Goebbels, se na altura já estivesse em vigor o dueto germano-soviético, cantaria com ele: o nazismo conferia ao cinema a mesma elevada missão política.
Esse era o cinema para os olhos do povo, o cinema dos bons propósitos, o da propaganda. Mas nas suas salas de projecção privadas, querendo divertir-se, os ditadores viam filmes americanos. Hitler via a Branca de Neve e os Sete Anões, acrisolado filme de animação de Walt Disney. Estaline delirava com Tarzan, o Homem Macaco.
Ivan Bolshakov era o ministro que escolhia os filmes para Estaline. Os seus antecessores tiveram guia de marcha para a Sibéria, ou num gesto misericordioso que lhes poupava sofrimento, foram executados. Bolshakov sobreviveu ao ditador, prova do seu talento de programador. Quando via que os gases do rancor e da amargura saíam pelos olhos de Estaline, dava-lhe a ver westerns. De preferência com John Wayne.
Hitler não gostava de westerns, mas também gostava do seu macaco. Estaline deliciava-se, de liana para liana, com a Cheetah de Tarzan. Hitler era mais o King Kong. Proibiu-o às superiormente ignaras e louras massas nazis, mas via-o ele muitas noites, no sossego do bunker. Sonharia destruir Nova Iorque como o gigantesco gorila ou ter na mão húmida a nudez loura de Fay Wray?
Um macaco não desilude. Já John Wayne com Estaline foi o diabo. Ofendido por Wayne não reconhecer a necessidade do Grande Terror e ser, por isso, um anticomunista primário, mandou matá-lo. Foram facínoras a Los Angeles, mas como não havia rede de transportes públicos devem ter-se perdido. Foi Kruschov, benigno sucessor, quem um dia disse a Wayne que o tinha mandado des-matar. Já há muito que Hitler não sentava ao colo a Branca de Neve. Ou será que ao colinho ele punha antes os sete anões?
Este artigo foi originalmente publicado no semanário português O Expresso.
Manuel S. Fonseca escreve de acordo com a antiga ortografia.
Achei que o termo ‘MACADO’ fosse coisa do Manuel, uma grafia conforme a antiga ortografia, forma conservadora de sua escrita.
No wikidicionario não encontrei definição ou sinônimo para o termo macado. Transformado pelo contexto em MACACO.
Talvez um erro na compilação do artigo? Logo no titulo? Seria uma técnica jornalística de chamar atenção para o que se seguiu?
Cada macado/macaco em seu galho. Pior seria sentar no colo dos anões.
Como se diz na piada, errei, porra
Ainda bem que o Miltinho, sempre atento, me chamou a atenção.
Obrigado, Miltinho.
Sérgio
Ate a DILMA erra.
Ate macaco erra o galho.