Essa expressão era muito comum antigamente. Não sei se ainda tem a mesma força. O que sei é que há pouco tempo, em 27 de novembro, publiquei no Blog do Noblat um artigo intitulado ‘A Força da Toga’, no qual eu exaltava a força da toga que eleva o espírito dos ministros do STF.
No artigo eu destacava a frase da ministra Carmem Lúcia que se tornou uma frase épica, frase que já entrou para a História como das mais belas ouvidas aqui em nosso Brasil, onde ela enfatiza que o escárnio venceu o cinismo, mas que o crime não vencerá a Justiça e encerra dizendo que (os corruptos) não passarão sobre a Constituição do Brasil.
Tenho certeza que, a depender dela, isso é o que acontecerá. Só esperava que a Constituição não fosse pisoteada nem pelos corruptos, nem por mais ninguém.
Devo a Fernando Collor dias e dias de muita angústia e tristeza. Sofri pessoalmente e sofri pelos mais velhos de minha família, que eram as pessoas mais importantes de minha vida. Jamais o perdoei e jamais esquecerei aqueles dias. Francamente, sua figura me é detestável.
Não acredito em horóscopo, mas meu signo é Balança e talvez venha daí meu mais profundo horror à Injustiça. E ontem, ao ouvir aquele excessivo latinório no STF, só me vinha à mente o seguinte: só nos falta desimpichar o Collor!
Ele foi impichado em 1992. Desde então, não houve mudança na legislação que justifique um rito diverso em um processo de impeachment. “Não há como vislumbrarmos novas regras, novas interpretações à luz de uma base jurídica já pacificada e que não se alterou. Isto sim, seria um golpe no passado e no presente”, afirmou o único presidente brasileiro impichado.
Não há como, apesar de toda minha má vontade em tudo que se refere ao senador alagoano, deixar de lhe dar razão.
O Brasil é um país peculiar. Aqui, coisas misteriosas acontecem, chocam, impressionam, mas passada uma semana, se tanto, fica tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Um exemplo: cadê o helicóptero sequestrado por um Papai Noel no interior de São Paulo? Vocês não acham esse episódio uma maravilha? Pois eu acho. Nas mãos do Woody Allen, daria um filme e tanto. Aqui, sumiu, tá sumido.
Esses são os sumiços materiais. Os imateriais são mais aflitivos. Afinal, dinheiro não é tudo. Já a honra de uma Nação…
O Brasil está numa situação periclitante. Fomos rebaixados por duas agências de risco. Nosso nome está igual ao falecido Rio Doce…
Hoje Eduardo Cunha levou uma traulitada do STF enquanto Renan Calheiros foi levado às alturas. O que, em matéria de malfeitos, distingue um político do outro?
Todo o procedimento da Câmara dos Deputados em relação ao processo encaminhado pelos doutores Hélio Bicudo, Miguel Reali Jr e Janaína Paschoal vai ter que ser refeito, perdeu a validade, segundo o plenário do STF.
O Senado terá a batuta nas mãos. Quer dizer, Renan Calheiros ganhou parte da força que Eduardo Cunha perdeu. Mas isso só vai ser posto à prova depois do recesso. E quem garante o espírito que reinará no Brasil daqui a tantos dias?
Outra coisa: você apostaria que o voto aberto é mais palaciano que o voto secreto?
Se o rito e o ritmo do impeachment de Fernando Collor não foram muito corretos, será que ele agora terá direito ao “desimpeachment”?
Deus, ó Deus, não esqueça que somos seus filhos!
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/12/2015.
Como o mundo é contraditório, em 27 de novembro honras e loas ao STF em 19 de dezembro as palavras da ministra soam demagógicas. Quem votou em Collor, viu seu declínio e agora sonha com sua volta, sob outro nome, a justificar um golpe. Que seria mais justo uma decisão da ministra ou a opinião das velhinhas do Tatuapé? em marcha com deus, com a família e com a propriedade?
NOSSO MEDO: Custa você assinar seu nome? Ou tem vergonha do que pensa e diz, por demonstrar que não entendeu nada do que leu? MH
“Os acontecimentos que cercam o historiador, e dos quais ele mesmo participa, estarão na base de sua apresentação como um texto invisível.
A história que ele submete ao leitor constitui, por assim dizer,
as citações deste texto, e somente elas se apresentam
de uma maneira legível para todos.
Escrever a história significa, portanto, citar a história.
Ora, no conceito de citação está implícito
que o objeto histórico em questão seja arrancado de seu contexto”.
Walter Benjamin, Passagens, N
Aquilo de que tento escapar é a constante construção de uma visão da realidade pessimista e sem esperança, sendo isso menos por habitarmos um vale de lágrimas mais do que NOSSO MEDO a expor-nos a cada dia, à ira de velhinhas do Tatuapé.
À Maria Helena:
Ser velhinha não é um vício – é um privilégio -, mas nem sempre agrada ir ao Tatuapé e se juntar àquelas velhinhas para realizar um movimento do tipo “Cansei” e proferir opiniões do tipo “Brasil Desgraça” (50anosdetextos.com.br) em oposição aos textos petistas do “Brasil Maravilha”.
A criticidade é melhor. Chega da “Marcha da Família”, pois ela já ocorreu e já venceu: Reforma Agrária, nem pensar. Apoio aos pequenos produtores através do Banco do Brasil, complicado.