Marina pediu que o vovô desse o jantar, nesta terça-feira. Não é o normal. Em 99% das vezes, pede a vovó. E está certíssima, porque a avó é muito mais jeitosa do que eu.
O prato em que aparecem o Mickey e o Pateta tinha carne, arroz, feijão, batata cozida e espinafre. Pediu primeiro espinafre. Se deixasse, comeria todo o espinafre primeiro, talvez só o espinafre.
E isso é o normal. Marina adora legumes e verduras.
Não que tenha qualquer jeito de vegetariana, ou vegana, graças ao bom Deus. Gosta de carne de vaca, de galinha, de peixe, de ovo, de leite, de queijo, mas tem especial predileção por legumes e verduras, graças à forma boa, saudável, com que a mãe os introduziu na alimentação dela, coisa que por sua vez a mãe aprendeu com a mãe dela – uma das muitas coisas boas que Suely ensinou para a mãe de Marina.
Adora couve-flor. Nada contra quiabo. Já provou e aprovou jiló. Tem especial predileção por brócolis. A avó até já fez uma adaptação de “Wouldn’t it be loverly?”, de My Fair Lady, substituindo “loverly, loverly, loverly” (cantada como proparoxítona, lóverly) por “brócolis, brócolis, brócolis”. Marina ri da avó – Marina ri da avó sempre, já que a avó está sempre fazendo alguma palhaçada para ela -, e pede mais brócolis.
Nesta terça, Marina jantou muito bem, como sempre, ou na imensa maioria das vezes. Mickey e Pateta já estavam inteiramente visíveis no fundo do prato quando a avó resolveu dar por encerrado o jantar. (Ah, sim, porque lá pela metade do prato Marina ameaçou fazer gato e sapato do avô, exigindo apenas espinafre e não aceitando os demais componentes, no que então a avó – que sabe ser dura, enérgica, quando necessário – assumiu a tarefa de servir o resto do jantar para ela.)
Tivemos depois a tradicional meia horinha de DVD. Espantosamente, pela primeira vez em muitas semanas não pediu Peppa Pig, e sim Bita e os Animais. Sentou-se no lugar de sempre, o cantinho do sofá, bem encostadinha na extremidade, botou com elegância a mãozinha direita sobre o braço do sofá, e fixou os olhos nas imagens do DVD. As músicas são originais, não são versões de cantigas infantis conhecidas. Pois bem: as duas primeiras, Marina cantou inteirinhas, junto com o cantor. Carinha mais alegre do mundo, e cantando a letra inteira, todas as palavras. Em alguns momentos, dava umas mexidinhas seguindo o ritmo, umas requebradinhas, umas dançadinhas no sofá.
Fomos embora depois do DVD, deixando a pequena com uma aparência de quem estava absolutamente exausta, pronta para o banho e a cama.
Ledo engano. Antes do banho, virou-se para a mãe e pediu: “Mamãe, quero alface americana e alface mimosa, por favor”.
Fernanda mangou de mim: “Pai, ela sabe a diferença entre os alfaces! Bota o avô, que não sabe nem a diferença da alface e do brócolis, no chinelo, hein? Hahahahahahah! Eu e o Carlos rimos muito”.
Como diz a Peppa quando pega em flagrante delito, eu não achei graça nenhuma.
A frase acima é só uma brincadeira. Acho o maior barato Marina gostar como gosta de alimento saudável, e saber a diferença entre alface americana e alface mimosa. Eu nunca soube que havia esses dois tipos de alface.
***
Ah, sim. É apenas um detalhe, mas é preciso registrar. Enquanto eu estava ao lado dela, dando a comida, Marina teve um momento de especial ternura e resolveu passar a mão na minha barba. Pegou, falou “Macia…”, sorrindo encantadoramente. E ficou um bom tempinho fazendo carinho.
O coração do avô cresce uma oitava e quase explode.
25 de novembro de 2015
Fotos Mary Zaidan
Sérgio a cronica do Xexéu me arrasou e mostrou como estou velho. Nunca mais, era canção da Maysa que não pretendo seguir.
Prova disto é a esperança no futuro a ser conduzido pela adorável Marina.
Marina neles!