Em março de 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou a alcunha de “mãe do PAC” para sua ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. No palanque montado no Complexo do Alemão, no Rio, Lula anunciou R$ 1 bilhão em obras para as favelas cariocas, a serem tocadas pela gerente implacável – que dois anos e oito meses mais tarde o sucederia no mais alto posto do país.
Começava ali a construção da ficção Dilma, a afilhada dos sonhos do ex que passou a assombrar o PT e o próprio Lula.
No mesmo palanque, Dilma se aprochegou do chefe e aceitou publicamente o papel.
O temperamento irascível auxiliava na criação da imagem de durona, exigente, intransigente. Faltava-lhe quase tudo que um presidente da República precisa ter. Sobrava-lhe arrogância, característica que Lula, dono de igual ou maior soberba, subestimou.
Naquele ano, Lula acabara de bater o primeiro de seus muitos recordes de popularidade. Alcançara, segundo o Datafolha, 55% de aprovação que, 10 meses depois, chegariam a inacreditáveis 70%%, e em nada menos que 78% dois meses antes das eleições. Seu governo chegou a obter 82% na soma de ótimo e bom.
O céu – e a Constituição que lhe proibia disputar um terceiro mandato consecutivo – era o limite. A solução segura era a fiel mãe do PAC, que conduziria o governo sem criar sombras.
Deu tudo errado.
A pupila começou bem. No final de março de 2011 chegou a desbancar o imbatível Lula, alcançando 56% de aprovação, o maior percentual de um presidente no primeiro trimestre de mandato. Substituiu com sucesso a mãe do empacado PAC pela faxineira que demitia corruptos do governo, ampliando ainda mais sua popularidade.
Os números lhe subiram à cabeça, fazendo-a crer que era o que não é.
Multiplicaram-se os desmandos, as políticas do atraso, as besteiras. Interveio nos bancos e empresas estatais, desequilibrou o setor elétrico, com consequências drásticas para o consumidor que hoje tem de pagar a conta. E está envolvida diretamente, ainda que por omissão, no escândalo da Petrobras, o maior da história, com desvios confessos em balanço de nada menos de R$ 6 bilhões, e perdas superiores a R$ 40 bilhões por má gestão.
Dilma foi longe demais para quem não daria um passo com as próprias pernas. Brigou com quem não podia e afagou quem não devia. Irritou aliados e desagradou o seu partido.
Com aprovação de apenas 12%, o pior índice que um presidente já teve, Dilma se tornou símbolo de tudo que o país não quer.
Mas, em tempos de denúncias que não deixam o PT respirar, ter Dilma como mãe de todos os males não era de todo ruim. Até o último dia 5.
A barulhenta reação durante programa de rádio e TV do partido acendeu o alerta vermelho. Foi contra o PT. Contra o até então intocável Lula.
E não adianta apelar para as mães. Elas também batem panelas.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 10/5/2015.
…mãe é mãe ao filho pouco importa.