Cerca de dois milhões de brasileiros ocuparam as ruas no último domingo. Vestidos de verde e amarelo uniram-se em repúdio à corrupção, berraram fora Dilma, fora PT. Bateram panelas na mesma noite e na seguinte em protesto aos ditos patéticos de ministros e da própria presidente. Não foram ouvidos. Nem pelo governo nem pela oposição.
Apenas dois dias após as manifestações que deveriam ter mexido com os brios de quem se opõe ao estado de calamidade do país, partidos de oposição, incluindo o maior deles, o PSDB, agiram na contramão do Brasil, da lógica e das ruas.
Não só endossaram a tri-multiplicação do fundo partidário – de R$ 372 milhões para quase R$ 870 milhões -, como receberam, de bom grado, R$ 10 milhões para emendas de parlamentares novos, presentinho do PMDB, por meio do relator do orçamento, senador Romero Jucá (RR).
Um desatino.
Ainda que o completo desacerto da economia tenha sido provocado pelos governos petistas – Lula que não aproveitou a bonança e Dilma que nada sabe e arrota todo o saber -, fazer oposição inviabilizando o país é coisa para o PT, e não para gente que se diz responsável.
No vácuo, o PMDB – sempre ele -, aquele que é aliado de Dilma e não o é, que está no governo e não está, arvorou-se como o principal interlocutor das insatisfações populares. Contrariando o peemedebista Jucá, anunciou que defenderá o veto ao aumento do fundo partidário, dizendo-se “sensível” às vozes das ruas.
Também parte do PMDB a proposta para que Dilma reduza de 39 para 20 o número de ministérios.
O PT, por sua vez, tenta se reconectar com as ruas. Usa o pedaço fiel, personificado nas centrais sindicais, no MST e nos movimentos pró-moradias. Não raro, causa mais estragos ao governo do que a oposição. E para atender a esse público cativo, visto que o resto dá-se por perdido, faz Dilma recuar no ajuste fiscal. Claro, onde ela não devia.
Sem uma ação política articulada, as oposições, PSDB à frente – que aglutinou o antipetismo de quase metade do país no candidato Aécio Neves -, perdem-se em questões periféricas, na crítica verbal.
Rechaçar as bobagens diárias de um governo que se movimenta entre o exército de robôs e o exército do Stédile é pouco, muito pouco. Milhões de brasileiros foram e continuarão indo às ruas para por fim à corrupção institucionalizada pelo PT. Para estacar a sangria. Não querem mais pagar impostos e não ter serviços, muito menos enriquecer uns e outros privilegiados.
Não têm respostas prontas. Sabem mais o que não querem.
Mas, se é natural que o governo Dilma opte pela tangente com um requentado decreto anticorrupção que nada resolve e talvez até crie entraves para punições, é inadmissível que as oposições não se cocem.
O cambaleante governo Dilma está nocauteado. Nas ruas e fora delas. PSDB & cia têm pouco tempo para compreender as demandas e agir à altura.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/3/2015.