Cena de trânsito. Entrei na travessa, vi a van escolar chegando. A motorista poderia ter dado um tempo para eu passar. Mas, não. Veio pra cima.
À minha direita tinha um carro estacionado. Desviei o máximo que dava para o lado dele, mas não o suficiente para livrar a van. Outros carros surgiram. Ninguém passava. E veio o Buzina.
O Buzina cumpriu seu papel. Buzinou com vontade. A motorista dos pequenos escolares gesticulando, cada vez mais irritada. Até que consegui quase encostar no carro estacionado, e abri passagem. A van se põe em movimento. Ao passar por mim, ouço uma vozinha infantil: “Obrigada”.
***
No supermercado vou ao caixa vazio. A moça que atende me adverte. Um freguês deixou algumas compras, e voltou para pegar outras. Bem, melhor esperar. Vai ver faltou alguma coisa. A moça diz que vai demorar. Conhece o esperto. Pega as primeiras compras e vai para o caixa. Na sua vez, deixa esse primeiro lote, e vai pegar mais. E, depois, mais e mais. O caixa bloqueado. A moça, para adiantar, ensacando tudo.
Ei-lo chegando com umas pets família. Paga, recolhe os sacos todos e se vai. Não se dá ao trabalho de notar as filas que se avolumaram nas duas caixas laterais. Em uma das quais se inclui este narrador, no papel de trouxa.
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Em matéria para o Jornal da Tarde, entrei em uma delegacia. Meu colega motorista ficou no carro. Meia hora depois, saio e o encontro na calçada. Cara de contrariado. O que foi? No outro lado da rua tinha uma pequena lanchonete. Foi lá e comprou um sanduíche. Deu uma mordida, não gostou. Gosto ruim, podia ser alguma coisa estragada.
– Jogou fora?
– Não, dei para um menino pobre que passou aí.
Abril de 2015
Quanto mais velhos ficamos, mais estas cenas se repetem. Com a idade nos tornamos mais contemplativos, mais exigentes, menos pacientes, enfim mais sabidos!