Em dois meses, de 24 de abril a 22 de junho deste ano, Luiz Inácio Lula da Silva passou de atleta da terceira idade, cheio de gás e de conselhos para quem quer recuperar a força física, conforme vídeo transmitido pelo Instituto Lula, a um velho amargurado afirmando que em relação à popularidade, ele e Dilma estão no “volume morto”, enquanto o PT está “abaixo do volume morto”.
Disse mais, que já estava velho, com 69 anos, cansado. “Já estou falando as mesmas coisas que eu falava em 1980”.
E sugere ao PT: “Renovem sua liderança. Chamem os jovens”.
E num dos momentos mais amargos:
— Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje, precisamos construir isso, porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito, e ninguém hoje mais trabalha de graça.
Várias são as leituras que leio dessas palavras do Lula. Mas a que mais se afinou com o que penso é a seguinte: Lula, tal qual um apache no alto da montanha, molhou o dedo indicador e o espetou para o alto para ver de que lado sopra o vento. Sopra contra o PT, portanto a tempestade de areia que se forma no horizonte virá para sufocar o partido. Melhor montar em seu alazão e dar a partida para uma nova corrida. É o que ele está fazendo. (A charge é de Sponholz.)
Será que tem alguém que, ao contrário do que eu disse acima, acredita nessa novela fiada pelo fundador do PT? Além, é claro, da bancada do PT no Senado que emitiu nota de desagravo a quem não foi agravado, só agravou?
E de dona Dilma que acha que o Lula, pobre vítima da Imprensa Malvada, de tanto ser agredido, tem todo o direito de agredir, tanto a Imprensa quanto a ela?
A verdade é que ela fez essa declaração depois dos Jogos Indígenas, onde descobriu os poderes da mandioca e da bola feita de folhas de bananeira.
Os poderes da mandioca se espalharam pelo Brasil mais que seus vários nomes: aipim, macaxeira, mandioca. São muitos: no Rio, a carioquíssima farofinha na manteiga; em SP, o bolinho de aipim frito e a sopa de mandioca; em Pernambuco, o bobó de camarão com aipim, o bolo Souza Leão e a deliciosa tapioca; no Paraná, o barreado… Paro por aqui pois a fome aperta…
Mas não conhecia seu papel como uma das maiores conquistas da civilização brasileira. Nem sabia de seus poderes metafísicos abundantes, ao ponto de permitir que dona Dilma nos desse a infinita glória de corrigir Charles Darwin e introduzir na cadeia da evolução uma nova bípede, a Mulher Sapiens.
Fiquei com uma enorme curiosidade, confesso. Porque será que dona Dilma não quis entregar a bola de folha de bananeiras a um assessor? Preferiu discursar e falar da Mulher Sapiens com a bola embaixo do braço?
Será que uma coisa está ligada à outra?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 26/6/2015.
FHC 2018.
A direita se dá conta que dispõe apenas de Aécio e de Alckmin para serem candidatos, a obsessão de tirar o Lula da jogada volta com força.