Poucas vezes na história brasileira o país foi tão ausente do cenário internacional como agora. É como se não tivéssemos política externa. As crises ética, econômica e política são tão grandes que a presidente Dilma Rousseff simplesmente esqueceu que há um mundo lá fora. Olha apenas para o próprio umbigo.
A irrelevância da política externa do atual governo antecede às crises. Com o fracasso do sonho megalomaníaco de Lula, do Brasil ser um polo alternativo aos Estados Unidos até mesmo no Oriente Médio, sua sucessora fechou-se em um casulo.
O terceiro-mundismo de Lula era proativo. O de Dilma é passivo.
Sua presença no concerto das nações foi até agora meramente protocolar, sem exercer sequer liderança na América do Sul, que dirá no continente.
Durante dois anos ficou de birra com os Estados Unidos, como se ainda vivêssemos nos tempos do “yankees go home”.
No final do semestre vai, finalmente, visitar os EUA, para normalizar uma relação com quem sempre foi um essencial parceiro do ponto de vista comercial.
Não nos iludamos, a presidente vai apenas cumprir tabela. Na volta, o mais provável é que continue de costas para o mundo, como se as crises humanitárias não nos dissessem respeito, como se as cadeias produtivas não fossem uma das grandes tendências do planeta.
Ou como se o Brasil pudesse se dar ao luxo de dispensar acordos bilaterais para se integrar, de fato, na economia mundial.
Todas as apostas do petismo na política externa deram em nada: a prioridade para a relação Sul-Sul e as fichas postas no BRICS, contraposição ao peso da União Europeia e do mercado norteamericano.
O Brasil desindustrializado importa cada vez mais bens manufaturados e exporta matérias primárias, de pouco valor agregado. Por força de erros cometidos no governo Lula e magnificados por Dilma, o petismo está condenando o país a ter uma posição subalterna na divisão internacional do trabalho, a ter uma relação de semi-colônia com os grandes players da economia mundial.
Como se isto fosse pouco, ficamos prisioneiros do Mercosul, dependentes da concordância da Argentina, da Venezuela, da Bolívia para assinar acordos bilaterais com países fora do bloco.
Enquanto isto México, Peru e Chile nadam de braçada, intensificam relações com os Estados Unidos e outros mercados.
E a Argentina, claro, impõe condições às exportações brasileiras e celebra acordo de cooperação econômica e de investimentos com a China.
Em política externa, as coisas acontecem assim. Cada país prioriza seus interesses. Cristina Kirchner, portanto, não está errada.
Quem erra é a nossa presidente, que não observa um princípio elementar de qualquer política externa soberana.
O Itamaraty sempre teve uma política altiva, pautada pela defesa dos interesses nacionais, pela construção de relações pacíficas entre os países e a rigorosa observância dos princípios da não ingerência, da democracia e do respeito aos direitos humanos. Além de um certo pragmatismo no comércio exterior como foi o caso das gestões de Luiz Felipe Lampreia ou Fernando Henrique Cardoso como chanceleres.
No governo Dilma o Itamaraty não tem qualquer relevância. Estamos não apenas perdendo o bonde da história, mas também este legado.
E por falar em irrelevância, quem, de bate-pronto, sabe dizer o nome do atual chanceler?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 29/4/2015.
Olhar para o próprio umbigo seria olhar para o umbigo dos EUA?