A vítima e sua linguagem

“A linguagem política (…)  é projetada para fazer com que as mentiras soem verdadeiras (…) e para dar aparência de solidez ao puro vento”.

A frase é do escritor e jornalista inglês George Orwell, autor de dois clássicos – A Revolução dos Bichos e 1984 – em que retrata com angustiante precisão como seria a vida num sistema totalitário, que ele combateu com todo a força de seu talento.

No Brasil, o PT é especialista no uso desse tipo de linguagem. Esta semana, o partido divulgou uma alentada ‘cartilha”, de mais de 30 páginas, com a finalidade de fornecer aos seus militantes um receituário recheado de desculpas, meias verdades, aforismos, lugares comuns, palavras de ordem e eufemismos, que servem mais para confundir do que esclarecer.

O nome do documento é pretensioso, o que denuncia o vício de origem de um partido que nunca se preparou para a convivência democrática: “Em defesa do PT, da democracia e da verdade”. Nada mais e nada menos do que a verdade. E a democracia, um valor que é tanto mais caro ao PT quanto mais ele vem esvaziado de seu significado mais profundo, que é a convivência entre os contrários.

O PT nasceu com um DNA bélico e veio ao mundo não para unir mas para confrontar. Sua melhor defesa sempre foi o ataque. Um ataque puramente retórico, de linguagem, um ataque que não é para valer, mas para marcar território, como fazem os gatos.

Não é por acaso que seu Líder Supremo, uma espécie de Guia Genial dos Povos um tanto tardio, construiu toda a sua trajetória política em cima desse truque retórico de dividir o país entre “nós”, os de alma pura, e “eles”, a elite branca, exploradora e desalmada.

Na hora H, ao mesmo tempo em que dispara a sua metralhadora giratória – de novo, pura linguagem – o PT acaricia as forças de mercado e só consegue chegar ao poder quando divulga uma “carta ao povo brasileiro” em que se compromete a guardar seu programa de governo na gaveta e manter a mesma política econômica, os mesmos compromissos e contratos de seus antecessores.

Nessa “carta”, o partido usou a linguagem entendida pelo mercado e não fez muita questão de fazer-se entender pelos seus militantes. Muito pelo contrário. Tanto que até hoje muitos petistas sabem sequer que a “carta” existiu e poucos militantes saberiam entendê-la.

Na cartilha divulgada esta semana para alimentar a valentia verborrágica de seus militantes, o PT usa sua velha retórica bélica e seu histórico vitimismo, para dizer-se vítima de “uma campanha de cerco e aniquilamento”.

A imprensa “monopolizada”, os partidos políticos, o Ministério Público, a Polícia Federal, o Judiciário, todos se uniram numa megaconspiração para aniquilar o PT.

Fazer-se de vítima é uma das características históricas mais profundas da trajetória do PT. Como ele sozinho representa o bem, ao passo que todo o mal se reparte entre instituições da sociedade civil, fazer o jogo do maniqueísmo é um truque barato, mas de grande ressonância junto à massa militante.

Virar alvo de “ódios”, “intolerâncias” e “mentiras” é um truque que se fecha em si mesmo, mas funciona bem junto ao público limitado a quem se dirige. A catilinária do PT não serve para convencer ninguém, mas pregar para os convertidos é uma tática para inflar a autoestima de seus próprios fiéis.

É assim que funcionam as religiões, mesmo as laicas, como a do PT:  a fé cresce na adversidade e dispensa comprovações.

É irônico que ao se dizer vítima de “manipulações”, o PT esteja praticando a maior delas, que é a de mentir sem nenhum escrúpulo.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/11/2015.

2 Comentários para “A vítima e sua linguagem”

  1. Que totalitarismo se refere o Vaia, qual seria a linguagem mentirosa? A do lulopetismo ou a mídia golpista? Quem seria o Big Brother orwelliano?

  2. Sandro até quando quando você vai ter que aguentar esse Quinhentinho pestista ? Vamos juntar nossos caraminguás e pagar uma passagem de ida para Cuba e ver se esse carrapato transmissor de doenças se junte aos seus mais queridos amigos em La Habana.

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