Velhinho pré-antigo

2014-01 - Marina dia 22 - P1110952 - Corte

Hoje fiquei sabendo, ao ler um texto de Marina Vaz no Caderno 2 do Estadão, que Flávio Tris está lançando seu primeiro CD.

Como comprovação de que é um novato que tem a admiração e o respeito dos artistas já consolidados, Flávio Tris tem, no seu primeiro álbum, as participações especiais de Tulipa Ruiz e Filipe Catto.

Fiquei chocado. Jamais tinha ouvido falar em Tulipa Ruiz e Filipe Catto.

Brinquei com Mary usando frases que a gente usava quando era ginasiano: Me senti mais por fora do que umbigo de vedete. Mais por fora do que quarto de empregada.

Mary riu – e notou que faz muito, muito, muito tempo que já não existem mais vedetes e quartos de empregada.

É: eu estou por fora. De tudo: de MPB (da qual até já achei que conhecia um pouco, milhares de anos atrás), de piadas.

Hoje, segundo Mary, eu teria que usar uma imagem do tipo estou mais por fora do que bunda e barriga de periguete.

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Nunca fui um sujeito propriamente muito moderno. Quando os irmãos Campos falavam do pós-tudo, e todo mundo falava do pós-moderno, adorei brincar que sempre fui um pré-antigo.

Na primeira vez em que ouvi falar da terceira geração do punk inglês, me assustei: não tinha tido idéia sequer de que já tinha havido um punk inglês. Tá bom, corrijo: jamais tinha tido idéia do que era o punk inglês de primeira geração.

Jamais corri atrás de novidades, dos últimos modismos. Acho que não poderia nunca viver no Rio de Janeiro.

Muito ao contrário: corro sempre para trás. Quando cheguei aos 30 anos, busquei feito louco saber onde os meus ídolos aprenderam a cantar. Fui atrás de quem tinha influenciado os Beatles, Bob Dylan, Joan Baez, Peter Paul and Mary. Me deliciei com Buddy Holly, Woody Guthrie, Harry Belafonte, The Weavers.

Desde que tinha 20 anos, bem antes de o Rumo descobrir os antigos, fui atrás de Noel, Geraldo Pereira, Mário Reis, Orlando Dias, Sinhô, Aracy Cortes, Clementina de Jesus.

Quando cheguei aos 50, perto dos 60, e o pós-punk inglês chegava à sétima geração (ou seria a oitava?), descobri Kate Wolf, Eric Bogle, Eva Cassidy.

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Não que eu seja inteiramente fechado a novidades. Recebi os garotos Raphäel, Benjamin Biolay, Karen Ann, com o mesmo entusiasmo com que reverencio Jacques Brel, Yves Montand, Georges Moustaki, Edith Piaf e Barbara.

Mas jamais usei meu tempo para ouvir no YouTube qualquer “artista” cujo nome comece com as letras MC.

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Mas… Marina Vaz? Jornalista, do Estadão, e que escreve sobre música?

Minha neta  já tem uma homônima! E que trabalha na empresa em que o avô trabalhou, somando tudo, as idas e vindas, uns 30 anos!

É linda, é a coisa mais linda do mundo, faz a felicidade de um monte de gente, entre elas, e o que para mim é mais importante, da minha filha – mas sequer engatinha ainda! E já tem uma homônima!

Parece o avó (tadinha dela), que agora tem de vez em quando que explicar que não, não é o poeta da periferia, o animador cultural Sérgio Vaz; é apenas e tão somente um Sérgio Vaz que jamais cometeu um poema na vida (a não ser Fernanda), e que está metido até os últimos fios de cabelo na prosa.

23 de janeiro de 2014

3 Comentários para “Velhinho pré-antigo”

  1. Você está gozadíssimo hoje! Será efeito do computador consertado? Marina comendo capa de máquina esta ótimo! O engraçado é que hoje ela comeu comida de gente. Assim falou a Fê. Beijos na carequinha.

  2. Um texto do velhinho pré antigo é “legal pra dedeu”.
    O outro Sérgio Vaz é mais afeito as novas manifestações populares e tem procurado entender e divulgar a cultura da periferia. Noel, Clementina e outros citados também sofreram com precoMCeitos até verem sua arte
    descer os morros e compartilhar da MPB junto com a elitista bossa nova.
    Também não sou muito simpático aos MCs, afinal que seria do amarelo se o mau gosto não existisse. Os manos não podem ser censurados pelo precoMCeito cultural, já bastam o social e racial.

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