Especialidades do ex-presidente Lula, criticar as elites, estimular e manter em alta o antagonismo entre ricos e pobres, sempre lhe valeram bons frutos. Como ninguém, Lula consegue com o mesmo gogó desancar e afagar os endinheirados. E ainda usufruir deles.
Mas essa habilidade de iludir o público, xingando aqueles que o patrocinam – a ele e ao PT – é única. Seria prudente, portanto, que Dilma Rousseff nem mesmo tentasse se arriscar nessa seara, sob pena de despencar no ridículo, como na sexta-feira, em Araguaína, no Tocantins.
Irritada com as vaias durante inauguração de um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida, Dilma acusou os manifestantes de terem nascido “em berço esplêndido”. E extrapolou ao se referir ao cartão Minha Vida Melhor, que financia compra de eletrodomésticos, afirmando que só não valorizam o programa aqueles que “nunca tiveram de ralar, de trabalhar de sol a sol para comprar uma televisão, uma geladeira, uma cama, um colchão”.
O que Dilma não sabia – e ninguém contou a ela – é que o grosso dos apupos vinha de moradores do conjunto ao lado, entregue há dois anos pelo mesmo Minha Casa Minha Vida, já com rachaduras e sem equipamentos sociais.
Suas palavras agrediram pobres mais pobres do que os pobres que ela, durante a inauguração, dizia beneficiar.
Não satisfeita, também reagiu atabalhoadamente aos que protestavam contra o Mais Médicos, ao afirmar que antes do programa havia profissionais de saúde “somente para as camadas mais ricas”. Ou seja, até o segundo semestre do ano passado, o SUS de Dilma só atendia “ricos”. Um desrespeito absoluto aos milhões e milhões de brasileiros que dependem da saúde pública.
Ao que tudo indica, Dilma foi instruída a promover ao máximo a tática vitoriosa de Lula de rivalizar ricos e pobres. Mas Dilma não é Lula. E, sendo Dilma, confundiu todas as bolas.
Tropeços à parte, causa estranhamento a escolha dos marqueteiros pela desgastada aposta na luta de classes. Especialmente para uma candidata que lidera as pesquisas com larga margem de vantagem e um governo que se orgulha de ter promovido mais de 30 milhões de pessoas à condição de classe média. Ainda que a nova média – rendimento de R$ 301 a R$ 1.090,00 – esteja muito aquém de garantir o mínimo.
Sem saber onde colocar esse batalhão de gente, Dilma continuará animando a disputa entre pobres e menos pobres.
Como estratégia eleitoral, difícil crer que esse tipo de discurso tenha alguma serventia com a protagonista Dilma. Mas suas consequências vão além do fazer o diabo para vencer a eleição. Promovem e alimentam o ódio; criam divisões devastadoras, muitas vezes intransponíveis. Isso é tudo de que o Brasil não precisa.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 16/3/2014.
Ainda bem que a candidatura nào é do Lula. A oposição não se toca que é o Flu na briga contra o Fla.
Caro Miltinho, eu, pessoalmente, não tenho nada a perder com a eleição de petistas. Aliás, teria a ganhar, já que são mais generosos com funcionários públicos do que os tucanos, por exemplo.
Minha preocupação é com o Brasil. Nenhum país superou a pobreza com políticas populistas. O assistencialismo tem algum efeito se for paliativo, provisório. Mas nunca como principal política de governo. Compare: Chaves, dirigindo o 5º produtor de petróleo do mundo, distribuiu casas, eletrodomésticos e dinheiro. Exportou petróleo para a China em troca de fogões para distribuir eleitoreiramente para a população, como se o petróleo fosse do partido dele. Mas o país não investiu na produção, na infraestrutura. Importa tudo e hoje é o único da OPEP que não tem dólares. Está dando calotes, com inflação de 56% e sofre desabastecimento. Sua única política econômica é extrair petróleo e gastar o dinheiro com a manutenção do poder. Esse tipo de populismo aplicado diretamente na veia garante o poder, baseado na fidelidade ingênua da maioria mais carente. Mas, a longo prazo, quebra qualquer país. E não tira ninguém da pobreza, só eterniza a dependência, a gratidão através do voto. A Argentina já teve o PIB maior do que o da França e taxa de crescimento maior do que os EUA. O peronismo trouxe os hermanos de volta para o 3º mundo.
Já a Coréia do Sul, até os anos 80, era uma ditadura, um país pobre e agrícola, como Cuba. E praticamente só produzia arroz, como Cuba produz açúcar e fumo há mais de 50 anos. Tomando um caminho contrário ao que os “progressistas” pregam, não fez assistencialismo. Em 30 anos, com democracia, liberdade de imprensa, rotatividade de poder, investimento na infraestrutura e, principalmente, em educação, reproduziu o milagre japonês. Produz agora: Sansung, Daewoo, LG, Hyundai,Kia Motors, etc. Domina os mercados de computação, televisores, celulares e é considerado o país com maior índice de inovação tecnológica. Tem renda alta e bem distribuída e os coreanos compram suas casas e eletrodomésticos com o próprio salário. Enquanto isso, a “progressista” Coréia do Norte, na prática uma monarquia absolutista, passa fome e fuzila dissidentes, conforme relatório da ONU. Quer comparar os últimos 30 anos da Coréia do Sul com a “progressista” Cuba?
É melhor comparar com o Chile, que vem, democraticamente, alternando governos de centro-esquerda e centro-direita, sem populismo, com uma política econômica racional e dando prioridade para a educação. É o latino-americano mais próximo de entrar no clube dos desenvolvidos.
A preocupação é que os petistas não estão apontando na direção da Coréia do Sul e do Chile. Eles não gostam deles, porque seus presidentes não dão declarações bombásticas, não xingam americanos, e sim vendem para eles. Os petistas estão apontando o Brasil na direção da Argentina e da Venezuela.
E, mesmo que não quebrem o País, quanto mais tempo permanecerem no poder, mais farão o Brasil perder tempo, enquanto os outros crescem.
Caro Luiz, a eleição de petistas ou tucanos não me afeta diretamente. Tão pouco se trata de modêlo sul ou norte coreano. Petistas ou tucanos podem se alternarem e eternizarem-se no poder, mas como sabiamente você destacou só retardarão o crescimento dso Brasil. crescimento que deve ser medido pela distribuição do PIB de forma justa e social. Sansung, Daewoo, LG, Hyundai,Kia Motors, são marcas do progresso do consumo dos supérfluos, saúde e educação são marcas do progresso dos humanos. Creio na sustentabilidade dos dois progressos, sem antagonismos ou rivalidades entre seus seguidores.
Somos cariocas acostumados aos tempos difíceis, não por isso devemos esquecer que outros, em todo o mundo, buscam espaço e lugar.
Há quem estranhe o jeito da presidente, por não ser nenhuma beldade, ter certo jeitão simples e deitar seu falatório sem rebuscamentos. Mas tenho a maior admiração por ela (estou falando da Bachelet).
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Mary, você continua com uma boa pegada.