Ainda que pelo avesso, Dilma Rousseff acertou uma. Depois da prisão de alguns dos donos do dinheiro – grandes empreiteiros que pagaram propinas a operadores da Petrobras –, o Brasil definitivamente não será o mesmo.
Embora não façam cessar a corrupção, as grades têm o poder de inibi-la e de ampliar a delação. Mais ainda depois da síndrome da bailarina, referência a Kátia Rabello, do Banco Rural, que, assim como os demais empresários condenados no mensalão, continua na cadeia enquanto os políticos, exceto o delator, cumprem suas penas no aconchego do lar.
Rompida a crença do silêncio como garantia de proteção, corruptos e corruptores perderam o constrangimento de dedurar. Falam, entregam provas, devolvem dinheiro roubado. Algo – é verdade, Dilma – nunca antes visto neste país.
A delação atemoriza, apavora. A paúra é geral.
Quanto mais a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça Federal do Paraná desvendam segredos do “clube” dos empreiteiros, mais o “clube” dos políticos arrepia. Afinal, um clube não existe sem o outro. E vice-versa.
Fala-se de 60 ou 70 políticos do PT, PMDB e PP. Nominalmente, já se aponta para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto (SP). Mas ninguém arrisca um palpite de até onde isso vai.
Teme-se, em especial, pelos VIPs. Assim como nem todos os empreiteiros participariam da elite do “clube”, entre os políticos não é diferente. Há poder de mando, hierarquia. Maiores e menores beneficiários de cada centavo desviado. Seja para o projeto político, seja para o próprio bolso.
Não por outro motivo, no PT e na base aliada, as disputas são acirradíssimas para colocar apadrinhados em postos-chaves do governo. Normalmente, naqueles que têm fatias mais generosas de recursos.
Petrobrás, fundos de previdência, Banco do Brasil e Caixa, além de ministérios obreiros, como Transportes e Cidades, são cerejas do bolo. Valem tapas, pontapés, todo tipo de golpe para assegurá-los.
Por ora, em vez do assanhamento que a reeleição deveria provocar, o “clube” político está em passo de espera. A paralisia é tamanha que até a presidente – talvez por temor de maior envolvimento dos seus – vem adiando o anúncio de mudanças na equipe.
Aos aliados, perturba a proximidade do ex Lula, responsável pela nomeação do delator Paulo Roberto Costa, e de Dilma, ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, com o que está vindo à tona. Aflige, sobremaneira, nada ter acontecido para desmentir a revelação do doleiro Alberto Yousseff de que Lula e Dilma sabiam de tudo.
Em pane, os políticos desse nefasto clube, acostumados a criar as regras, espreitam da várzea. Fazem de conta que não são os donos da primeira divisão. Dilma, inclusive.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 23/11/2014.
Dilma inclusive! É forte, muito forte!
“Nunca na história desse país houve tanta corrupção, e aprovada por 53 milhões mais 39 milhões de Pilatos, de cúmplices”.
Na verdade, Dilma Rousseff teve 54,5 milhões de votos no segundo turno. Os outros 39 milhões a que ele se refere são algo próximo da soma dos que se abstiveram ou votaram nulo ou em branco.
É bom que se diga, de novo: 53 milhões de eleitores aprovaram tudo isso e 39 milhões de eleitores lavaram as mãos. Já estava tudo sabido pelos jornais, pelo rádio, pela televisão, desde janeiro, e depois na campanha política. Então, não me venham dizer que não são cúmplices.
A Mary Dylan não percebeu que o meu voto – o nulo – era previsível, pela TOTAL AUSÊNCIA DE OPÇÃO. A tal cumplicidade está fora de questão. Ela mesma sabe disso.