Memória

O discurso de dona Dilma no dia de sua reeleição já era um tanto ou quanto diferente das palavras que proferiu em sua já tristemente célebre campanha eleitoral.

Poucos dias se passaram para que ela começasse a desmentir o que dissera com tanta empáfia ao seu oponente, sempre com aquele tom de voz e muxoxo de quem despreza o pensamento do outro por se achar o gênio que saiu da garrafa.

Não sei, nem consigo avaliar, que tipo de enlevo ocupa o cérebro do candidato a ponto dele só ‘reencarar’ a realidade acabada a festa. Deve ser uma espécie de embriaguez a seco.

Mas quando dona Dilma deu de frente com a herança de si mesma, fez o que lhe cabia fazer: começou a cuidar de salvar o que lhe restava de governo e de Brasil.

Você é daqueles que se aborrecem com isso?

Pois eu não. Gosto muito mais do Brasil do que desgosto dos governos Lula/Dilma e espero que dona Dilma, ao entregar o comando da área econômica à trinca que escolheu, passe o comando a esses senhores e deixe que eles resolvam aquilo que ela não soube resolver.

O que aborrece, assusta e indigna são:

* o modo como dona Dilma lida com a Imprensa e com os cidadãos. Bastou a Imprensa informar os nomes dos futuros titulares da Fazenda e do Planejamento para dona Dilma adiar o anúncio oficial, ao que parece zangada com o que chama de vazamento. Era preciso que alguém lhe dissesse que era sua obrigação, e nosso direito, que essa informação fosse a manchete em todos os jornais do país, o mais rápido possível;

* o que estão tentando fazer com a LRF, abençoada lei de 2000 que impediu, até agora, que os estados e municípios brasileiros, quer dizer, nós, fôssemos à garra;

* as notinhas onde há a tentativa de diminuir o excelente trabalho da Justiça Federal, do Ministério Público e da Polícia Federal. Como uma entrevista (ao Blog do Noblat) do novo relator do TCU a quem caberá analisar os processos advindos da Operação Lava-Jato, José Múcio Monteiro, onde ele diz que a PF está fazendo charme e mais: “vou ter que fazer a depuração. Tudo de Petrobrás, qualquer processo”.

Depuração? Não quero ser injusta; assim como no Recife grampo de cabelo é biliro, quem sabe lá depurar não é limpar, purgar, purificar? Torço para que seja esse o caso.

A corrupção na Petrobrás não começou com o PT. Recebeu foi um fermento poderoso nos governos Lula/Dilma e hoje ameaça engolir a empresa que, se não for sanada, levará de roldão outras empresas estatais.

Somos uma Democracia. Sofremos vários golpes para chegar até aqui. Não queremos retroceder e, para isso, é preciso muita atenção, impedir que o Governo Federal ponha tudo a perder.

Mais uma vez: o Brasil é nosso, não pertence a nenhum partido político.

É bom ter isso bem gravado na memória.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 28/11/2014.

2 Comentários para “Memória”

  1. Tenho gravado na memória a descrença dos ingênuos quanto a existência do petróleo por estas bandas. Sofremos vários golpes até chegar aqui. Os cínicos se fazem de ingênuos para continuar golpeando, gravemos na memória.

  2. MEMÓRIA.

    No terceiro turno que está em jogo, a presidenta eleita parece levar mais em conta as forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram.

    Os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas.

    As propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu.

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