Tiros de canhão ou finos punhais, os insultos, na velha e clássica Hollywood, deram histórias saborosas. Conto.
metade de Garbo é muito melhor do que um Mayer inteiro
- Creio que foi no dia em que o agente de Greta Garbo veio anunciar ao produtor Louis B. Mayer, senhor todo-poderoso da MGM, que a secretíssima actriz abandonava o cinema. Fosse como fosse, Mayer, que tudo levava como ofensa, não era de levar ofensas para casa: “Diga à senhorinha Garbo que os homens americanos não gostam de mulheres gordas.” Logo Mayer, que era tão feio.
Deus é grande: vê-se bem que não era mesmo nenhuma lady
- Bette Davis e Joan Crawford, dois imensos galos na capoeira da Warner Bros, odiaram-se à primeira vista. Disse Davis: “Porque é que sou tão boa a fazer de cabra? Penso que é por não ser uma cabra. Se calhar é por isso que a Crawford faz sempre de lady.” Mas Joan Crawford morreu. Bette Davis foi piedosa: “Lá porque ela morreu não quer dizer que tenha mudado.”
Dá deus beijos a quem não tem nozes
- É a cena de Some Like it Hot em que todo e qualquer homem, vesgo, coxo, careca, se ofereceria para ocupar o lugar de Tony Curtis. Fazendo-se passar por um milionário de combustão lenta, Curtis pede a Marilyn Monroe que o vá beijando para ver se o motor pega. E se Marilyn o beija: frontal, horizontal, vertical, obliquamente. A um jornal, Tony Curtis declarou: “Foi como se estivesse a beijar Hitler.”
O táxi
- Se bem sei, o misantrópico Howard Hughes até apreciaria o másculo Clark Gable, embora com a pontinha de inveja que se adivinha nesta sintética descrição: “As orelhas dele fazem-no parecer um táxi com as duas portas abertas.”
Mil sins são mais bonitos do que um não
- Da exótica Merle Oberon, que consta ser filha da sua própria irmã e não da sua mãe, a escritora Dorothy Parker disse o que só uma mulher se autoriza a dizer de outra: “Fala dezoito línguas e em nenhuma sabe dizer não.”
Música de Osmond aos ouvidos de Dean Martin
- O actor Cliff Osmond entrou em quatro filmes de Billy Wilder. Na audição para Kiss Me Stupid, filme tão subvalorizado que já quase é só meu. Osmond tinha de cantar – no filme, era um compositor – e Wilder teve de o ouvir. Cantou. O crudelíssimo austríaco suspirou e disse-lhe: “Cliff, querido Cliff, tens o ouvido de Van Gogh para a música.”
Este artigo foi originalmente publicado no semanário português O Expresso.
Manuel S. Fonseca escreve de acordo com a antiga ortografia.