A cada dia fica mais enrolada a farra de ingressos da Copa flagrada pela operação Jules Rimet da Polícia Federal. Gente graúda da Fifa envolvida em um esquema milionário que traficou centenas de entradas Vips e outras menos glamorosas. Um danado de um escarcéu em que a vítima é a própria Fifa – única arrecadadora do valor dos ingressos – e os otários que caíram no conto dos cambistas, pagando caro por algo que sabiam ser ilegal.
Nada semelhante está sendo feito para investigar e punir outra folia bem mais grave: a farta distribuição de ingressos paga com o dinheiro público. Nesse caso, lesando os cidadãos que pagam impostos, trabalhadores que passam longe dos estádios.
A denúncia feita pela revista Veja desta semana, apontando que o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, apropriou-se do pacote de 72 ingressos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), uma das patrocinadoras oficiais do Mundial, mereceria, no mínimo, igual dedicação dos investigadores.
A ideia da Apex era brindar empresários estrangeiros com as entradas, em um assertivo gesto de marketing. Qual o quê. O ministro os distribuiu entre parentes, companheiros de trabalho e amigos, alguns com direito a acompanhante.
Flagrada, a secretária do Ministério valeu-se do melhor dilmês para justificar sua presença no Mané Garrincha, em Brasília: “Fui ao jogo em uma atividade de representação, porque, como secretária, tenho de cumprir atividades em um conjunto de eventos sociais. Levei um acompanhante de ordem pessoal, porque o jogo é um evento de natureza social como vários outros.”
Entenderam?
Na semana anterior, ingressos-cortesia teriam sido o estopim de um severo mal estar entre o prefeito Fernando Haddad (PT) e a Câmara de Vereadores de São Paulo. De uma só tacada os líderes do Parlamento municipal rejeitaram a oferta de 16 ingressos e a proposta do prefeito de transformar em feriado os dias de jogos da seleção brasileira.
O câmbio negro de ingressos é crime. Se feito por gente da Fifa ou ligada a ela, ganha contornos ainda mais sensacionalistas. Parece até que trambicagem e corrupção são novidades dentro da Federação que promove a Copa. Não são. Muito menos entre nós. A diferença é que as cortesias dos governos petistas são feitas com o nosso chapéu.
7/7/2014
A prisão no Copacabana Palace de Raymond Whelan, diretor da Match, o braço da Fifa para venda de ingressos, é mais um dos gols que a polícia brasileira faz nesta velha prática da transnacional do futebol e um legado inestimável nesta Copa brasileira.
A resposta da tal secretária é digna de um “quadro”! Ótimo texto, Mary.
Acredito que no Brasil as coisas devem ser mais ainda pra essa canalhada.