As jabuticabas eleitorais

Mais  três jabuticabas de nossa frondosa árvore amadureceram esta semana: a proposta de diálogo com os terroristas  decepadores de cabeças do Estado Islâmico, a onda da razão que não chegou até a praia, e a substituição definitiva das lideranças políticas pensantes por marqueteiros que plantam ilusões, vendem mentiras, e colhem milhões.

A teoria da jabuticaba, desenvolvida pelo escritor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, que ainda pretende apresentá-la formalmente à comunidade acadêmica, consiste em defender soluções exclusivamente brasileiras para qualquer assunto contra qualquer evidência lógica em sentido contrário.

Foi o que Dilma Rousseff  fez na ONU, antes e durante o discurso de abertura da assembléia geral, formalidade que o protocolo reserva ao chefe de Estado Brasileiro desde 1947.

Depois de lamentar “profundamente” o ataque  aéreo realizado pelos EUA em território sírio contra os terroristas do Estado Islâmico (ISIS), ela disse:

– O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, o acordo, a mediação da ONU.

Uma platitude ginasiana, que infantiliza a diplomacia brasileira, como se o ISIS fosse uma organização política legítima com quem se pode sentar à mesa e negociar (O que? A forma mais humana de cortar cabeças ?) e não um grupo jihadista sunita que estupra, mata, decepa as cabeças de mulheres e de “infiéis” e espalha o terror, repelido pelos Estados Unidos e uma coalizão de 50 países, pela própria ONU e até pela “moderada” Al Qaeda.

Como se isso fosse pouco, a presidente usou metade do tempo de seu discurso para contar ao mundo as maravilhosas realizações de seu governo, como se o horário obrigatório de propaganda eleitoral tivesse sido imposto ao mundo.

Uma jabuticaba amarga.

Uma jabuticaba eleitoral foi plantada pela campanha de Aécio Neves, que resolveu batizar  um esboço de reação nas pesquisas como o início de uma “onda da razão”, que iria varrer o país para transformar todos os eleitores em filósofos cartesianos.

Onda de razão é uma contradição em termos, quase um oxímoro, como Partido do Socialismo e da Liberdade. Assim como não se conhece uma experiência concreta da convivência de socialismo com liberdade, o significado da palavra “onda” simplesmente exclui a possibilidade de sua convivência com a razão. Ondas são emocionais, turbulentas, irracionais – a antítese da razão.

Um “wishful tinking”  inventado pelos marqueteiros do neto de Tancredo Neves, com ínfimas chances de dar certo.

A terceira jabuticaba  é a nova roupagem do nosso velho conhecido: o  pensamento mágico, aquele que cria do nada o dinheiro com que o governo paga as suas contas, e que, temperado com uma certa dose de delinquência intelectual, transforma Marina Silva em uma “neoliberal”.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em  26/9/2014. 

2 Comentários para “As jabuticabas eleitorais”

  1. Depois de laranjas e bananas durante anos e anos, jabuticabas passam a ser uma novidade, mesmo que indigestas.

  2. Vamos trazer mais informações para o Sr. Vaia:

    A negociação torna-se necessária em alguns contextos de guerra assimétrica, e mesmo numa operação policial onde um bandido entre na casa duma velhinha em Cuiabá.

    Oito policiais cercam a casa, para NEGOCIAR com um único bandido armado e disposto mesmo a decepar a velhinha.

    O imperialismo aprendeu, no Vietnã, que pouco adianta jogar, lá, mais bombas do que as jogadas na 2.ª Guerra; é preciso também botas e coturnos no chão.

    Se o ISIS controla territórios empoeirados e resiste com bravura, será preciso NEGOCIAR com eles.

    Arrogância imperial nem sempre resolve. Pode ser preciso NEGOCIAR.

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