Numa campanha milionária e feia, indigna de um ex-presidente, dizendo tudo que lhe vinha à cabeça porque o importante era a vitória de dona Dilma, não por ela, nem pelo Brasil, mas por ele mesmo que, em 2018, quer de volta a faixa presidencial, Lula venceu mais uma vez.
Em um vídeo gravado anteontem no Instituto Lula, o ex-presidente, além de queixar-se amargamente das agressões sofridas pelo angelical PT, fala em tom calmo e civilizado, com palavras bem escolhidas, num linguajar em tudo diferente do usado nos palanques. Devemos ser justos: que grande ator é o Lula!
Veja bem, ilustre eleitor: Lula mal conseguiu sua quarta vitória, já está a caminho da quinta. E disso parece não fazer segredo. Desta vez, apesar de todos os truques mirabolantes, a vitória foi apertadíssima. Coisa pouca, mesmo. Como será daqui a quatro anos, é o que me pergunto.
Numa reviravolta tipicamente lulesca, ele transformou a candidata ‘coração valente’ em doce e frágil avó e mãe quando Aécio Neves, referindo-se à calma com que dona Dilma tirava da cartola números e dados sem base na realidade, disse que ela estava sendo leviana.
Lulão achou isso o cúmulo! Um homem agredir assim uma avozinha! De Aécio Neves ele podia dizer tudo que queria, afinal falava de um homem. Foi o momento macho-man dos debates!
Assustando o povo que não é bobo, ele e dona Dilma insistiram que Aécio e Fraga, admiradores de juros altos e dos bancos, elevariam os juros de imediato, coisa que o PT, com seu amor aos pobres, abomina.
Lembra de quando o Lula ia acabar com a poupança, mas quem acabou foi o Collor? Pois é… a três dias da reeleição, a taxa Selic foi a 11,25%!
Surpreso, leitor? Não fique: o inacreditável ministro Mantega não disse que a vitória do PT se deve à aprovação da política econômica do Governo?
Voltemos à avozinha, que vamos encontrar na festa do PT.
Dona Dilma leu direitinho o Discurso da Vitória, apesar da platéia desinteressada que a interrompia com gritos de Lula! Lula! Deixou de mencionar a oposição e de cumprimentar Aécio Neves que, por pouco, muito pouco, não lhe tirou a faixa.
Comprometeu-se, outra vez, ao diálogo: com os seus, naturalmente. Disse não acreditar no Brasil dividido, mas ressaltou que vai lutar pela união! (Creio que ela se referia a unir o Legislativo ao Executivo, tarefa muito maior do que ela.)
Falou do tal plebiscito que traria a mudança para, no dia seguinte, dizer que tanto faz plebiscito ou referendo!
No palco, onde podíamos ver os mais variados tipos da fauna política deste país, uma ausência chamou minha atenção: a de Marisa Letícia. Petista de primeira hora e aguerrida defensora do marido e do partido, foi intrigante a sua ausência. Espero revê-la no parlatório no dia da quarta posse.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 31/10/2014.
Se for contra o PSDB e Aécio dá Lula pela quinta vez. Uma oposição que já começa derrotada é muito ruim para o país. Morreram, Campos, Marina e Aécio. Em 2018 quem poderá encarnar a mudança que se faz necessária? FHC? Para enfrentar o pernambucano existe um volume morto de 40 milhões de abstenções. Se a água chegar ao nordeste pela transposição do velho Chico até São Paulo se renderá!
Falando nisto após uma campanha de lama que tal um bom banho chamado de reforma política?
Que maravilha de texto! Adorei o sarcasmo e a ironia fina. Meio que precisava ler algo assim desde domingo, quando fiquei com um misto de revolta, frustração e tristeza preso na garganta.