“Moço, Olha o vexame.
O ambiente exige respeito.
Pelos estatutos da nossa gafieira
Dance a noite inteira
Mas dance direito”
Assim começa o samba do saudoso Billy Blanco, “Estatutos da Gafieira”. Música e letra que não me saem da cabeça desde que vi a foto de um deputado, vice-presidente da Câmara, acintoso e arrogante, ser extremamente grosseiro e, em plenário, fechar o punho naquele gesto que Lênin e Hitler usaram como incitamento à luta fratricida.
Na gafieira Elite, por exemplo, André Vargas teria sido expulso no ato por desobedecer ao Artigo 120. Mas na gafieira em que se transforma rapidamente o Brasil, o real e o virtual, o deputado se comportar como um moleque e desrespeitar o Presidente do Poder Judiciário e, no mesmo embalo, a mais alta Corte do país, foi visto pelos militantes como um desagravo à injustiça perpetrada contra os pobres mensaleiros.
Pelos militantes fanáticos, deve ser dito. Porque a grande maioria da população brasileira adoraria baixar a crista desrespeitosa do deputado paranaense.
Não sou das que simpatizam com o ministro e já disse isso aqui. Acompanhei todo o julgamento do mensalão e raro era o dia em que eu não me assustava com o comportamento áspero do ministro. Não creio que para fazer Justiça seja necessário o pavio curto que ele parece cultivar. Ou que o ostracismo deva fazer parte da pena.
Mas o fato é que sob seu comando o STF conseguiu o que nenhum de nós acreditava ser possível: ver pessoas graúdas encarceradas por corrupção! Com punho fechado ou não, foram parar na Papuda os que se achavam superiores ao resto do país e que por isso se sentiam muito seguros, à vontade para pintar e bordar com o Tesouro Nacional.
É imoral a tentativa de pôr nas costas de Joaquim Barbosa a sentença final do mensalão. Isso é pura má fé, já que todos sabem que aquela corte é composta por onze juízes, cujas palavras têm o mesmo peso.
O PT tenta desqualificar o STF para fazer de seus condenados vítimas de perseguição política, o que é, essa sim, a verdadeira piada: um colegiado de onze juízes onde oito foram nomeados pelo partido que detém o poder há 12 anos, ser acusado de injustiça contra os corruptos que o partido do governo quer transformar em heróis!
Mas como a banda não pára de tocar, o fugitivo Pizzolato foi encontrado e preso. Tudo ainda está muito nebuloso… Ele sair daqui com passaporte do irmão morto tem lógica, escapava assim da Interpol. Mas na Itália, onde é cidadão? Era tão fácil gritar Aiuto! Ladri! Ladri! e dizer que fora assaltado e ficara sem os documentos. O enredo rocambolesco é muito estranho.
Aí entra mais uma vez minha discordância com o ministro Barbosa. Por exemplo, ostracismo e pena de silêncio para o Pizzolato? Nunca! Que ele fale, e muito, são meus votos. A gafieira precisa voltar a respeitar os estatutos!
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 7/2/2014.
A charge de Chico Caruso foi publicada em O Globo de 5/2/2014.
É isto aí, este Brasil de mulatos inzoneiros é realmente uma grande gafieira!