Confesso que sou uma das que caíram no conto do incomum. Não que eu tenha por um segundo sequer aceitado a tese defendida por Lula de que a Sarney, por ser um brasileiro incomum, tudo seria permitido.
Não é por aí. O que acontece é que desde que um ouriço caiu de cima de um poste sobre a cabeça de uma senhora que passeava com seu cãozinho numa calçada da Gávea, bairro carioca urbanizado há muito mais de um século, fiquei encucada com o fato: um ouriço num poste na Gávea?
Logo em seguida, leio que um gavião causava tumulto voando nas ruas da Barra e que foi difícil capturar o predador. Como fã de histórias de mistério e suspense, comecei a achar que isso era um plano escalafobético contra o Rio.
Sensação que piorou quando na mesma tarde ouço sirenes de Bombeiros em frente ao meu prédio e quis saber onde era o incêndio. Que, graças a Deus, não era.
O que aconteceu foi que um macaco, atenção, não era um mico, era um macaco, se instalara numa árvore da Rua Conde de Bonfim, a principal rua do meu bairro. Seu comportamento deixava muito a desejar, o que fez com que alguns moradores da vizinhança chamassem os Bombeiros. Não acompanhei a retirada do visitante mas soube depois que ele deu muito trabalho.
Então me ocorreu que o Sarney não é incomum. Incomuns são os que aceitam numa cidade como o Rio ouriços, gaviões e macacos em suas ruas e em Brasília sempre os mesmos políticos no Poder Legislativo, como se isso fosse muito natural. Não é.
Incomum é ter um deputado condenado pelo STF com o mandato ainda em vigência e ver o vice-presidente da Casa defendendo que ele continue deputado, saindo para deputar de dia e voltando ao presídio à noite!
Incomum é saber que o convidado para ministro da Saúde é investigado por improbidade administrativa pelo Ministério Público Estadual e ler que o ministro que sai não comenta a investigação mas elogia o convidado, dizendo ‘Ele é de casa!’. Nunca o ministro Padilha fez comentário tão preciso.
Incomum é saber que um governador do Rio Grande do Sul foi condenado, em primeira instância, por improbidade administrativa.
Incomum é ver um ex-ministro da Defesa, um jurista, colaborar com a arrecadação de fundos para o pagamento da multa de um condenado pelo mesmo Supremo Tribunal Federal do qual ele foi presidente.
Incomum é o amapaense que escolheu para seu senador um senhor que mora em Brasília e passa férias na Praia do Calhau em São Luís do Maranhão, uma localidade a meros 805 km em linha reta de sua heróica capital, Macapá.
Incomum o Sarney? Não. José Sarney, envergando um jaquetão e pintando os cabelos, conquistou o Maranhão como capitania hereditária onde sua família manda e sobretudo desmanda, e o Amapá como sede senatorial.
Sarney é o típico político brasileiro, comum até o ultimo fio dos bigodes. Incomuns somos nós, os eleitores.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 24/1/2014.
Excelente texto!!
Realmente, incomum é a passividade do povo brasileiro.
Abc.
Rafael
A passividade do povo brasileiro nunca foi incomum, sua indignação invade a internet e invade as ruas em manifestações e nos rolezinhos em shoping centers.