O grito da sirene morre em uma freada brusca. A equipe desce do carro e invade o restaurante, com a autoridade da fiscalização. “Aqui está tudo certo, casa limpa, alimentos frescos, higiene absoluta” – defende-se o dono. “Sim”, diz o fiscal. “Mas o senhor está preso e vamos enforcá-lo.” O acusado protesta: “Como? A Vigilância Sanitária não pode fazer isso”. E o fiscal, com ar de enfado: “Meu amigo, nós somos da Zeladoria Gramatical. Sua casa pode estar perfeita, mas essa sua ‘comida a kilo’ é crime hediondo. Renda-se”.
Um momento, apela o indigitado. “Por que kilo está errado, se o símbolo de quilo é K?” “Além disso, não se trata mais de gramática, mas de marketing. Kilo virou uma marca, é a maneira de cunharmos nossa casa.” O fiscal balança, põe-se a meditar. O outro prossegue: “Afinal já existem marcas que trocam o ch por x, s por z… por isso eu sugiro que a fiscalização seja menas rigorosa”. Menas! O fiscal saca o revólver e liquida o criminoso ali mesmo.
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O Departamento de Imagens Ultrapassadas da Zeladoria Gramatical (DIU/ZG) está agitado. O chefe espuma: “Como é possível isso, em pleno Jornal Nacional? O senhor tem certeza?”. “Sim, está gravado”, responde o subalterno. “O locutor disse que a economia nacional está a todo vapor.” O chefe não se conforma: “Como a todo vapor? O que poderia estar assim era o navio a vapor, que naufragou no tempo. Ou a locomotiva a vapor, que descarrilou na História. Foram desativados há décadas.” “Décadas!”, vocifera o chefe, antes de tombar no chão.
Os jornais noticiaram que o chefe do DIU/ZG faleceu ao dar entrada no hospital. “Ora”, ponderou o encarregado de expressões batidas, “por que no noticiário as pessoas sempre morrem ao dar entrada no hospital? Por que não antes de chegar, ou depois de internadas?”. O encarregado telefonou para a assessoria de dúvidas e fez a pergunta. A moça que atendeu, uma ex-repórter de televisão, respondeu imediatamente: “Tudo começou quando…”.
O encarregado preparou o revólver para se dar um tiro no ouvido, mas nesse momento a porta se abriu e o contínuo avisou, agitado: “O enterro do chefe vai ser no sumitério perto do aereoporto. “O teu também” – disse o encarregado. E atirou, embaralhando as atribuições.
Nota do administrador: Valdir Sanches publicou o texto acima no Jornal da Tarde muito antes de o governo petista endossar o uso de frases do tipo “Nóis pega os peixe”.
O Departamento de Imagens Ultrapassadas da Zeladoria Gramatical (DIU/ZG) vai matar o Lula para felicidade do administrador.