O que Nelson Mandela fez pelo ser humano jamais será suficientemente valorizado. A vitória sobre o apartheid em seu país é obra de gigante. Acho incrível quando ainda leio críticas à sua atuação como administrador. Não basta ele ter conseguido que brancos e pretos andem na mesma calçada, frequentem a mesma escola, sejam tratados pelo mesmo médico? O que hoje parece tão comum – não é? – antes de Mandela era impensável.
Nelson Mandela tinha uma força espiritual descomunal. Nasceu no século 20, viveu 13 anos no século 21, resistiu bravamente a 27 anos de encarceramento e saiu da prisão com a mente ágil e o coração generoso.
Foi a maior figura destes dois séculos e duvido que apareça alguém para lhe fazer sombra. Se Martin Luther King tinha um sonho, Mandela tornou esse sonho realidade.
Mas não foi essa a única herança que ele nos deixou. Mandela apoiou a excelente ideia de Richard Branson, empresário, e Peter Gabriel, músico, e deu vida ao The Elders.
O grupo é formado por homens e mulheres que não estão ligados a interesses específicos de uma só nação, governo ou situação. Estão comprometidos com os interesses da humanidade como um todo e com os direitos humanos. Acreditam que em qualquer situação de conflito o importante é ouvir todos os lados, por mais impopulares ou intragáveis que sejam.
Pretendem agir sem meias palavras, dizer o que pensam, enfrentar tabus; sabem que não têm todas as respostas e estão convictos que todo ser humano é igualmente importante e pode colaborar com a solução que fará a diferença e influenciará positivamente a sociedade.
Trata-se de uma organização incomum, com um modo de operar insólito, que usa seu poder coletivo para abrir portas, acessar os que detêm o verdadeiro poder e caso seja necessário, levar a público as injustiças que clamam por conserto.
Eles não se acham o sal da terra, não buscam crédito para as soluções que alcançam, apoiam os esforços de outros grupos que advogam o bem da humanidade e até ampliam suas vozes.
Da esquerda para a direita: Graça Machel, Fernando Henrique Cardoso, Desmond Tutu, Jimmy Carter, Mary Robinson, Kofi Annan, Nelson Mandela, Gro Harlem Brundtland, Martti Ahtisaari, Ela Bhatt, Lakhdar Brahimi – Joanesburgo, 2010 – Foto: The Elders/Jeff Moore
Mandela, em 18 de julho de 2007, disse ao lançar o The Elders: “Vamos chamá-los Global Elders, não por causa de sua idade, mas por sua sabedoria individual e coletiva. É grupo que não deriva sua força do poder político, econômico ou militar, mas de sua independência e integridade. Não têm carreiras para construir, eleições a ganhar, eleitorado a conquistar.”
A semente do The Elders só frutificou porque caiu nas mãos de um homem brilhante, filho de uma tradição onde os anciãos, quando independentes, íntegros e sábios, são consultados e respeitados.
Jogada numa sociedade onde aos 70 anos deita-se fora a experiência de uma vida, onde a vivência é dispensável, onde ser idoso é um anátema, seria apenas mais uma ideia que não deu certo.
Quer saber mais? Leia em The Elders.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/13/2013.
Não ter nada para fazer é a felicidade das crianças e a infelicidade dos anciãos.
Em 50anosdetextos suprimo minha infelicidade.
A felicidade está em fazer alguma coisa, mesmo que insana.