Thaddeus Stevens, um político e tanto

‘Dentre as manias que eu tenho’… uma é nunca assistir filmes ou ler livros que estejam no topo das listas logo que vêm a público. Não sei o motivo dessa birutice, mas com livros sempre foi assim. Comprava o livro e só ia lê-lo algum tempo depois.

Com os filmes era mais complicado. Só não ia assistir nos primeiros dias, esperava um pouco. Nisso, o progresso me foi favorável. Hoje compro o DVD e vejo quando quero.

Foi o que aconteceu agora com Lincoln, que amei! É um filme palavra. Sem desfazer das interpretações magistrais, ou da reconstituição brilhante da época, são os diálogos que apaixonam.

zzthaddeusAbraham Lincoln foi um homem fora de série. Sua força moral, sua postura de homem público, seus discursos, suas cartas, seu relacionamento com Mary Todd, sobre tudo isso eu já lera. Diante do monumento a ele em Washington, D.C., fiquei muito emocionada e chorei. Segundo Spielberg, há mais de 700 biografias dele. Li duas, interessantes as duas, mas dizem que essa em que o filme se baseou é simplesmente sensacional. Pretendo ler.

Mas o que o filme fez de melhor por mim foi me apresentar a um personagem da história americana que eu não conhecia. Ou, pelo menos, para não desfazer dos livros onde estudei a história dos EUA, ele era mencionado sem muito destaque.

E, no entanto, segundo o filme e de acordo com pesquisas após ver o filme, Thaddeus Stevens fez pelos americanos o que Joaquim Nabuco fez pelos brasileiros.

Aqui não houve necessidade da força bruta. Mas nos EUA a Guerra Civil foi terrível. E Stevens foi dos que mais pugnaram pela guerra total. Olhem o que ele disse em 22 de janeiro de 1862:

“Não nos deixemos enganar. Aqueles que falam em paz dentro de 60 dias são políticos sem tutano. A guerra não terá fim até que o governo reconheça a imensidão da crise; até que perceba que essa é uma guerra que vai durar até que uma das partes tenha seu poder de reagir totalmente aniquilado. É triste, mas essa é a realidade”.

Ele achava que isso não ocorreria enquanto o Sul contasse com seus escravos para cultivar os campos e que o Norte, apesar de seus milhões de combatentes e incontável riqueza, não conquistaria o Sul com uma guerra que era quase que um ‘desacordo’ entre cavalheiros. Dizia que enquanto os estados sulistas contassem com mão de obra escrava, a União podia desperdiçar o sangue de milhares e bilhões de dólares ano após ano, sem nunca se aproximar de uma solução. A escravidão, segundo ele, dava muita vantagem ao Sul.

zzthaddeus2“Se os escravos não cultivassem algodão e arroz, tabaco e grãos para os rebeldes, esta guerra terminaria em seis meses”.

No dia da votação, 31 de janeiro de 1835, foi dele a tirada magistral que deu a vitória à 13ª emenda. Para não afastar os votos dos favoráveis ao fim da escravidão, mas que não rezavam pela cartilha da igualdade total, os inimigos querem forçá-lo a repetir em seu voto que acreditava na igualdade absoluta. Saída de Stevens: “Não acredito na igualdade entre todas as coisas, apenas na igualdade perante a Lei, e nada mais”.

No filme ele é interpretado por Tommy Lee Jones, num trabalho magnífico! É a terceira vez que o personagem é apresentado em um filme: Griffith, em O Nascimento De Uma Nação (1915), o apresenta como um congressista fanático, meio patife, mas bastante tosco; num filme de 1942 sobre a vida do presidente Andrew Jackson, interpretado por Lionel Barrymore, ele é retratado como um vilão fanático…

Ainda bem que Steven Spielberg pôde contar com a mais recente e completa biografia de Lincoln e sua luta pela abolição. Fez-se justiça a Thaddeus Stevens.

15 de maio de 2013

5 Comentários para “Thaddeus Stevens, um político e tanto”

  1. Concordo. O personagem no filme é fortíssimo e Tommy Lee Jones faz jus à sua capacidade interpretativa. É um ator de múltiplas facetas.

  2. Não é que troquei as tintas? Em vez de 31 de janeiro de 1865 escrevi 1835! Corrija, por favor, blogueiro! Caso contrário, a Marina nunca vai confiar em mim…
    Obrigada,
    MH

  3. A resistência do Sul, em prol da escravidão, é a mesma resistência contra a reforma agrária aqui no Brasa…

    Mas aqui não temos Nova Inglaterra.

    Que tal a Maria Helena emocionar-se diante da estátua de Zumbi? Vai se emocionar ou vai apenas repudiá-lo e chamá-lo de líder comunista?

    A escravidão acabou através da violência nos EUA e TAMBÉM no Brasil, onde os negros faziam guerrilha contra o latifúndio. A própria Palmares incluiu guerrilha.

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