Os Poderes são três, mas só um tem a força das armas e o controle efetivo da execução orçamentária. Será esta a origem da surpresa pública ao um deles se pronunciar de forma independente nos dias de hoje? Nossa história é rica de episódios em que o confronto entre estes três vetustos senhores, os Poderes da República, pouco ajudaram na afirmação de nossa incipiente democracia.
Vamos para 1968, quando o Congresso contrariou o Executivo na sua pretensão em processar o deputado Marcio Moreira Alves. O Congresso foi fechado! O Executivo pode fechar o Congresso? Bom, o Executivo baixou o AI-5 dizendo que o Judiciário, nosso STF, não poderia apreciar seus atos, quanto mais julgar ou rever. Essa alteração da Constituição Federal batizada de Ato Institucional nº 5 era “constitucional”, para usar o termo da moda ? Será? Voltemos a fita mais um pouco; veremos que tradicionalmente, nos períodos revolucionários, o Congresso foi fechado várias vezes, mas o Supremo Tribunal Federal nunca. Este sempre acatou o poder de fato do Executivo, fosse este qual fosse, ascendido ao poder de que modo fosse.
O Supremo deixou de reconduzir Café Filho à Presidência da República – da qual havia se afastado por doença -, denegando um mandado de segurança. Nas palavras do insigne e festejado ministro Nelson Hungria, “Contra uma insurreição pelas armas, coroada de êxito, somente valerá uma contra-insurreição com maior força. E esta, positivamente, não pode ser feita pelo Supremo Tribunal, posto que este não iria cometer a ingenuidade de, numa inócua declaração de princípios, expedir mandado para cessar a insurreição. (…) O impedimento do impetrante para assumir a Presidência da República, antes de ser declaração do Congresso, é imposição das forças insurreicionais do Exército, contra a qual não há remédio na farmacologia jurídica. Não conheço do pedido de segurança”.
Na história do Brasil, o STF – diferentemente do Congresso – nunca foi fechado, reitere-se. Na democracia ou na ditadura, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença.
Hoje, o Supremo se afirma como Poder não pelo resultado em si da ação penal 470, cujo mérito aliás não é objeto deste texto, mas porque claramente adotou seus próprios critérios, seus próprios caminhos e sua própria linha de convencimento, sem levar em conta outros interesses; principalmente não levou em conta que seu julgamento divergia da vontade majoritária do atual Executivo. O resultado ofendeu claramente o partido político que dirige hoje o Executivo – o que não deixa de ser um fato inusitado. Noutros tempos, o Judiciário facilmente cederia ao argumento da força e da supremacia do Executivo.
Já imaginaram se, em 1968, o ministro Joaquim Barbosa de então, ao apreciar um hipotético mandado de segurança, julgasse inconstitucional a edição do Ato Institucional n º5 e determinasse a imediata reabertura do Congresso Nacional? Provavelmente a Praça dos 3 Poderes se transformaria numa praça de guerra sob o comando de um deles apenas.
Agora me ocorre por que o Executivo não cercou a praça quando o mesmo STF resolve condenar dirigentes do partido que, afinal, hoje comanda e sustenta politicamente o Executivo. A comoção pública, a mobilização popular seria de tal ordem desfavorável a uma solução desse naipe que não conseguimos sequer imaginá-la (embora nos seja muito fácil imaginar esse cenário em 1968).
Talvez seja este o grande legado de nossa geração, e aqui inclua-se por mérito nessa conquista alguns dos próprios hoje condenados na ação penal 470. A geração que implantou uma democracia em bases firmes e fortes que nos fazem rejeitar carros de combate nas ruas que não sejam para contenção da marginalidade.
Janeiro de 2013
Está aí uma análise sob um ângulo acerca do qual não havia pensado…
Sem entrar no mérito do papel do STF, o fato inusitado é que os reus foram vítimas da sua própria luta, ou, analogamente, beberam do próprio veneno…hehehe
Parabéns!
Bj
Existe o quarto poder, a mídia surreicional, que pratica a bajulação das elites e das velhas carpideiras que colocam em risco as bases da democracia, não tão firmes e fortes como supomos.O partido que está no poder não pode ser deposto. Os poderes republicanos devem ser harmônicos e respeitada a dinâmica de contrapesos. A mídia aliada a um deles pode levar ao retrocesso político. Em 64 houve a caminhada com deus e a liberdade com amplo apoio das grandes empresas jornalísticas.Nosso sonho é um STF forte e independente,um Executivo forte e eficiente e um Congresso forte e representante d sociedade. A mídia é o nosso medo.