Tá meio carnaval, meio zorra, meio suruba.
Tinha uma piada sobre suruba. Levaram um neguinho muito organizado, muito certinho, para uma suruba. Lá pelas tantas, o neguinho grita:
– Pára! Vamos parar com tudo! Vamos organizar!
Os amigos do cara comentaram: – “Ih, não devíamos ter convidado ele para a suruba. Ele sempre gosta de tudo muito certinho.”
E o cara insistia:
– Vamos organizar esse troço. Eu até agora só levei no cu, e não comi ninguém!
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O protagonista da piada é igualzinho ao povo de São Paulo – e das outras grandes cidades do país. Enquanto estudantes, punks, puros de espírito, skinheads, adeptos da tarifa zero, velhos revolucionários despertados pela gritaria, baderneiros, vândalos de todos os matizes, radicais dos PSTU e PCOs da vida e, certamente, aloprados nada aloprados mas muito bem pagos por gente que tem estratégia se juntam nas ruas dia sim, dia não, o povo, como sempre, se fode.
O povo. Essa entidade nunca muito definida.
O povo: as pessoas que andam de ônibus (ao contrário da imensa maioria dos “manifestantes”). As pessoas que trabalham duro. As moças que trabalham nas lojas da Teodoro Sampaio por um salário ínfimo mais comissão nas vendas (que deixam de fazer porque as lojas fecham por medo de depredação). As pessoas que terão seus salários descontados porque chegaram tarde ao trabalho por causa das “manifestações”. As pessoas que levam mais de duas horas para chegar do trabalho até suas casas, após um dia estafante de trabalho – e que, por causa das “manifestações”, vão levar três, quatro horas. O pequeno empresário que vê seu negócio afetado não apenas pelos absurdos impostos, mas também porque seus três ou quatro empregados se atrasam para chegar.
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Que tal combinar assim?
1) No Largo da Batata, a turma que protesta contra os 20 centavos;
2) Na Berrini, a turma que quer tarifa zero;
3) Na Paulista, os meninos que querem participar de alguma manifestação qualquer;
4) Na Praça da Sé, o povo contra o Alckmin;
5) No Parque Dom Pedro, os punks e skinheads;
6) No Largo da Concórdia, o PSTU, o PCO, e etc.
Como contra a corrupção e o desgoverno do PT não há ninguém mesmo, não há lugar sugerido para concentração desse povo inexistente.
18/6/2013
Sei que a situação é séria. Mas, ao mesmo tempo, é um tanto ridícula. Então peço licença para brincar com ela.
Muitos detestam sem-terra, sem-teto e povos indígenas. Abominam a idéia de que o direito à propriedade privada e ao desenvolvimento econômico não são absolutos. Mas os direitos humanos são interdependentes, indivisíveis e complementares. O que é mais importante? Direito à propriedade ou à moradia? Não passar fome, locomover-se livremente ou desfrutar da liberdade de expressão? Todos são iguais, nenhum é mais importante que o outro. Intelectuais que pregam o contrário precisam voltar para o banco da escola.
Neguinho?
O PT, aquele partido que um dia defendeu direitos inalienáveis e hoje larga a comissão de Direitos Humanos da Câmara na mão de um fundamentalista religioso, contou com alguns de seus cegos fieis para deslegitimar os protestos. Numa orgia de contradições e absurdos, blogueiros ditos “progressistas” viram nas manifestações um complô contra o PT e criticaram veemente até o direito a protestar.
O que dizem as ruas!
Buscarmos a compreensão de um fenômeno social complexo é a simplificação.
Não encontrar motivação para os recentes protestos que se espalharam pelas principais cidades do país, se procurarmos ENCONTRAREMOS questões mais gerais e universais ao lado de outros muitos temas locais e setoriais.
Há aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo aos do Rio e de Porto Alegre e, outros tantos, que os distanciam.
O papel da internet e das redes sociais é central e, em geral, os políticos e formadores de opinião não o tem compreendido minimamente.
Buscar algum grau de compreensão do atual fenômeno, a partir do ponto de vista de uma esquerda, de direita, de oposição que se coloca diante do dificílimo desafio de governar transformando, é tarefa complexa, difícil e requer honestidade a análise.
O que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do NOVO BRASIL
A revolução democrática, levada a termo pelos governos FHC/Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório.
As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exige uma REFLEXÃO adensada.
As conquistas sociais dos últimos anos vieram acompanhadas da despolitização da política, de uma onda conservadora que constrange o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda ou direita, distanciando, ainda mais, a juventude da política tradicional.
Frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista, o que têm feito os partidos políticos?
Os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem nossos parlamentares progressistas?
Os 20 anos de governos democráticos no país nos deixaram um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos.
Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros.
O transporte nas grandes cidades é um drama cotidiano para milhões de brasileiros. Temos pleno emprego em diversas regiões metropolitanas do país e, no entanto, ainda temos um oceano de precariedade e informalidade.
E aqueles que ingressaram na sociedade de consumo nos últimos anos, legitimamente, querem mais: anseiam por cultura, lazer, mais e melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes.
São os efeitos colaterais de toda experiência exitosa de redução das desigualdades sociais e econômicas.
Evidentemente, há ainda o afastamento e o desencantamento com a política e os políticos.
A denominada “crise da representação” não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país.
Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em aproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos.
O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano e há setores sociais que se sentem completamente alheios (e marginalizados) ao processo de “modernização” da cidade.
Em São Paulo, temos uma polícia orientada para o uso desmedido e desproporcional da força e da violência – e isso não diz respeito somente aos dias de protestos. Também há ali um tipo de violência estrutural contra homossexuais e mulheres sem que o Poder Público organize qualquer resposta mais contundente. Poderíamos estender a lista.
Seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá.
Refutar a idéia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das “elites” é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos.
Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação das instituições democráticas. contra as diversas formas de privatização dos recursos.
É hora de reforçarmos nossa capacidade de dialogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas – a mesma que os regimes totalitários sempre buscaram silenciar.
Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude.
Sim, Thiago, neguinho. Por quê? Há algum problema? Não sei no seu Aurélio, mas no meu tá lá: “Nego – 1. Bras. Fam. Pop. Camarada, amigo, companheiro.”
Um abraço.
Sérgio
È Thiago neguinho organizado e certinho pode haver. Quando há, levam pra suruba e comem o cú dele.