Nelson Rodrigues nos tatuou com essa marca. Agora mesmo houve quem sugerisse que demos uma de vira-lata ao permitir que o Henrique Pizzolato, cidadão italiano, levasse para fora do Brasil o pendrive do Henrique Pizzolato, cidadão brasileiro.
Você não faria o mesmo?
Sei o que levou o escritor a nos chamar de vira-latas, o que não sei é se ele concordava com a tese de que somos vira-latas por conta da miscigenação que nos formou. Nesse aspecto, estou com Edgar Roquette Pinto, o pai de nossa radiodifusão: somos vira-latas pela ignorância que nos encharca.
Dos Três Poderes que nos regem o único composto por pessoas qualificadas é o Supremo Tribunal Federal. Ali não dá para entrar pela janela, nem porque casou com a cunhada do amigo do governador que é tio de um sindicalista no ABC. O nome pode ter sido ventilado por esses ou outros ridículos motivos, mas para ser investido da toga, é preciso mais do que isso.
Quem são os donos do poder no Brasil há quase 12 anos? Dos juízes que formam o STF, quantos foram nomeados por Lula e Dilma? O julgamento foi transmitido pela TV e pudemos ver o desfile das maiores bancas de advogados do país no livre exercício da defesa de seus constituintes.
É fácil compreender a dosimetria das penas? Para mim, não. Há sentenças que espantam, há detalhes difíceis de compreender, há juízes cuja personalidade incomoda, outros que acho francamente exibicionistas, assim como alguns aos quais faltou quem lhes torcesse o pepino em criança. E outros há cuja inteligência chega a ofuscar os demais.
E daí? Qualquer desses detalhes pode permitir sequer a hipótese que eu julgue esse julgamento injusto? Não, claro que não.
O fundamental, o fato que pode vir a mudar nosso trajeto, é ver pela primeira vez os poderosos serem punidos por erros graves que cometeram contra o Brasil.
Mas isso não pode e não vai impedir que eu continue a sonhar com um Brasil que erre menos. Agora que o trem saiu da estação onde estava desde 1500, se conseguíssemos engatar o vagão da Educação ao da Justiça, que Brasil nossos filhos teriam!
Educação que nos impedisse de ouvir um ministro da Saúde dizer que não se incomodava em ser tratado por médico que não passou pelo Revalida; que não permitisse que um condenado notoriamente enfermo fizesse uma viagem inútil de avião para ir parar justo numa cadeia sem nem um posto de saúde; e educação que nos deixasse roxos de vergonha diante do estado das penitenciárias brasileiras.
Instrução e Educação que impedissem nosso povo de acreditar na militância paga que infesta a mais extraordinária invenção do homem desde Gutenberg. A Internet é uma joia da qual devemos cuidar com extremo carinho e nunca usá-la com a linguagem tosca e os argumentos insanos que a maltratam.
Uma lei não poderá obrigar um homem a me amar, mas é importante que ela o proíba de me linchar, disse Martin Luther King. Não se lincha só com paus e pedras…
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/11/2013.
A condenação dos réus do mensalão mostra que devemos afastar o “complexo de vira latas” contra o qual o escritor Nélson Rodrigues sempre se indignou.
O bom texto da mostra que somos capazes de errar e julgar. Que há injustiças, que existe política, posição e oposição,e que não precisamos copiar e reverenciar erros e acertos.
Não devemos nos menosprezar, nada devemos em matéria de linchamentos.Somos bastantes.
A frase da Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza, merece louvor e destaque: – “Instrução e Educação que impedissem nosso povo de acreditar na militância paga que infesta a mais extraordinária invenção do homem desde Gutenberg”.
É preciso confirmar se o trem “parado desde 1500” está, mesmo, movendo-se…
Quando o Collor dançou em 1992, eu mesmo pensei “agora vai”. O que eu não percebera é que melhorias superficiais não alteram a essência da coisa.
O Pedro Simon (PMDB-RS) nos alertou para o fato de que a corrupção ganhou enorme força APÓS o Collor. Minha conclusão é a de que o impeachment estimula a corrupção, posto que fortalece o Congresso em detrimento do Executivo. O maior derrotado, então, não é a Dilma, mas o próprio Poder Executivo, sequestrado pelo parlamento (ou paga ou eu te derrubo).
Assim funciona nas colônias: Congresso forte, corrupção forte.