Nada pode ser mais simpático do que um papa que manda pôr “mais água no feijão” e que diz que “bota fé nos jovens”.
Esqueceram que Bergoglio é argentino, torce para o San Lorenzo de Almagro, e ele mesmo foi generoso em fechar uma imaginária negociação com os brasileiros: ele consentiu que, embora o papa seja argentino, Deus continua sendo brasileiro.
Em suas entrevistas, dadas no avião ou em terra ao repórter Gerson Camarotti, da Globo News, Francisco atribuiu a queda da influência da Igreja Católica , especialmente junto às populações latino-americanas, à falta de proximidade com os fiéis. Usou como analogia a imagem da mãe que só se comunica com os filhos por correspondência.
No movimento pendular da condução da Igreja Católica, Francisco repôs em cena uma nova versão do “João de Deus” querido nas ruas no lugar do sisudo teólogo alemão Ratzinger, que restaurou com seu rigor doutrinário a ortodoxia que ameaçava fazer descarrilar o trem mas não cativava as almas.
Francisco indagou a uma repórter que lhe fazia pergunta no avião sobre a relação da Igreja com os homossexuais: “Se uma pessoa que procura Deus de boa vontade, e é gay, quem sou eu para a julgar?”
Isso quer dizer que a Igreja está mudando de posição sobre seus dogmas fundamentais ? Não, é apenas uma questão de forma, não de conteúdo.
Francisco exercitou o carisma da humildade, da pobreza e também da compaixão, tentando afastar a imagem de intolerância que , verdadeira ou não, contribui para justificar a diminuição de seu rebanho – ou pelo menos da fidelidade de parte de seu rebanho, que não concorda com o atraso no “aggiornamento” de suas posições ortodoxas frente à complexidade das questões comportamentais do moderno modo urbano de vida.
A Igreja não pode ser confundir com uma ONG, e Francisco foi explícito em relação a isso. Daí a relação de uma pequena parte da sociedade com ela transformar-se num penoso mal entendido.
A manifestação organizada e executada por uma certa Marcha das Vadias, além de proporcionar um espetáculo escatológico de um mau gosto escabroso, é um equívoco formal e comportamental de quem desconhece a verdadeira natureza da Igreja.
A Igreja trabalha com transcendência, fé e com a subjetividade de seus dogmas, e por isso é um erro confundi-la com uma sociedade civil e querer que ela aja como tal. Como ninguém é obrigado a ser católico, é justo também que ela não imponha suas crenças a ninguém, e é isso justamente que acontece num Estado moderno e laico.
A lição de humildade, fraternidade e compaixão que Francisco deixou em sua passagem pelo Brasil poderia até ser ignorada civilizadamente por quem não comunga de suas crenças.
Contestá-la e confrontá-la com cenas de barbárie como as que aconteceram no Rio mostra apenas que se há alguém que ainda não saiu da Idade Média não é a Igreja.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 2/8/2013.
Se o PT perdeu parte do seu rebanho, é importante que o petê romano – A Igreja – também perca adeptos, cada vez mais.
Quem analisa o histórico da Igreja até o Vaticano II adquire horror à Cúria romana e passa a desejar uma redução drástica no rebanho, seja no rebanho petista, seja no rebanho do primo do PT – A Igreja.
A diferença entre o PT e a Igreja é que esta já fez a autocrítica; já o PT ainda não.