Em janeiro, a cidade não parece a mesma dos outros meses. Tempo de férias para alguns, é hora de ir para as praias, esticar as pernas na areia, sem lenço, horário ou documento. Os mineiros assumem o controle do litoral brasileiro, com sua graça, sua descontração, sua fome de aproveitar tudo o que merecem.
Alguns preferem a volta ao interior, às casas da infância, ao mato e às plantações das fazendas. E uma meninada cheia de energia se debruça para estudar e enfrentar os vestibulares e os vários processos de admissão à universidade e à vida adulta.
Ausentes das metrópoles, essa massa de conterrâneos larga para trás momentos raros de avenidas e ruas vazias, trânsito impensável de tão bom. Meio chegado a não acompanhar o movimento da maioria, eu sigo a vida do meu jeito e tenho minhas compensações.Da mesma forma que não busco nas livrarias, cinemas e casas de música o que é a moda do dia, eu guardo o janeiro, e na medida do possível também um bom pedaço de julho, para circular pelo meu lugar com a tranquilidade que havia antes.
Além de ser temporada de muitos impostos, o primeiro mês do ano é propício para resolver qualquer problema burocrático engasgado na garganta desde o ano passado e até para antecipar futuras obrigações. Exemplo: resolvi me vacinar contra febre amarela, o que só teria de fazer em abril, prevendo que seria fácil nessa época. E foi. Atendimento rápido, profissionais dedicados, ambiente higienicamente saudável. Se os postos municipais de saúde seguirem essa regra, o meu IPTU pesa menos.
Até agora não veio a chuva pela qual a Dilma reza, mas os dias seguem uma rotina de céu aberto sem muito calor e temporais de curta duração e bons estragos ao cair da tarde. Dá para programar as atividades sem correr risco. Pois, morador antigo e observador, sei por onde posso ir, qual os melhores caminhos e as horas seguras.
Ainda convivo com o prazer maior que é receber a visita da Clara e do Lucas, que me alegram no presente e me incentivam a imaginar projetos, desejos, obras.
Na prateleira abarrotada de ótima literatura, livros me espiam doidos para serem escolhidos para serem lidos. Os CDs e LPs estão na sala, à disposição para zelarem por meus ouvidos e acariciar minha alma e minha sensibilidade.
Ouvir, ler e escrever são tarefas que guardei para as próximas semanas. Tenho tempo ainda para sonhar coisas boas para os meus e para o mundo. Com o coração tranquilo vou seguindo em minha travessia pela vida, incorporando, para o mês atual, o que disse o poeta Ascenso Ferreira: “pernas para o ar que ninguém é de ferro”.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em janeiro de 2013.
Os mineiros invadem as praias,
Marataizes,Cabofrio,Guarapari viram extensão de Minas Geraes. Recebi uma turma de mineiros de Lambari que resolveram voltar a São Francisco do Sul – SC mudando a rota tradicional. Imagino BH, tranqüila a disposição do Brant. Pena que o início do ano seja sempre marcado por tragédias devido as fortes chuvas e imprudências humanas. Santa Maria (RS) entristece o janeiro.
JANEIRO SEM EIRA NEM BEIRA…