Mais médicos e mais tolos

Os médicos cubanos produzidos em série chovem aos borbotões e o governo implementa o seu programa Mais Médicos desmentindo o que dissera antes – que desistira de importar cubanos – porque o governo sempre acaba fazendo o que quer e convencendo a sociedade que tudo o que faz é para o bem do povo.

Claro, vá perguntar pra qualquer um na rua: você é a favor de mais médicos? Quem é que vai responder que é contra médicos? Ninguém é contra o pote no final do arco-íris, ainda que jamais alguém o tenha visto.

A chocante estupidez de meia dúzia de corporativistas que foram ao aeroporto receber a primeira leva de médicos cubanos com impropérios racistas caiu para o governo como um maná do céu. E o ministro Padilha deve ter mandado rezar uma missa de ação de graças – e se não o fez deveria tê-lo feito – por contar entre seus aliados involuntários com essa pequena brigada de estúpidos de avental branco.

Com a preciosa ajuda de uma suposta jornalista que enriqueceu o debate dizendo que as médicas cubanas tinham cara de empregada doméstica (que cara terão as empregadas domésticas dessa prendada senhora?), o governo desviou o foco da discussão para uma piscina onde sabe nadar de braçadas: a da conversa fiada.

Ficaram soterradas sob aquela manifestação de cretinismo apoplético do aeroporto (em muito semelhante, por sinal, à cafajestice ruidosa e militante dos ativistas que calaram a boca da dissidente Yoani Sanchez em sua recente visita ao Brasil) as questões realmente fundamentais que interessavam nessa discussão.

Algumas delas:

1)    A questão da superficialidade da solução, que é mandar médicos para lugares ermos, com a cara, a coragem e um rolo de esparadrapo como se essa fosse uma verdadeira política de saúde pública, para substituir a que de fato não existe e nunca existiu.

2)    O exame de capacitação e revalidação dos diplomas dos médicos que o Conselho Federal de Medicina considera necessário não só para cubanos, mas mesmo para albaneses, sírios ou checos.

3)    A falta de explicação para o fato de faltarem médicos sendo que apenas 10 anos atrás o governo quis negar autorização para abertura de novas faculdades de medicina no País por excesso de médicos.

4)    A falta de transparência do contrato assinado com a OPAS, que repassa ao governo cubano quase a totalidade do salário destinado aos médicos, que além de proibidos de receber asilo, se quiserem pedi-lo, são regidos por um regulamento disciplinar que beira a tirania, o que não é novidade nenhuma já que vivem mesmo na mais longeva ditadura do continente.

O governo vai poder brandir o exército de jalecos brancos na próxima eleição e tentar tirar o máximo de votos possíveis de mais essa obra de ficção, e o paradoxo é que terá contado para isso com a ajuda de um involuntário e indecente coro de trogloditas.

6 de setembro de 2013

4 Comentários para “Mais médicos e mais tolos”

  1. ISTO AI!
    Não basta ser jonalista, tem que ser inteligente.
    Texto inteligente, nota 10 pro Vaia.

  2. Vaia, sobre as questões que você elencou como prioritárias nesse debate, gostaria de saber que critérios você utilizou. Me parece que algumas delas já foram respondidas. Por exemplo a questão do revalida: não seria um exame voltado exclusivamente aos profissionais estrangeiros que desejassem atuar no mercado de trabalho, com direito a consultório, registro, cnpj e tudo mais? Ficou claro que a proposta do Mais Médicos não é exatamente essa, e muito menos de resolver todos os problemas da saúde no país.

  3. Prezado Sandro Vaia, não duvido nada que aqueles que foram vaiar os colegas, eram todos militantes pagos pelo PT para aparecerem lá… Qual Médico em sã consciência vai largar plantão, ambulatório e consultório pra fazer claque em aeroporto?!
    Pensa um pouco… Isso foi conveniente demais!

  4. Muito bem, mas uma analise lucida do acontecido, onde jogam para a plateia e mentem, mentem como se não houvesse um amanhã!

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