Eles não entenderam nada

Um rio ou um oceano de povo passou na vida do país e eles não perceberam o que se passou, o recado dado, o que está se passando.

Continuaram a voar desavergonhadamente nos aviões da FAB, senhores do “pudê”, capazes de tudo para manter o povo nordestino na miséria e eles no bem bom. Votaram no mês de junho, como se tivessem ouvido as vozes das ruas, os maiores absurdos legislativos de que se tem notícia.

Se alguém passasse, naqueles dias, pelas galerias do Congresso e gritasse “viva a ditadura”, eles a teriam decretado. Pobre gente que age por interesse privado e vota como manada. Como se explica, por exemplo, um partido que se diz liberal aprovar a intervenção estatal em direito privado? Até isso se viu na casa que deveria representar os vários segmentos dos brasileiros.

Na noite de uma segunda-feira moderadamente fria, assisto, no programa “Roda Viva”, os atletas Ana Moser, do vôlei, e Raí, do futebol. Falam em nome de uma centena de atletas admiráveis que assinaram um manifesto em favor de uma política pública para o esporte. Dizem que o esporte, espalhado pelas escolas, bairros e cidades do país, pode salvar os jovens e também o Brasil. Eles já conquistaram no campo esportivo medalhas e campeonatos que nos orgulham. Poderiam descansar e cuidar de sua vida pessoal mas, como disse Ana Moser, citando um outro atleta aposentado que não ouvi bem qual era: “quem veste a camisa brasileira não a desveste jamais.”

Fico sabendo, então, que eles tentam uma audiência com a Presidência da República há sete anos. Sem sucesso. Não querem nada para eles e sim oferecer um plano que proporcione o verdadeiro legado para o Brasil, no momento em que se prepara a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Não propõem nada que tenha a ver com os bilionários interesses que movem o esporte dos grandes eventos. Sete anos pastoreiam para alcançar seus objetivos justos. Precisarão servir mais sete?

Parece que sim. Pois imaginem que marcaram audiência com o ministro dos Esportes. E de que cuida esse ministério? Marcada a audiência, uma comitiva foi a Brasília para ofertar sua idéia generosa. Não foram recebidos pelo ministro que, em cima da hora, anunciou que tinha outro compromisso. Vergonha e desrespeito, ministério inútil e incompetente. Na certa, ele foi cuidar da política menor, ou conversar com o Blatter, os grandes patrocinadores ou os novos Havelanges.

Realmente, eles não nos representam. Enquanto se esbaldam com o dinheiro que deles não é, enquanto cinicamente continuam a se comportar imoralmente, uma senhora passa horas na fila de renovação de carteira de trânsito em Brasília, cumprindo um dever básico. A cidadã, a ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, é exemplo e um tapa na cara dessas pessoas. O Brasil tem jeito.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em agosto de 2013. 

Um comentário para “Eles não entenderam nada”

  1. Tem jeito, mas vai demorar!
    Cadê os Amarildos?
    E o Cade serve pra quê?
    Mensaleiros impunes, entram com embargos declaratórios, mais conhecidos como embargos protelatórios, enquanto outros embargos. os auriculares, são feitos longe das ruas, longe do povo, na calada dos gabinetes.

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