Ô, Brasil, por quem foi que te trocaram? Não és mais o meu país. Esse clima de ódio, de hostilidade, de raiva, de desamor, isso não é nosso. Quem foi o infeliz que te injetou esses sentimentos negativos? Quem fez questão de imitar quem não devia?
Por que essa covardia com uma mulher de 37 anos que tem como única arma a palavra? Que vem de outro país e que luta pelo que acha bom e correto? Que não se mete conosco, que não veio trazer algo que fosse pernicioso para nosso Brasil?
Olhem bem para a foto de Yoani Sánchez e as poderosas armas que usa e depois me digam: o que é aquele bando de sujeitos e sujeitas que a segue pelo Brasil? Vão querer me convencer que aquelas tristes figuras amam Fidel Castro a ponto de não tolerar que uma sua crítica abra a boca para falar?
De onde vem essa paixão por Fidel? Quem a instilou nesses ignoramus? Quero ver se eles sabem o que se passava aqui nas décadas de ’60, ’70, ‘80, ’90, que dirá em Cuba. Queria que um deles, à queima-roupa, respondesse algumas perguntas sobre História ou Geografia das Américas!
Perdemos a educação e a vergonha na cara. Indignação? Ainda se usa isso? Condenação pelo STF é condecoração! As cenas na Livraria Cultura (assim como o palanque do aniversário do PT e seus participantes), que triste retrato do Brasil.
Kennedy foi a Paris em 1960 e passeou em carro aberto. Não pensem que os EUA eram amados pelos franceses. Não eram. Para aqueles ingratos, os amerlots, como eram chamados, gastavam muito dinheiro nas lojas, compravam tudo que viam, lotavam os restaurantes e ainda por cima invadiam bares e cinemas com sua música e seus filmes e seduziam as garotas. Mas foi tratado com toda a politesse e com a segurança que uma nação organizada oferece a seus visitantes.
Bill Clinton e sua filha Chelsea estiveram no Vietnã 25 anos depois do fim daquela guerra de consequências brutais até hoje. Só que o povo vietnamita é instruído e sabe que ele não foi o responsável pela guerra, que até nem nela lutou e por isso, povo e governo receberam muito bem pai e filha.
Já fui encantada com os barbudos de Sierra Maestra, mas desde que eles transformaram Cuba numa triste e decrépita monarquia, o encanto se desfez. Contudo, ainda aposto numa coisa: Fidel, homem inteligente e instruído que é, desconfio que está impressionado com o que vê por aqui e a matutar: ‘Que povinho mais sem categoria’…
Deixo com vocês Fidel Castro em viagens aos EUA (clique aqui para ver o vídeo). Ele tinha, como tem, inimigos mortais naquele país, mas nenhum idiota ia conseguir chegar perto dele e lhe puxar um fio da barba como fizeram com os cabelos da Yoani nesta selva chamada Brasil.
Isso foi num tempo em que a ordem e o progresso, lá como cá, ainda tinham voz.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/2/2013.
O 50 Anos de Textos tem paixão por Yoani Sánchez – e nenhuma admiração por qualquer ditadura. Outros textos do site que falam sobre a dissidente cubana:
Democracia: agite antes de usar, por Sandro Vaia;
Apresentando Yoani Sánchez ao Brasil, por Sérgio Vaz;
A vida das pessoas comuns em Cuba, por Sérgio Vaz;
Nós, os que não sabemos tomar a praça, por Sérgio Vaz;
Menos Castro, mais Adam Smith, por Sandro Vaia;
Carta aberta ao presidente da República, por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza;
Que as crianças possam brincar na Plaza Orlando Zapata, por Sérgio Vaz.
Resposta aos intolerantes!
ENTREVISTA / YOANI SÁNCHEZ
“Cuba me dói”
Por Mauro Malin em 12/08/2008
“Na minha vida não tenho muitos paradigmas de pessoas importantes ou gente famosa. Ao contrário, sou permanentemente influenciada pelas pequenas pessoas – meus amigos, alguém que compõe uma canção, alguém que me conta algo na rua. E tenho também algumas premissas na vida. Uma delas é cada dia avançar um pouco mais na tolerância. A sociedade cubana necessita que os indivíduos aprendam a tolerar a diferença, as opiniões que não são similares às suas.”
“Não me agradam os apáticos e os indolentes. Meu país me dói. Tudo que acontece me dói, e creio que esse é também o combustível para fazer meu blog. Se nada me importasse, se eu me alienasse de minha realidade, não escreveria as coisas que escrevo. Eu as escrevo precisamente porque Cuba me importa. E me importa porque quero que meu filho e meus netos não tenham que emigrar para poder realizar seus sonhos, ou para realizar seus projetos profissionais e pessoais. Nessa direção emprego minha energia. Em fazer de Cuba um país onde se possam realizar os sonhos”.