De conversa em conversa

Lula, 1º e Único Coração do Brasil, ganhou meu aplauso quando declarou que no Congresso Nacional, do qual ele fazia parte, havia 300 picaretas. Isso foi há muitos anos. Desde então, de conversa em conversa, ele veio se chegando até se tornar a Suprema Distinção entre os picaretas. Que já dobraram de número, tal qual coelho…

Na ocasião, gostei da sinceridade e, sobretudo, da coragem em botar os pingos nos is. E pensei: com esse vamos.

Votei nele. Mas não fomos. Ficamos.

Ficamos no programa que era filho dileto da grande brasileira Ruth Cardoso.

Lula, o Santo, o que fez? Ampliou o programa, deu um jeitinho de não se exigir tanto do aquinhoado, de tudo reverter em votos. Conseguiu convencer a plebe que aos ricos incomoda a ascensão dos pobres. Menos a ele, herdeiro direto de Francisco de Assis: não guarda nada para si, distribui tudo entre os necessitados.

De conversa em conversa, ele diz verdades que chocam: entrar no avião e dar de cara com sua cozinheira na poltrona ao lado não é o sonho das férias de muita gente. Lula, o Santo, descascou o pepino deixando de lado as companhias aéreas: só anda de jatinho. Dos amigos.

De conversa em conversa, ele passou a saudar a Constituição Cidadã que antes abominava e a admirar, de modo inequívoco, o Sarney que antes considerava “o maior ladrão”. Hoje, pede que se equipare Sarney a ninguém menos que Ulysses Guimarães!

Uma boa lição para os brasileiros em geral. Nós temos a mania de assinar ‘em baixo’ documentos que nunca lemos, que nunca vimos, que nunca passaram por nossas mãos. Tem gente por aí que continua jurando que Alexandre Garcia foi expulso da TV Globo e eu, diariamente, o vejo na TV!

Escreveu, não leu, uma representante do anonimato na Internet acusa o Blog do Noblat de ter uma censora oficial, eu. O que me aborrecia até descobrir que a peça é chaleira de dois bicos: tanto malha aqui quanto em outro blog. De conversa em conversa, lá fala daqui, aqui fala de lá.

Assim como corre à boca pequena que ZéAzul bebe todas; que ZéRosa tem mais amantes que horas na semana para amá-las; que ZéVerde está gravemente enfermo, apesar de ter sido visto traçando uma feijoada; que a Veja está falida; que O Globo amanhã não sai e que a Folha quebrou.

Tudo isso dito como Ato de Fé.

Em suma, de conversa em conversa o brasileiro tem mania de falar o que não sabe, a quem não sabe, quando não sabe.

O último boquirroto foi o senhor Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. Era de se esperar juízo, bom-senso e, sobretudo, lealdade, dessa figura no momento em que o governo resolve tomar uma providência sobre o vandalismo nas ruas. Mas eis o que ele disse: “não basta criminalizar o vandalismo, é preciso entender a motivação”; “nos treinamentos de policiais, o branco sempre é tratado como vítima e o negro como traficante”. (O Globo, 29/10/2013)

Acendeu o fósforo e foi olhar se tinha gasolina.

 Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 1º/11/2013. 

Um comentário para “De conversa em conversa”

  1. Não esqueçamos jamais que as idéias são menos interessantes do que os seres humanos que as inventam,modificam,aperfeiçoam ou traem.

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