Esta é uma historinha que tem que ser publicada aqui.
Recebi a seguinte mensagem, enviada para meu site 50 Anos de Filmes:
bom faço o curso de jornalismo, não tive a oportunidade de ver o filme it happened tomorrow. portanto gostaria de saber como neste filme apresenta o papel do jornalismo como industria?
fico no aguardo da resposta.
obrigada
Não é a primeira, nem a décima vez que recebo mensagens assim. Então resolvi responder:
Como é que é?
Deixe eu ver se eu entendi.
Seu professor de alguma matéria do curso pediu para você fazer um texto mostrando como no filme O Tempo é uma Ilusão se apresenta o papel do jornalismo como indústria. E aí você quer que eu faça o trabalho para você?
É isso?
Você acha que se algum dia você estiver trabalhando como repórter, e o chefe de reportagem pedir que você faça uma pesquisa sobre determinado assunto, você pedirá para alguém fazer a pesquisa para você?
Mas então para que você servirá? Para que manter você no emprego?
Desculpe. Não estou sendo grosseiro. Apenas, como uma pessoa mais velha, jornalista por quase 40 anos, estou tentando te dar um toque.
É assim: se você não for capaz de fazer uma pesquisa sobre um tema dado pelo seu professor, das duas, uma: ou o professor não instruiu você direito, e você deve cobrar isso dele, ou então… talvez seja melhor pensar em outra profissão.
Boa sorte, e um abraço!
Sérgio
Aqui do meu lado, Mary achou que fui grosseiro demais. E que deveria ter passado para a moça alguns links de textos sobre o filme do René Clair.
Como assim, grosseiro? Fui educadíssimo.
O Ulysses Alves de Souza jogava fora a primeira matéria do foca sem sequer olhar para ela, e mandava reescrever. O Moacir Japiassu às vezes pegava a matéria do foca e ficava só com as laudas ímpares, jogando fora as pares. E faziam o melhor jornalismo do país.
Janeiro de 2012
Foi educadíssimo, Sérgio. Até fingiu que não percebeu a qualidade da redação da moça. Antigamente, ao entrar na faculdade, o sujeito já sabia ler e escrever pelo menos um pequeno bilhete. Agora, parece que muitos saem dela ainda analfabetos.
Eu também fiz o tal curso de Jornalismo e já fui foca uma vez na vida. O velho jornalista que sentava na mesa atrás da minha, em troca de alguns cigarros, simplesmente cortava a metade das palavras do meu texto antes de me mandar entregar a matéria. Faz tanto tempo que nem me lembro se fui eu quem desistiu do jornalismo ou se foi ele que desistiu de mim. Talvez por desconfiar que eu nunca conseguiria concorrer com todos aqueles cobrões da imprensa que eu idolatrava, preferi fazer concurso público e virar um feliz burocrata em Brasília.
PS: Apesar de educadíssimo, você deve ter perdido uma leitora.
Ainda sobre meter o bedelho no texto dos outros, acho que seu artigo intitulado “Oscar Niemeyer, uma grande enganação”, deve ter sido copidescado pela Mary Zaidan. Eu juro que li uma versão furibunda de madrugada (06.12.2012) e depois outra um pouco mais light horas depois. Porém, depois das delicadas expressões que você usou no “Tem que censurar essa p… de imprensa já”, começo a ter dúvidas se a Mary anda mandando tanto assim.
Você foi, de fato, educadíssimo, Sérgio!!
Caríssimo Luiz Carlos,
Agradeço imensamente por sua mensagem. Ela é extremamente reconfortante.
Rapaz, o filme de René Clair mostra uma redação de jornal em 1890. Fico imaginando aqui que, em 1890, os jornalistas já se queixavam dos focas, ou dos aspirantes a foca. Já deveriam dizer coisas como as que a gente diz: mas esses meninos das faculdades são absolutos analfabetos!
Dizer que no nosso tempo as coisas eram muito melhores já era velho em 1890…
O problema é que, infelizmente, parece que agora é a mais pura verdade dos
fatos.
E o engraçado – ou trágico, ou as duas coisas – é que, se você colocar isso em discussão num fórum de jornalistas do Facebook, por exemplo, gente muito boa (bons jornalistas, bem intencionados) vai retrucar que, em vez de reclamarmos da má qualificação dos candidatos a jornalista de hoje, nós, os velhos jornalistas, deveríamos é protestar contra os salários aviltantes, a diminuição do número de vagas, o excesso de carga de trabalho nas redações…
Como se fôssemos defensores de patrão, pelegos, reacionários filhos da puta, só porque observamos que os estudantes são mal preparados.
Como se as duas coisas – a falta de preparo dos estudantes e dos jovens jornalistas, e os problemas dos salários, do excesso de carga de trabalho, etc, etc, etc – fossem excludentes.
Então, por tudo isso, Luiz Carlos caríssimo, agradeço mais uma vez a você por sua mensagem.
Agora, tem uma coisa: não perdi uma leitora, não. A moça que mandou a ordem, a exigência, a encomenda – mande pra mim a explicação sobre tal e tal coisa -, como se eu fosse empregado dela, não é leitora do meu site. Na verdade, pelo que mostra o texto dela, ela não lê coisa alguma, tadinha. Chegou ao site numa rápida procura pelo Google – só isso.
Um grande abraço.
Sérgio
Vixe, Luiz Carlos…
Como leitores atentos – assim como você – podem perceber facilmente, às vezes eu extrapolo, exagero, pego pesado demais…
E mais tarde vou lá e dou uma consertada, uma amaciada…
Você tem razão em boa parte: a Mary, que é mais calma, tranquila, racional do que eu, às vezes me chama atenção para os absurdos.
Mas muitas vezes sou eu mesmo o meu Grilo Falante.
Um grande abraço!
Sérgio
À Katia, sempre generosa demais, o maior muito obrigado que posso expressar!
Sérgio
Não mude nada no texto, Sérgio. Contra a censura a gente tem mesmo é que usar artilharia pesada.
Servaz, você não tem visão empresarial. Podia montar uma loja de conveniência para informação, o freguês fazia seu pedido, você entregava a mercadoria (texto por quilo, ou por linha, dependendo de ser assunto pesado ou ameno) contra pagamento em sua conta bancária. Ou, aceitam-se cartões. Só corre o risco de algum interessado reclamar: “Por kilo não, dá muita perca.”
Seu emputecimento é compreensível, porém gostaria de ver você fazer a “cola” para o pobre menina. Certamente seria um grande texto, aqui neste espaço,e aproveitado pelos seus fiéis seguidores e adoradores. A garota deu a dica, ou melhor fez a pauta, passou a bola para 40 anos de experiência. Fica a minha curiosidade, sobre o filme e sobre o tema “jornalismo como indústria ou a indústria do jornalismo”. Seu texto seria nota 10,com certeza.
No mais, a Mary tá certa, fai ser grosso assim em Manhuaçú.
Deis de quase 40 anos de profissão adquirimos o direito de liberdade de expressão, em gênero, forma e conteudo.
Falou foi pouco. Devia ter desenhado, talvez surtisse melhores resultados. bjs e bom dia
Sérgio Vaz, meu grilo falante me mandou dizer que, com minha mania de fazer gracinha, exagerei com o “kilo” e a “perca” da primeira mensagem. Certamente, universitários não escrevem assim. A meu ver, existem estudantes que fazem faculdade de jornalismo para conseguir um emprego. E outros que têm um ideal, querem ser jornalistas, fazer carreira e trabalhar na Globo (Como, grilo? Pisei? Retiro essa Globo). Há ainda pessoas que gostam do jornalismo, acompanham o que os profissionais escrevem, colocam sua colher. Dão seu próprio tom ao que dizem. São mil tons, e mil tinhos.
Ser engraçadinho é legal Valdir, inclusive em contos eróticos. Que não se perca a vontade de fazer kilos de graça. A aspirante a jornalista deu o ton e nos passamos a fazer os tinhos. Legal, obrigou o Sérgio a sair da mesmice compilativa. Ficou puto, chutou o balde, gritou e esperneou. Deu o tom e ai, seus seguidores se fizeram presentes. Do inocente pedido de cola, muitos tinhos foram escritos, se falou de jornalismo como profissão, escola, universitários e empreguismo, de salários aviltantes, de carreira e carreirismos, de função e vocação. É bom ver o editor zangado, dando vazão aos legítimos pensamentos jornalísticos e políticos, antisocialistas, reacionários, autênticos e honestos. As vezes o editor é cândido e poético e nos aproxima da sua esposa, filha, e da netinha. Se tornou, tal como eu, um rabugento de pijama,talcomo um Sancho Paça a dar murros em ponta de faca.
Valdir está cero quando diz: “Há ainda pessoas que gostam do jornalismo, acompanham o que os profissionais escrevem, colocam sua colher. Dão seu próprio tom ao que dizem. São mil tons, e mil tinhos”.
No fundo invejamos os jornalistas e seu imensurado poder!
Apenas para registrar: além da mesmice compilativa, compareço a cada semana aqui com um texto sobre música, livro, o escambaui. Assim como compareço, no mínimo dia sim, de não, com um texto novo no 50 Anos de Filmes. Sendo assim, acho que a parte compilativa não chega propriamente a ser uma mesmice.
Sérgio
Em referência ao post do Sérgio de 24/01/2013 às 7:02 pm: Muito bem dito! Curto mas suficiente.
Os textos sobre música(discos) e livros são ótimos. Sobre o escambau, são mesmices retundantes.