Ninguém é dono da razão. E aqueles que teimam em sê-lo são os que mais frequentemente a perdem. Por descuido, inépcia ou, mais comumente, por soberba.
O governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), réu confesso quanto aos males de o poder lhe ter subido à cabeça, que o diga. Mas nesse quesito poucos são os que escapam.
A presidente Dilma Rousseff é hors-concours: ela sempre sabe mais, sempre tem todas as certezas. Quando erra, o equívoco sempre é dos outros, nunca dela. Mas, imitando a ficção, mais cedo ou mais tarde a arrogância costuma se voltar contra o protagonista.
O dedo em riste da presidente até era tolerado nos tempos de farta popularidade. Agora, pouco consegue, nem mesmo nos raros momentos em que teria a razão como companhia. Uma das provas disso é a aprovação do orçamento impositivo na Câmara dos Deputados.
O exemplo mais acabado do estrago que a soberba causa à razão vem do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Ainda que na maioria das vezes tenha a razão ao seu lado, ele é expert em perdê-la.
A história se repetiu nesta semana quando, com linguajar impróprio, Barbosa jogou no lixo a correta acusação que fazia de que o ministro Ricardo Lewandowski estaria protelando o julgamento dos embargos do mensalão. Mais do que perder o embate, o presidente da Corte Suprema deixou escapar a razão, substantivo que pode fazer uma falta imensa nos movimentos seguintes do caso.
O sentimento de ser proprietário da razão também dominou as manifestações que chegaram a ser a maior aposta de mudanças no país. Após o sucesso de junho, manifestantes de diferentes origens passaram a se sentir acima de tudo e todos. E, assim, romperam os ditames da razão.
A invasão da Câmara Municipal do Rio mostra isso com absoluta clareza. Se justiça há em se rebelar contra a contaminação por vereadores governistas da CPI para investigar contratos da Prefeitura com empresas de ônibus, nada justifica a ocupação do plenário e, muito menos, os atos de vandalismo.
Goste-se ou não, os vereadores foram eleitos. A não ser que se queira derrubar o regime em vigor, um grupo – ainda que carregue a razão nas suas reivindicações – não substitui o voto da maioria.
Por definição, razão é bom senso. É a faculdade de compreender, de raciocinar. Não raro, é prudência. Algo que, obrigatoriamente, deveria ser observado por aqueles a quem o país delegou responsabilidades.
Na matemática, razão é a relação entre quantidades, conceito também aplicável à democracia, regime em que a razão da maioria é expressa pelo voto. Fora daí, nada é nem mesmo razoável.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/8/2013.
Relações de equivalência > reflexiva, simétrica e transitiva.
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A democracia e de ordem!