Vou renovar minha assinatura de Veja

Andava pensando seriamente em não renovar a assinatura da Veja. Para poder escolher, a cada sábado, qual revista me atraía mais na banca, se a própria Veja, se a Época.

Não tinha certeza se era a melhor coisa a fazer. A entrega obrigatória, tranquila, de uma revista diante da minha porta na tarde de sábado é algo confortável.

Claro: não sou propriamente fã da Veja.

Na verdade, acho que a Veja hoje é uma revista reacionária, careta, babaca. E nem sempre bem escrita.

Por exemplo: a Veja de hoje torce descaradamente por Romney.

Pior ainda: ela se tem em tão grande apreço, que parece achar que vai influenciar a eleição americana.

Como sou velhinho, acompanho a revista desde que ela nasceu, em 1968. De alguma maneira, acho até que o fato de eu ter virado jornalista tem a ver com o nascimento de Veja. Para fazer a Veja, Mino Carta levou um monte de gente do Jornal da Tarde. Em 1970, o JT tinha vagas, e, graças ao meu amigo Gilberto Mansur, acabei ficando com uma delas.

A Veja foi a primeira revista semanal de informação do país, nos moldes da Time e da Newsweek. Nasceu no final de 1968, na mesma época do AI-5, do cerco maior da censura da ditadura, do golpe dentro do golpe. Não sou bom para guardar números, mas me lembro que a Abril apostou tudo na nova revista, e ela vendeu menos de 50% do que tinha tirado.

A Abril apostou na Veja tudo o que tinha. Era ainda a época do velho Victor, e parece que o velho Victor era de fato um visionário. Boa parte do que a Abril ganhava com Realidade, Cláudia, Pato Donald, 4 Rodas, e com os fascículos, ela investia na Veja.

Coisa de visionário. Em algum momento do caminho, a Veja chegou a 1 milhão de exemplares.

Parece que a Veja deu prejuízo durante dez, 15, 20 anos. Mas depois, como o visionário velhinho Victor havia previsto, ela passou a dar lucro. Muito lucro. Hoje, acho que é a revista mais rentável da Abril.

Do alto do seu um milhão e tantos de exemplares, a Veja que havia sido censurada durante o período pior da ditadura começou a dar sinais de que era uma revista que defendia firmemente o capitalismo.

Em qualquer país desenvolvido, uma revista que faça a defesa firme do capitalismo tem seu espaço. No Brasil terceiro-mundista do lulo-petismo, defender o liberalismo virou pecado capital. Mortal.

Toda a imprensa que não seja comprada por anúncios da Caixa, do BB, do BNDES, para os petistas, é grande imprensa, PIG, partido da grande imprensa golpista.

Para eles, é simples assim: ou a imprensa fala bem de nóis, ou então são uns reacionários filhos da puta que defendem os interesses da burguesia.

Imprensa, para os petralhas, se divide em duas: a que nóis compra (Carta Capital, Caros Amigos, etc), e a que nóis não compra (Veja, Rede Globo, Estadão.)

Mas então, voltando ao início: eu estava em dúvida se renovava ou não a assinatura da Veja. Estava tendendo a não renovar.

Aí alguém botou no Facebook o que seria uma capa da Veja em 1888. Como se a Veja, se existisse então, tivesse sido contra a Lei Áurea.

Ora, façam-me o favor.

Falta um mínimo de inteligência a quem fez essa asneira.

Na verdade, esse tipo de coisa demonstra uma conjunção terrível de fatores. Falta de conhecimento de História, para começar. Falta de inteligência. É algo ginasiano, adolescente, pouco pensado, acurado.

O petralhismo é, antes de tudo, um tiro na memória, na verdade dos fatos, na inteligência.

O petralhismo é uma aposta na imbecilidade.

Errou por soberba. O povo é inteligente, é sábio. Muito mais dos que pensam que são donos deles.

Esse ataque petralha à Veja me fez me definir. Vou renovar minha assinatura.

Novembro de 2011

4 Comentários para “Vou renovar minha assinatura de Veja”

  1. Faz bem Sérgio. Boa leitura. Tenho a minha e renovo semanalmente minha raiva contra o recionarismo das matérias. O que você acha da Piauí? O Victor é um oportunista que como os Mesquitas sugaram a competência de bons profissionais. A Veja foi boa na época do Mino, depois virou a revista da Zelite que se acha bem informada. Pelo jeito somente um milhão de pessoas são inteligentes o resto são os tais “imbecis úteis” a que me refiroe votam nos petralhas.
    A Veja e o PSDB precisam de uma renovada. Enquanto isto não acontece vou lendo diariamente “50anosdetextos” um resumo das piores coisas de OGlobo, Estado e agora Veja.
    Gosto muito quando os textos são seus ou dos colaboradores. Boa madrugada, escuto o mar, e no rádio (adoro rádio) “Cheek to Cheek” piano de Luizinho Eça e o trombonista Astor, e a lua está minguando.

  2. Não é propriamente um problema, Luísa. O fato é que o Partido Republicano é cada vez mais uma força retrógrada, reacionária, a favor dde menos impostos para os muito ricos e de menos asssistência social para os muito pobres. O que ele defende é tudo aquilo que eu acho errado. Só isso.
    Um abraço.
    Sérgio

  3. Talvez eles estejam querendo copiar o modelo brasileiro petista. Uma cacetada de impostos nos pobres e classe média e os ricos (empresários e banqueiros) pendurados na Viúva.

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