Uma CPI sem passado e sem futuro

Odair Cunha nasceu em Piedade, MG, Sul de Minas, formou-se em Direito em Varginha, tem 36 anos e foi eleito deputado federal pelo PT com mais de 160 mil votos.

Assumiu a relatoria da CPI do Cachoeira com toda a pompa e circunstância, com a pose de bom moço disposto a fazer um trabalho integro, neutro, equilibrado, o que lhe permitiria ensaiar os seus primeiros passos de estadista com respeito do público, de seus eleitores e de seus pares.

A CPI foi criada com a finalidade de apurar as ligações de um conhecido contraventor extremamente influente no submundo da política e dos negócios no Estado de Goiás e acusado de suspeita promiscuidade com altas personalidades desse mundo.

O primeiro “strike” foi feito em cima do senador Demóstenes Torres, ex-promotor, que ao longo da carreira política construiu uma fama de defensor da moral e dos bons costumes. Bastaram algumas horas de gravações dos diálogos de Demóstenes com o contraventor para provar que o hierático Catão nao passava de uma espécie de servente e auxiliar de negócios do suspeito bicheiro.

Demóstenes foi o primeiro a desmoronar e ser cassado. E, pelo jeito, o único.

Os outros alvos inconfessos da CPI, como o procurador Roberto Gurgel, o governador de Goiás Marconi Perillo e o jornalista Policarpo Júnior, da Veja, foram colocados no meio da mixórdia do relatório final com mesma finalidade específica com que foram citados no decorrer das supostas “apurações” da CPI: por represália declarada aos que determinados setores do PT consideram responsáveis pela existência do processo do mensalão.

Com exceção de Perillo, contra quem pesam sérias evidências, os demais foram citados por vingança.

O nome de Agnelo Queiroz, governador do DF, e o de Sérgio Cabral, governador do Rio, suspeitos de ligações com a construtora Delta, foram propositalmente esquecidos.

O dono da Delta, Fernando Cavendish, que nem chegou a ser investigado, foi citado mais como figurante do que como protagonista no esboço do relatório final apenas por honra da firma, pois nem chegou a depor.

A reação ao relatório foi tão ruim, mesmo entre aliados, que o relator chegou a adiar a sua divulgação talvez para ver se com isso ganha tempo de costurar alguma coisa que faça sentido.

Por mais tempo que o jovem relator tente ganhar, o texto do relatório não contém nenhum indício de que com ele salvará o seu trabalho ou lhe dará alguma consistência.

A verdade é que toda a CPI foi imprestável, não apurou nada que já nao se soubesse, e não haverá relatório milagroso que consiga salvar o que não tem salvação do começo ao fim.

 Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 23/11/2012.

Um comentário para “Uma CPI sem passado e sem futuro”

  1. O artigo do Sandro Vaia é preciso e esclarecedor. Pelo jeito o relator deixou passar o bonde da históriae não montou n cavalo encilhado.

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