Um ato pró-impunidade

Ficou tudo para o ano que vem. Os mensaleiros não foram presos em 2012 por causa do “trânsito em julgado” e dos “embargos infringentes”.

Tem gente que prefere apostar que não vai acontecer nada com eles, mas é apenas reflexo do velho vício brasileiro da impunidade, que faz com que as pessoas não acreditem nem em sentenças da última instância da Justiça.

Como a prisão ainda não se consumou, não se consumou também a série de manifestações que vinham sendo preparadas – ou se não preparadas pelo menos apregoadas – pelos partidários dos condenados.

A injustiça pretensamente cometida contra o “guerreiro do povo brasileiro”, a judicializaçao da política, mexeu com Lula mexeu comigo, a mídia golpista, futuros embargos contra a condenação – tudo isso entra na grande mixórdia que justifica a permanente ameaça de uma grande manifestação pública contra a condenação dos réus do mensalão.

Se acontecer, será efetivamente a primeira manifestação pública na história deste País declaradamente a favor da impunidade.

Seria uma ironia finíssima da História: no país onde as pessoas passam uma boa parte da vida queixando-se de que a impunidade é um dos grandes males da sociedade, há um movimento para que as pessoas vão às ruas defendê-la.

Só os malabarismos da política partidária são capazes de produzir aberrações como esta.

Voltando ao Jean-François Revel da semana passada, convém lembrar outra de suas frases lapidares: a ideologia é capaz de suspender a noção de realidade e o senso moral das pessoas.

O ex-presidente Fernando Collor, no auge de sua campanha para escapar do impeachment por seu envolvimento com o esquema de corrupção comandado por seu lugar tenente Paulo César Farias, teve a coragem de pedir ao povo que saísse às ruas num determinado domingo, carregando as cores da bandeira nacional.

O povo saiu, mas fez o avesso do que ele pediu, vestiu preto e pediu sua queda.

Collor era um cavaleiro solitário, não tinha uma estrutura partidária atrás de si, como têm os condenados do PT, e muito menos uma ideologia justificadora capaz de transformar o mal em bem.

Por isso, é difícil apostar que a História se repita. A ideologia é capaz de produzir milagres. Certo é que se alguém for pra rua, não será o povo, mas a militância de um partido, praticando seu ato de fé.

Como o ano terminou em paz, com prisões e manifestações adiadas, quem sabe o tempo aja como bom conselheiro e restitua a razão aos militantes, evitando que se materialize o vexame da primeira manifestação pública pró-impunidade que se tem notícia na nossa História.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 28/12/2012. 

Um comentário para “Um ato pró-impunidade”

  1. Nâo há com que se preocupar, ao PT não resta um pingo de ideologia. Não se iluda a oposição, não haverá prisões de condenados pelo mensalão, e não haverá manifestações. Tudo ocorrerá como sempre, num forno de pizza, reduzindo-se ao esquecimento. Nas próximas eleições os “imbecis úteis” votarão obrigatoriamente em nova esperança.

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