Política 1, Energia 0

A campanha eleitoral de 2014 já começou nas contas de luz.

A oposição, que ao que tudo indica vai de Aécio Neves (ainda resta saber que tipo de jogada o governador de Pernambuco Eduardo Campos prepara para esse tabuleiro de xadrez), já sai com a fama de ter impedido a redução de 20% nas contas, que foi a promessa que a presidente Dilma fez ao País.

O discurso já está pronto e já foi espalhado aos quatro ventos: a redução não chegará a 20% porque os estados governados pelo PSDB, São Paulo, Minas e Paraná, nao permitiram que as suas concessionárias, Cesp,Cemig e Copel, reduzissem o preço das tarifas na rodada de renegociação e renovação das concessões.

O governo já mostrou que gosta de brincar de capitalismo como se este fosse uma modalidade de banco imobiliário, e de tanto mudar as regras aqui e ali, instalando a volatilidade e semeando dúvidas sobre a validade das regras e dos contratos, o que conseguiu foi produzir o anti-milagre de aumentar a carga tributária de 33,58% para 35,31% do PIB e diminuir o crescimento para algo próximo de 1%.

A racionalidade econômica vem sendo cada vez mais substituída pelo voluntarismo, como se as regras fossem apenas um capricho que deve curvar-se à vontade política do governo e produzir o milagre intangível do famoso almoço grátis.

Todos devem curvar-se à vontade da rainha. O secretário-executivo de Minas e Energia, Marcelo Zimmerman, saiu com a linda frase de que as companhias elétricas dos três estados “preferiram privilegiar seus acionistas do que favorecer o povo”, como se a função das empresas fosse encher seus acionistas de prejuízos.

É o capitalismo de Branca de Neve e os 7 anões, o que só funciona em fábulas.

É o tipo da demagogia primária que funciona eleitoralmente. A complexidade do tema e a necessidade que as empresas têm de manter a saúde financeira para poder continuar investindo e impedir que o sistema entre em colapso, é um raciocínio complexo demais para chegar ao consumidor.

Antes de baratear as tarifas, barateia-se o raciocínio. Raciocínio barato rende votos.

Todo mundo, sem exceção, acha que o governo, sim, deve baratear as tarifas de energia, que estão entre as mais altas do mundo.

Mas há maneiras e maneiras de fazer. Dois técnicos altamente insuspeitos de anti-governismo, como Luiz Pinguelli Rosa e Ildo Sauer, acham que o governo errou na maneira como conduziu a renovação das concessões e as elétricas de São Paulo, Minas e Paraná, estão certas em resistir à imposição de baixar as tarifas sob risco de afetar a sua saúde econômica e sua capacidade futura de investimento.

Mas o jogo de 2014 começou: política 1, energia 0.

 Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 7/12/2012.

Um comentário para “Política 1, Energia 0”

  1. Muito bom o texto. Boa a análise política dos devaneios demagógicos da presidenta. O Sandro colocou o dedo na ferida, começa o pleito de 2014. As medidas tomadas tem apenas efeito midiático e marqueteiro, de concreto em nada benefícia os “imbecis úteis” obrigados a votar para escolher ente a fome e a míséria.

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