A única informação confirmada é esta: no escritório de advocacia do ex-ministro Nelson Jobim encontraram-se sigilosamente para uma conversa um ex-presidente da República e um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Não sabemos sequer se o dono do escritório participou da conversa, se participou de toda a conversa, se participou de parte da conversa, ou se só serviu cafezinho e frutas aos seus convidados.
Sabemos que da conversa produziu-se um caos.
Para que tais personagens se encontrariam secretamente? Há algumas hipóteses tais como:
• Sentiam saudades um do outro.
• Tinham confidências para trocar.
• Queriam trocar idéias sobre a seleção de Mano Menezes.
Ou nenhuma das anteriores.
Segundo uma versão publicada pela revista Veja e posteriormente confirmada rumorosamente pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, o ex-presidente Lula encaminhou uma conversa esquisita sobre a inconveniência da data do julgamento do mensalão e fez uma disfarçada oferta de blindagem contra supostas acusações que apareceriam contra o ministro da CPI do Cachoeira.
Uma chantagem disfarçada ou apenas uma conversa inconveniente?
No testemunho de Nelson Jobim, essa conversa não existiu. Ou melhor: não existiu nesses termos.
Segundo nota do Instituto Lula, a versão da revista Veja é falsa e provocou “indignação” ao seu patrono que, ao contrário de seus hábitos, calou-se.
Como observou a jornalista Dora Kramer, não se trata de versões conflitantes sobre uma mesma conversa. Há apenas uma versão – a do ministro Gilmar – e duas negativas: a de Lula e a de Nelson Jobim.
Se a conversa não ocorreu nos termos descritos por Gilmar, ocorreu em outros termos, que permanecem misteriosos.
Lula e Jobim não negam que a conversa tenha existido. Negam que tenha sido aquela. Mas não dizem qual foi.
A guerra de versões ganhou a imprensa e as redes sociais e, como sempre acontece nesse tipo de briga, cada uma das torcidas juntou as suas bandeiras, subiu na sua arquibancada, soltou seus rojões, instalou-se no seu canto, gritou suas palavras de ordem e entrincheirou-se em suas certezas pré-estabelecidas, que vivem uma vida independente, alheia à razão e aos fatos.
Ao raciocinar, comparar versões, considerar evidências, avaliar interesses envolvidos, pesar antecedentes e aplicar a lógica elementar, qualquer pessoa que não esteja sentada numa das arquibancadas pode concluir sem grandes sacrifícios qual é a versão que mais se aproxima da verossimilhança.
Não seria a primeira vez que o ex-presidente, em sua declarada obsessão de livrar-se da mancha que persegue a imagem de seu governo como a de um pecado original, é levado a confundir popularidade com inimputabilidade.
Toda vez que o assunto é o mensalão, com seus inevitáveis desdobramentos jurídicos e políticos, a razão republicana e os fundamentos democráticos do ex-presidente sofrem um apagão.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 1º/6/2012.