As coisas acontecem depressa demais. No início da tarde de sábado, 26 de maio, a Veja começou a circular com a informação de que Lula foi ao encontro do ministro Gilmar Mendes para dizer que “é inconveniente julgar esse processo agora” – o processo do mensalão, claro.
Às 12h28, o Blog do Noblat noticiou o fato: “É nitroglicerina pura a reportagem de Rodrigo Rangel e Otávio Cabral publicada na VEJA que começou a circular. Ela conta a história de um encontro entre Lula e Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), no escritório de advocacia do ex-ministro Nelson Jobim. Foi em Brasília no dia 26 de abril último. ‘É inconveniente julgar esse processo agora – disse Lula a Gilmar a propósito do processo do mensalão. São 36 réus – entre eles o ex-ministro José Dirceu, que segundo Lula contou a Gilmar, ‘está desesperado’.
Em texto postado às 16h44, o site do Correio do Brasil, uma espécie assim de Pravda, de Granma do lulo-petismo, apresentava a “versão oficial”: o ministro Gilmar é que teria marcado encontro com Lula – e insinua que o ministro estaria preocupado com o fato de que a CPI poderia investigar um encontro que ele, Gilmar, teria tido com o senador Demóstenes Torres em Berlim. Berlim, a cidade onde mora a filha do ministro!
Com uma rapidez impressionante, e uma imaginação prodigiosa, digna de um Stieg Larsson, o lulo-petralhismo inventou uma versão que inocenta o chefe do chefe da quadrilha do mensalão e põe sob suspeita o ministro Gilmar Mendes.
Os portais do Globo e da Folha repercutiram a reportagem da Veja.
Atrasado, paquidérmico, o estadao.com demorou para entrar no assunto. (Diabo: justo o portal onde trabalhei!) Depois, mal informado, ouviu Nelson Jobim sem saber fazer as perguntas certas e declarou na primeira página que Jobim negava as informações da revista. Os petralhas, que abominam o Estadão desde sempre, de repente passaram a usar o portal do jornal como se ele fosse o dono da verdade.
Às 16h02, o jornalista Jorge Bastos Moreno publicou em seu blog dentro do portal do Globo um texto em que contava uma conversa que acabara de ter com Nelson Jobim.
O Twitter fervia ao longo de toda a tarde, toda a noite.
E aí então Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa publicou um texto brilhante, no Blog do Noblat, botando os pingos em um grande monte de is.
Minha admiração por Maria Helena, que já era enorme, subiu algumas oitavas.
Como ela, generosamente, já havia anteriormente me autorizado a republicar seus textos aqui, não tive dúvidas: republiquei.
Não dá para saber, é claro, as consequências desse episódio todo, o fato de o ex-presidente da República, em sua insanidade, em seu cinismo, em sua cara de pau, em sua doença psiquiátrica de se achar acima de qualquer bem ou qualquer mal, ter ido pressionar um dos ministros do Supremo para que o mensalão seja votado.
Para mim, uma das consequências do episódio todo foi que cresceu ainda mais minha admiração por Maria Helena.
Este país está no fundo do poço, após nove anos de lulo-petralhismo, e ainda temos no mínimo mais três pela frente – isso se eles não ficarem muito mais, dada a impressionante incompetência dos partidos de oposição.
Mas tem as vozes discordantes. Tem, por exemplo, no Twitter, amp5, outraideia, mpvelloso, nortonlimajr, veraluciadutra, mbriamonte, roneymau, radiorockpuro, ihamma, celecarba, mvdsister – e mil perdões por não mencionar tantos outros.
Mas tem Maria Helena.
Um país que tem Maria Helena não pode estar totalmente perdido.
27 de maio de 2012, 1h03