Maria José da Silva

1 – Desassossego

Na sala de espera do Juizado Especial de Pequenas Causas do Fórum Distrital do Santo Amaro, Maria José da Silva era a única mulher. Ouviu seu nome. Para ter certeza olhou para os lados, viu-se única, sorriu, levantou-se confiante e após os cumprimentos começou a falar ao sorridente advogado acomodado atrás de uma escrivaninha.

– Sabe senhor seu doutor “adevogado”, tô cansada do desassossego de ter que justificar que eu sou eu e não outra quando me chamam pelo meu nome. Olha, outro dia fui no posto de saúde consultar com o médico, porque estou com “estopenia no femu”(1); tô com dor nos quarto e as perna dói muito e quase não consigo andar direito, por causa da idade, sabe, seu doutor adevogado. Então, quando me chamaram, outras cinco mulheres se levantaram e foram pro guichê. Era tudo Maria José da Silva. Ninguém era parente, mas era tudo Maria José da Silva. Eu tô escolada com essa confusão que se faz por causa de nome igual. Acontece que tô ficando velha e não tenho mais paciência de ficar esperando que decidam qual a Maria José da Silva vai ser atendida. Sabe, quando eu era moça até dava risada dessas coisas. Mas agora que tô passada nos anos me aborreço, porque é um tal de Maria José da Silva prá cá; Maria José da Silva pra lá. Não gosto mais disso não.

– Inicialmente, dona Maria José, temos de…

– …da Silva, corrige ela, Maria José da Silva.

… mas sim, claro, dona Maria José da Silva. Vamos superar esta situação rapidamente. Em primeiro lugar, precisamos fazer um pedido ao juiz titular… Parou, coçou o queixo e perguntou:

— Dona Maria José da Silva o que é mesmo que a senhora quer ?

— Senhor seu doutor adevogado, eu quero fazer um fordúncio tão grande que até o Lula vai ficar sabendo.

— Como assim?!?!

— Assim, senhor seu doutor adevogado: o que eu quero é que se proíba qualquer outra pessoa de se chamar Maria José da Silva, filha de Maria da Silva e pai desconhecido, até que eu tenha ido para junto de Nosso Senhor Jesus Cristo, Nosso Pai, (persignando-se ao citar o Filho de Deus).

Maria José da Silva explica a razão do desassossego vivido no posto de saúde ao Doutor José Francisco: “Sabe, senhor seu doutor adevogado, foi assim que aconteceu No posto de saúde lá do Santo Amaro, a atendente chamou do guichê o nome Maria José da Silva. Na hora, eu e mais cinco mulheres se aproximam do guichê. Ela olhou pra nós e chamou de novo: Maria José da Silva, filha de Maria da Silva. Sobramos três. De novo: Maria José da Silva, filha de Maria da Silva e José da Silva. Das três sobrou uma, que não era eu. Ela foi encaminhada pro médico. Foi aí que pensei “Preciso dar um jeito nisso vou ao Juiz, ao delegado, vou falar com o Lula, com quem for, mas vou acabar com essa chateação”.

Enquanto Maria José da Silva esperava sua vez a atendente explica:

— O doutor vai atender esta senhora, e em seguida vamos resolver o problema de vocês.

A atendente tem tempo para pensar, enquanto uma nova paciente não é chamada. Tenta imaginar uma forma de acabar com a homonímia: “acho que elas deveriam ir ao juiz e pedir pra mudar de nome. Assim ficaria mais fácil pra todo mundo”. Naquele exato momento, os pensamentos de Maria José da Silva e da atendente se cruzam no espaço.

Dizem que se duas pessoas estão próximas e pensam a mesma coisa, é muito provável que o que estejam pensando se realize. Dizem…

2 – José Francisco

Aliás, Doutor José Francisco com OAB e Doutor de capinha vermelha. Sua tese de doutorado defendida no Salão Nobre da Universidade do Santo Amaro, intitulada “O direito de ir e vir após a promulgação da Constituição Federal de 1988: um estudo de caso” recebeu grau 10, louvor e distinção e o reconhecido sucesso entre os pares do Fórum Distrital do Santo Amaro – SP. Tanto é que o “Grupo de Estudos Jurídicos Umberto Noevis Oldires” (GEJUNO), do qual o Doutor José Francisco era partícipe, reuniu-se após a defesa da tese, aprovou a proposta de um dos netos do patrono de imprimir o arrazoado; mandou para a gráfica os originais, com o devido “imprimatur” corroborado pelos cinco membros do Conselho Consultivo.

O livro de 158 páginas, das quais 90 eram de citações de pé-de-página, teve digna recepção na noite de autógrafos. A banca examinadora, especialmente convidada, entre um gole e outro de espumante, salpicava elogios às passagens “mais veementes” na defesa do direito de ir e vir dos cidadãos, especialmente quando o caso estudado tornou-se conhecido como “uma tresloucada ação policial”.

O Doutor José Francisco tornou-se uma celebridade instantânea. Nos agradecimentos de praxe foi enfático e aplaudido: “No momento em que um cidadão é impedido de ir e vir, qualquer que seja o motivo, a nossa Constituição, a nossa Carta Magna, o nosso Ideário Democrático, está sendo violentado! E isso não podemos permitir”.

Ele deu duas entrevistas à mídia. Uma ao Notícias do Santo Amaro, publicada em meia página com foto, e outra para a TVéqVocêvê, a emissora comunitária local de baixíssimo orçamento. Tal entrevista rendeu-lhe um convite para fazer um programa de 15 minutos por semana, onde poderia responder aos espectadores mais perguntas sobre seus direitos do que sobre seus deveres.

Salustiano Ferreira foi o autor do convite. Era o sócio majoritário, corretor de anúncios e eventual programador da emissora. Ele mesmo espalhou uma lenda urbana que o identificava com distante parentesco de Virgolino Ferreira. E assim, passou a ser mais temido do que respeitado.

Ao terminar a entrevista, fez o convite: “você sabe onde é, não? então passe por lá na quinta-feira, depois das quatro da tarde. Vamos ver o que você poderá fazer pelo povo do Santo Amaro”.

 3 – Campeão de audiência

A TVéqVoceve a pesar de ser quase artesanal, tinha audiência qualificada. Noticiava enfaticamente tudo o que era produzido na Delegacia de Polícia. Edelmiro Barros era âncora, programador, cabo-man discotecário, mixer, editor de clipes capturados no Youtube e, sobretudo, homem de confiança de Salustiano. As histórias dos crimes cometidos no Santo Amaro eram o prato principal. Não que fossem muitos, mas qualquer coisinha fora da normalidade virava um assuntão. Outro programa que dava uma audiência razoável começava às cinco e meia da tarde, exibindo clipes de música brasileira, em especial aqueles que faziam lembrar os “bons tempos do Norte e do Nordeste”. Assim, ouvia-se/via-se muito Jackson do Pandeiro e Almira Castilho, Venâncio e Corumba, o resfolego de Luiz Gonzaga e no seu arrasto o Gonzaguinha. Havia também um arremedo de cozinha, na qual Dona Eudora fazia esforços quase inúteis para ensinar pratos sofisiticados, como estrogonofe de frango, acém assado com pedacinhos de beicon, entre outras delícias.

Mas, o campeão de audiência acontecia às duas da manhã, quando as sombras da noite caiam sobre os lares, as famílias já repousavam para novo dia de labuta. Neste horário, quando Salustiano e Edelmiro tinham certeza de que a molecada já tinha ido pra cama eram apresentadas as gravações sensuais feitas no dia anterior, no “estúdio B”, com alguma beldade da região.

Edelmiro conhecia o gosto popular para beldades. Às vezes perambulava pelo bairro à caça. Batia o olho e com uma rápida conversa combinava: deveria estar na emissora às três da tarde, maquiada, penteada, sem calcinhas, “para não aparecerem marcas na pele”.

Nas gravações as belas usavam sugestivos nomes fictícios “para não serem reconhecidas nas ruas”. Mas o pulo do gato do Edelmiro foi descoberto. A molecada e alguns marmanjos ficavam de olho no movimento da porta de entrada da emissora todos os dias pouco antes das três da tarde.

A gravação era no estúdio B, instalado na lavanderia junto ao quatro de empregada da casa cedida graciosamente (Imobiliária Seu Sonho) à emissora. A câmera montada em tripé tinha à frente uma espécie de biombo de véus (O Mundo dos Tecidos) chacoalhados com um ventilador (Estilo Eletrodomésticos). Numa das primeiras gravações vespertinas, o diáfano véu desprendeu-se “acidentalmente” e babau identidade da opulenta e desejada Sheila Arielsa.

Justamente no memorável dia de estréia do Doutor José Francisco o barraco se instalou logo pela manhã. Sheila Arielsa estava furiosa. Edelmiro tentou explicar que “não deu para parar de gravar, porque se parasse, o Dentel iria suspender a emissora”.

— Porra nenhuma, agitou-se Sheila Arielsa, balançando a cabeleira loura platinada e raízes negras, eu não quero saber de Dentel. Não quero saber de nada. Quero uma indenização porque vocês mostraram a minha bunda na TV sem a minha autorização. Desde que saí de casa só ouço convite pra fazer saliência com os vagabundos me chamando de gostosa.

A unha vermelha descascada pelas atividades domésticas aponta para a palma da mão: “Quero mil real aqui na minha mão. Agora!”, enfatizou.

A molecada e os camelôs do Largo da Matriz divertiam-se com a enrascada de Edelmiro que a custo de muita negociação minimizou o incidente. Perto de quatro da tarde, Sheila Arielsa já quase sem voz de tanto berrar pelos “mil real” baixou o valor da indenização para “cem real”, imediatamente conseguidos juntos a um dos apoiadores culturais da TVéqVoceve (Ótica Vejabem), cujo dono vivia de amores pela celebridade do dia.

Tudo resolvido, só que perceberam a chegada de um carro esquisito, blindado (“segurança pessoal é indispensável”, explicou-se mais tarde o Doutor José Francisco) e de seu interior saiu o doutor José Francisco, já pronto para seu programa inaugural na TVéqVoceve: “O Doutor José Francisco Responde”, título objeto de sérias considerações durante vários dias.

“O Doutor José Francisco explica tudo”… Não, não serve. Como vou explicar que o Santo Amaro – Clube de Futebol, ainda não está classificado para a terceira divisão da Federação Paulista de Futebol se ganha poucas, empata muitas e perde a maioria das partidas? Imaginou diversas fórmulas. Pensou, analisou vertentes semânticas, pesquisou na internet… pensou, pensou até que encontrou o que pretendia: “O Doutor José Francisco Responde”. Sim. Aí está uma nova forma de se apresentar à comunidade do Santo Amaro, angariar mais clientes para seu escritório de advocacia, intermediações e tudo o mais que precisasse de um expert em Leis.

Enterrado nessas preocupações, ele esqueceu o principal: qual o assunto a abordar no primeiro programa? No dia da estréia, o Doutor tremeu. Engoliu em seco, subiu as escadas da emissora e apresentou-se ao homem de cabeça baixa atrás de uma mesa de tampo descorado.

— Sou o Doutor…

Um sorriso muito franco e amigo precedeu a exclamação:

— Zé Chico, meu chapa! saudou-o Edelmiro.

— Pois é, vou fazer um programa aqui na TV…

— Sei. O Salustiano me falou que um adevogado viria hoje pra gravar um esquete de 15 minutos, como teste, só pra saber se o cara tinha mesmo alguma coisa pra falar. Mas não sabia que era você. Em casa tá tudo em ordem?

— Sim, bem, obrigado, claro, tudo em ordem. Mas é o seguinte Edelmiro, eu tenho tudo planejado mas nunca entrei num estúdio de TV. Não tenho prática nenhuma.

Nunca fora tão aberto com quem quer que seja, desde sua formatura. Mas com Edelmiro foi diferente, quase suplicante: você me ajuda?

— Mas é claro, Zé…

— Edelmiro, outra coisa, não me chame mais de Zé Chico, isso passou, agora sou Doutor José Francisco, mesmo para amigos íntimos como você. Sabe como é?! Zé Chico pega mal. Sou o Zé Chico desde que estejamos só nós dois.

— Sem crise, Zé. Quer dizer, Doutor José Francisco.

Acordo selado com um abraço e entraram no estúdio A. Na verdade, o quarto ao lado da sala, parede com a cozinha de Dona Eudora. O terno preto e a gravata vermelha sobre o fundo azul brilhavam sob a luz intensa e sobressaiam na tela do monitor. Doutor José Francisco suava em bicas, excitado pela novidade. O colarinho da camisa azul bebê apresentava as primeiras manchas. Quando ouviu o “gravando”, do nada, surgiu o Zé Chico.

— Porra, Cabeça. Não me assusta desse jeito. Como é que funciona essa porra??

Cabeça era o mirrado moleque companheiro de todas as horas de Zé Chico nas fugas para tomar banho na lagoa, para botar sal no rabo dos bois que ficavam atolados no caminho do matadouro para ouvi-los mugir desesperadamente, dos cigarros fumados escondidos… Todos pobres, muito pobres, como a maioria das crianças do Santo Amaro, mas riquíssimos em alegrias, travessuras e surras das mães quando bolavam aulas.

— Calma, Zé. Primeiro você olha fixo pra a lente da câmera e imagina que aqui atrás tem um milhão e meio de pessoas esperando um conselho para melhorar a vida deles. É assim, porra! E não se esquece que nem todos entendem o que um adevogado fala. Usa o popular mas não abusa. Entendeu, porra!?

Piorou. Só de pensar que milhares de olhos poderiam descobrir suas fraquezas e medos, Zé Chico desmoronou. Por uns segundos. “Um milhão e meio de pessoas… 20%, 300 mil… Ah! Cacete! Tô eleito vereador pelo Santo Amaro”. Lembrou-se das últimas palavras de Edelmiro: “Usa o popular mas não abusa”.

Pigarreou, ajeitou a gravata e falou:

— Cabeça, começa a gravar.

“O Doutor José Francisco Responde” foi um sucesso eletrônico midiático imediato. Choveu cartas de difícil leitura e decifração complicada. Sheila Arielsa ganhou três vestidos (Modas Jurema) “não pode repetir roupa, né?” e um contrato de 100 reais por programa. Ganhou, também, um complicado retoque artístico nas raízes escuras, autoria de Genivlado (Geni, para os íntimos), no “Estúdio Coafer Elton Mercury”, uma forma de homenagear seus maiores ícones internacionais. Um intensivo curso de dicção ensinou Sheila Arielsa que em Português não existem as palavras “pograma”, “pobrema” e previlégio.

O Zé Chico emergia especialmente ao usar o termo “registro”. Por mais que ouvisse o “Curso Rápido Destrava Língua”, da renomada fonoaudióloga Glória Betenbauer, o termo denunciava-lhe a origem humilde. Pronunciava com sotaque nordestino, como aprendera ainda criança: “rezistro”.

Dois meses depois da estréia o programa começava a dar sinais de cansaço a seu criador. A audiência era razoável, e a correspondência corriqueira. Nada de emocionante. “O Doutor José Francisco Responde” não funcionava como ele pretendia. Não havia impacto, não havia emoção nas demandas do povão. Ele via seus planos sociopolíticos emperrados por falta de sensação.

 4 – Sinfonia eletrododecafônica

Por diversas vezes ele tentou tirar da cabeça de Maria José da Silva o desejo de ser a única a usar esse nome.

— Podemos pedir uma retificação do seu rezistro (sic) de nascimento, mudando o seu pré-nome Por exemplo, a senhora poderia chamar-se Belmira, Efigênia, Clotilde, Edelvais. Por exemplo, podemos pedir a inclusão do nome do seu pai. Ficaria assim: Maria José da Silva e Silva. Bonito, não ?

— Quero nada disso, não. Quem é que vai me conhecer por Efigênia Maria da Silva ou Maria José da Silva e Silva? Como é que eu vou tratar da minha estopenia no femu, sem os documentos que sempre entreguei no Posto. Como é que vou receber o Bolsa Família. Com esses nome que ninguém nem sabe que sou eu. Senhor seu dotor adevogado, eu quero ser eu mesmo. Só eu no mundo.

— Mas… Mas…

— Não tem mais mais, eu quero ser eu mesma. Só eu no mundo.

Foi num churrasco de fim de semana que o Doutor José Francisco teve um estalo. “Vou levar o caso de Maria José da Silva para a televisão”.

Naquela quinta-feira o Doutor José Francisco empostou a voz, esquecendo-se completamente do conselho do Cabeça: “vai no popular”.

— Amigos do Santo Amaro, trago hoje a vocês um caso que está repercutindo intensa e vivamente nos corredores do Fórum Distrital do Santo Amaro onde, vocês sabem, ganho o meu pão de cada dia. A partir de hoje, não só as elites, mas o povo sofrido do Santo Amaro vai conhecer de um dos casos mais escabrosos; um dos casos que inflingiu (sic) sofrimentos a uma mulher pobre; um dos casos que, com certeza absoluta vai envolver emocionalmente e causar revolta a todos os nossos espectadores.

Edelmiro não entendia nada, tantas eram as novidades. O rosto grave do Zé Chico adequava-se à voz e se tornava mais circunspecto. Ao fundo ouvia-se a sinfonia eletrododecafônica, ainda sem título definitivo, especialmente criada no dia anterior pelo self-made-man DJ Patureba, virtuose compositor eletroeletrônico, também amigo de infância de Cabeça e Zé Chico.

— Trata-se da ação civil que dona Maria José da Silva, dona de casa – não lhe declaro a idade por elegância – solicita por nosso modesto intermédio a proibição do uso do nome próprio Maria José da Silva por qualquer outra pessoa em todo o território nacional até que lhe sobrevenha seu último suspiro e entregue sua imaculada alma a Nosso Senhor Jesus Cristo (persignou-se).

— Meus amigos, a simplicidade do próprio aposto por sua genitora – que Deus a tenha (olhando para o alto do estúdio) – desvenda o caráter daquela mulher que, ao se ver prenhe e abandonada por um vagabundo galanteador de nome José da Silva, passou a viver exclusivamente para a alimentação e a educação de sua ainda não-nata (sic) filha.

— Prezadíssimos amigos, a ação judicial que Maria José da Silva impetra, por nosso modesto intermédio, tem o escopo – (pigarro) desculpem-me – tem o objetivo de encerrar de forma definitiva os momentos de tormento vividos por dona Maria José da Silva. Ela passou a vida obrigada a se justificar, ao lado de tantas e tantas outras Maria José da Silva, quando seu nome era chamado. Nenhuma vez em que esteve a procura de serviços públicos foi atendida na primeira chamada, pois sempre havia uma ou mais Maria José da Silva. Dificilmente aparecia um item que a diferenciasse das demais Maria José da Silva. Seu “rezistro”(sic) apontava com pai “Desconhecido”, porque Maria da Silva, sua “abenegada”(sic) mãe, não sabia nada do safado que a emprenhou na juventude. Houve ocasião que encontrou outra Maria José da Silva nascida no mesmo dia, na mesma Casa da Mãe Solteira, também filha de pai desconhecido.

 5 – Como sobe, desce

A sinfonia eletrododecafônica do DJ Patureba aguçou o instinto comercial de Salustiano Ferreira. Começou a estudar a ampliação de seus horizontes comerciais para além do Santo Amaro, já que “O Doutor José Francisco Responde” elevou diversas vezes so índices de audiência da emissora. Sua sensibilidade lhe dizia que em pouco tempo estaria rico com tanto anunciante na porta da emissora. Um dia ele foi fazer sua pesquisa de audiência e percebeu que a emissora bombava na periferia do Santo Amaro no horário das 17 horas, superando o J L da Trena, os bispos da Universanteve e até mesmo a novelinha Molecação, da poderosa emissora Azul.

O que não estava previsto, tanto nos planos de Maria José da Silva e do Doutor José Francisco, era a reação das espectadoras que viviam no Santo Amaro: as demais Maria José da Silva. Os protestos começaram já no final do primeiro programa. Tímidos no início, mas com o tempo foram se tornando mais intensos, até que cerca de 50 mulheres e crianças passaram a fazer vigília na porta da emissora às quintas-feiras.

No primeiro dia Edelmiro atendeu as quatro mulheres que foram falar sobre o programa. No entanto, a ficha só caiu quando ouviu a reclamação de que todas as mulheres deveriam mudar de nome para beneficiar uma única pessoa no País.

– Cacete! O Zé Chico se meteu numa confusão sem tamanho.

Sim, uma confusão sem tamanho porque, enquanto a matéria se ateve às dependências do Fórum Distrital do Santo Amaro, o absurdo patrocinado pelo Doutor José Francisco na televisão já fazia vítimas. Sheila Arielsa passou a ser apontada nas ruas pelas Maria José da Silva: “Essa daí é a bisca que trabalha na televisão do Salustiano.” Mulher de pouca paciência Sheila Arielsa, retrucava com sonoros e conhecidos palavrões acompanhados de gestos obscenos. Ela reclamou com Edelmiro, com Salustiano e encontrou coragem para falar ao Doutor.

— Olhaqui, doutor, se a coisa continuar pesada do jeito que está, eu tô fora.

Nem a chuva forte que caia fez com que um grupo de Maria José da Silva tentasse falar com o Doutor José Francisco. Ao chegar perto, Zé Chico emergiu:

— Não me encham o saco suas mal amadas. Sheila Arielsa, se você quiser ir embora, vai. Se quiser ficar, fica. Mas não me encha o saco, você também.

A baderna corria na porta da emissora. Zé Chico foi para o estúdio, sentou-se na poltrona (Móveis Salim) lembrando-se da besteira quando aceitou patrocinar Maria José da Silva. Zé Chico e o Doutor José Francisco tinham o olho maior que a órbita e ambos sucumbiram. Cruzou a pernas e começou a criar estratégias para se livrar do abacaxi.

1 Podia abandonar a ação, deixando caducar prazos e o julgamento à revelia eliminaria a possibilidade de Sua Excelência dar-lhe ganho de causa.

2 Pediria a um dos antigos amigos de molecagens para desaparecer com Maria José da Silva por uns bons 20 dias.

3 – Imaginou-se numa praia do Nordeste, torrando ao sol enquanto Maria José da Silva também torrava, mas o saco do juiz.

Estes pensamentos passaram ao limbo quando um oficial de justiça socou a porta do escritório do Doutor José Francisco. Ele levantou a cabeça. “Entra Giba. O que foi desta vez?”.

— Nada, Zé Chico, só vim avisar que a ação da Maria José da Silva foi arquivada. Acho bom você nem ler os argumentos do Juiz, depois que passaram para ele um vídeo com o seu programa na TVéqVoceve. Para resumir, ele achou que você era de uma estupidez imensurável. Um imbecil que extrapolou o bom-senso. E finalizou: é uma besta.

 

(1) Osteopenia no fêmur.

(*) José Guido Fré é jornalista.

 

Um comentário para “Maria José da Silva”

  1. Com tantas Maria José da Silva Sobrando e eu estou procurando a Maria José da Silva nascida em Cristinápolis -se. que foi a S.P. a 36 anos deixando uma filha com nome de Andrea Silva Dias com a sogra com nome de D.nene, escreveu uma carta com o end. de trabalho a Rua D. Veridiana, 484 apt. 12-B CEP 01238-Santa Cecilia, disse que tinha outra filha com nome de Jussara, apelido de sarinha, sua filha Andrea Silva Dias estar a Sua procura em todo este tempo, por favor me ajudem a encontrar minha mãe telefone de meu mario Mota 079-99630628. podem ligar a cobrar.

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