Eu não sou Carolina Dickmann

Eu não sou Carolina Dickmann, mas também fui vítima de vilania na internet. Não pensem vocês que tirei fotos íntimas, quem sabe pelado como nasci, as guardei no computador e algum bandido as roubou e contrabandeou para o mundo digital. Minhas autoestima e autocrítica ririam de mim e não sou louco o bastante para cometer tal disparate.

Não pertenço a nenhuma rede social e aqui, publicamente, me desculpo com os inúmeros amigos que me convidam para participar das várias modalidades de compartilhamento. Deleto, sem pensar, esses apelos. Meu tempo é escasso e não me arrisco a me perder no emaranhado de mensagens e comunicados que, certamente, me afogariam. Confesso que nem mesmo para a rede, que poderia balançar meus sonhos e pensamentos, eu consigo me entregar.

Dito isso, eu que vivo calmo em meu canto, sem querer perturbar ninguém, sou informado que existe, no Facebook, um perfil em meu nome como se meu fosse. Lá, em meio a fotos atuais e antigas, até mesmo de minha família, alguém se passa por mim e dispara comentários em resposta aos iludidos que julgam conversar comigo. As pessoas me ligam para dizer que estão ligadas em meu Facebook. Outros comentam crônicas que escrevo para este jornal. Não imagino que opiniões este(a) facínora expressa como se minhas fossem.

Tão grave quanto as fotos contrabandeadas do computador da bela atriz, e mais até arrisco a dizer, é essa nudez que me é imposta por esse mecanismo que aceita qualquer um sem se cuidar de identificar seus assinantes. É um estupro moral o que sinto.

Passo minha vida inteira trabalhando, escrevendo canções e similares, lendo e pensando, inquirindo o mundo e os seres que me cercam, mantendo uma postura privada e pública de respeito, e eis-me irresponsavelmente agredido por um(a) farsante, que se apropria de minha identidade e sai por aí distribuindo o que é seu como se meu fosse.

Como no mundo, e no Facebook, existe mais gente decente e honesta do que canalhas, muitos se prontificaram a exigir da rede que cancelasse o perfil desonesto. Parece, me disseram, que isso já foi feito. Mas o que faço agora? Retiro, por exemplo, do museu do clube da esquina, minhas fotos ( certamente dali é que elas vieram)? Contrato um advogado para tentar identificar o criminoso? Terei que, obrigatoriamente, construir um sítio verdadeiro para combater as inverdades?

O certo é que a internet, com seu jeito caótico, é campo aberto para se edificar relacionamentos repletos de beleza e humanidade. Mas é também, infelizmente, esse território em que não se respeita a civilidade, os direitos humanos, os criadores artísticos, os homens e as mulheres de bem.

Eu não a conheço, apenas a vejo, mas tenho certeza que Carolina Dieckmann, assim como eu, deve estar pê da vida.

Esta cronica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em maio de 2012.

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