Em Portugal

Em Portugal me sinto em casa. Não é só a língua comum, mas o ambiente, as pessoas. Até comemoro com eles os gols de sua seleção: “purtugal”. Do mesmo jeito que já fui consolado nas ruas depois da derrotas de 82 e abraçado após nossas vitórias. O fato que vou contar envolve o querido e saudoso José Aparecido, o Zé inesquecível amigo de todos.

Em uma das vezes que estive em Lisboa, o Zé, nosso embaixador em terras lusitanas, me levou a um bar excepcional. Fim de tarde, mesas lotadas de gente alegre, fui apresentado a uma infinidade de portugueses simpáticos. A cerveja era ótima e havia um tira-gosto , um prato com camarões médios fritos, que aguçava o paladar de todos e ficou na lembrança de meu paladar. Consumimos muitos pratos daquela delícia. Êta noite boa, êta clima de festa da vida.

Quando voltei ao Brasil, disse ao meu amigo Hildebrando Pontes que o Zé tinha me apresentado ao melhor bar do mundo. As circunstâncias desse primeiro encontro com aquela maravilha lisboeta – não anotei o nome do lugar e fomos de carro em plena escuridão da noite iniciada – fizeram com que eu não tivesse referência alguma sobre o local do estabelecimento.

Algumas vezes voltei à cidade, mas nunca pude, por falta de detalhes além de minha admiração por aquele bar, localizá-lo. E o Zé já nos deixara. Conheci a Cervejaria Trindade, beleza de casa de comida e, principalmente, cerveja. Não era a mesma coisa. Amigos me indicaram restaurantes em vários bairros. Frequento, quando ando por lá, o Solar do Presunto e o Gambrinos, os dois na mesma rua do Teatro Coliseu.

Tudo muito bom, mas nada do meu bar inesquecível. Pensei que ele talvez fechara, o que não combinava com um lugar tão tradicional. Ele permaneceu num fundo de gaveta da memória.

Estive recentemente do lado de lá do Atlântico. Por coincidência me encontrei com o Hildebrando que, com Lucas Mendes e Ricardo Gontijo, comemoravam a amizade antiga. No feriado de Santo Antônio, 13 de junho, vários restaurante estavam com as portas cerradas. Jussara Silveira, cantora e amiga, que está passando uma temporada em Portugal, resolveu nos conduzir a local que alguém lhe indicara. Fomos andando pela cidade, buscando informações e chegamos em frente ao bairro da Mouraria. Andamos um bom pedaço de chão antes de chegarmos ao local, o Ramiro. Fila na porta, pais com os filhos, afinal era feriado. Jussara conseguiu um lugar no segundo andar. Quando subi a escada não reparei, devido à ansiedade de chegar à mesa, no ” meio-ambiente” ( não é assim que se fala?) do primeiro. Escolhi um vinho de Évora e um pratinho de camarões, tudo muito bom, garçons finos e comunicativos. Fomos embora de táxi, satisfeitos.

Acordei no meio da noite, vi e senti o que me acontecera. Depois de anos, sem perceber eu encontrara o meu bar, o Ramiro, na Avenida Almirante Reis número 1. Felicidade: viajei no dia seguinte pela manhã com a certeza de que quero voltar lá.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em junho de 2012.

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